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Encontro com a Artista destaca a dança como lugar poético e educativo

Evento promoveu uma conversa com a dançarina Ana Cláudia Viana

Publicada em 06/11/2020 Atualizada há 1 ano

Ad infinitum. Foi com a apresentação desse espetáculo, encenado pela dançarina Ana Cláudia Viana e pelo músico Irapuan Junior, que teve início a terceira edição do Encontro com a Artista no Campus Canguaretama do IFRN. Ana Cláudia foi a convidada desta edição. O evento aconteceu de forma on-line, na tarde desta quinta-feira (5), promovido pelo Núcleo de Arte (Nuarte) e apoio do Observatório da Diversidade, grupo de pesquisa instituído no Campus.

Além de estudantes dos cursos técnicos integrados, o público, formado por cerca de 300 pessoas, contou com pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional do IFRN (PPGEP), servidores do IFPA e outros admiradores. A abertura foi realizada pelo diretor-geral do Campus Canguaretama, professor Flávio Ferreira, que destacou a “importância da ocasião e de tudo que essa linguagem oferece para a percepção da vida”.

A conversa foi mediada pelo professor Avelino Neto, um dos coordenadores do Observatório da Diversidade, e abordou o processo de criação do espetáculo e da pessoa Ana Cláudia como artista. Para ela, a dança se constrói enquanto lugar poético e educativo, relação que faz com a sua própria vida e com o espetáculo apresentado. Ana Cláudia Viana tem uma trajetória de destaque nas artes natalenses. Além de dançarina, ela é professora e pesquisadora da educação, tendo gerenciado o espaço cultural Casa da Ribeira por seis anos. Ela iniciou sua carreira profissional como dançarina na Gaya Dança Contemporânea, companhia que se desenvolveu a partir do primeiro grupo de dança da UFRN. Hoje, administra o Espaço A3, no bairro da Ribeira, em Natal, e dedicado á dança contemporânea.

De acordo com Ana Cláudia, a dança foi se revelando enquanto espaço de criação e de produção da sua própria vida. Natural do Ceará, da cidade de Itatipoca, ela chegou em Natal adolescente e lembra que os seus primeiros contatos com essa linguagem artística foram com as quadrilhas de São João. “Eu gostava de dançar no fundo da sala de aula. Um dia uma professora, que era freira, veio me dizer: 'eu queria que você desfilasse' [desfile de 7 de setembro]. Eu respondi: 'com que faixa?'. Ela respondeu: 'de mini bailarina'. Eu perguntei por quê. E ela me respondeu: 'porque você vive dançando'. Eu comecei a dançar de forma mais sistemática aos 20 anos, mas a religiosa profetizou. Ali, a maneira de um ser ser no mundo já se manifestava. E ali alguém já conseguia com ele conversar”, explica Ana Cláudia.

Cruzando as trajetórias, a artista passou a falar sobre o Ad Infinitum: um espetáculo sobre a vida. Segundo ela, a ideia surgiu do francês e arquiteto Mathieu Duvignaud, diretor da produção. "Ele chegou e me disse: 'eu tenho muita raiva da dança contemporânea. Porque vocês ficam vasculhando uma cena vazia e a gente não entende o que estão querendo dizer. Eu quero que você trabalhe um dançarino porque eu quero dirigir um espetáculo que minha filha de quatro anos entenda'. Então eu respondi: 'eu vou dançar'".

Ana Cláudia explica que o processo de criação durou 10 meses. Além dela, o músico Irapuan Junior participou do trabalho. A pesquisadora explica que esse tempo foi o período de criação do espetáculo, formado por construções e desconstruções, e também de preparação dos corpos para a dança. O espetáculo fala sobre as fases de uma vida, marcada sempre por nascimento, encontros, formas de vivenciar o corpo e a morte. "As cenas e as músicas eram feitas e refeitas. [...] Mathieu escolheu trabalhar entre o abstrato e o narrativo. Algo que deixasse as pessoas sossegadas e desassossegadas", complementa.

Perguntada sobre o corpo e as imagens presentes na obra, Ana Cláudia lembrou que nosso corpo também é formado pelo corpo do outro. Nesse sentido, ela destacou que o Ad Infinitum não é a representação de um mundo, mas sim um mundo vivido, pelo diretor e pelos artistas. As imagens presentes na obra, de acordo com ela, são as imagens presentes no mundo, trazendo novas perspectivas para quem sente o que está sendo apresentado.

O professor Avelino aproveitou para falar sobre uma dúvida constante dos estudantes em relação ao que uma peça artística representa. O mediador destacou que é necessário e possível se educar para sentir: "pensar no que a obra diz sobre você mesmo, o seu próprio mundo", o invés de tentar descobrir o que o artista quis dizer.

Para encerrar, ao responder uma das perguntas do público, a dançarina falou sobre os desafios da vida de artista. Ela destacou as dificuldades para viver financeiramente da arte. Outro desafio, para Ana Cláudia, é o processo de criação, que não tem um manual para seguir, como também o momento de encarar o público, já que não sabe como será a reação. "Mas o maior desafio mesmo é se entender como artista. Essa construção é muito da percepção de você no mundo. Às vezes você só vai saber muito tempo depois", frisou.

O evento foi encerrado com os agradecimentos da dançarina e do professor Avelino a todos os apoiadores e às professoras do Campus Canguaretama Magda Diniz e Creusa Leliz. Elas são responsáveis pelo projeto "Crônicas do corpo", que motiva estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio a elaborarem crônicas sobre o corpo e o existir.

Confira na íntegra:

III Encontro com a Artista - IFRN Campus Canguaretama

 

Palavras-chave:
extensao

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