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Projeto de Pesquisa

A trajetória criminosa de João Rodrigues Baracho na Natal da década de 1960.

Concluido

No início da década de 1960, Natal possuía uma população de aproximadamente 165.000 habitantes. Dividida em aproximadamente 11 bairros, um deles chamava atenção, desde pelo menos a segunda metade da década de 1940: o bairro do Carrasco. Com um nome nada sugestivo, foi ali que ocorreu no início dos anos sessenta um dos mais emblemáticos casos policiais de que se tem notícia em Natal. Um dos criminosos mais famosos do imaginário natalense é João Rodrigues Baracho, morador do Carrasco. De tão famoso, suas façanhas ultrapassaram sua existência física, ao ponto de lhe serem atribuídos vários crimes mesmo após a sua morte por fuzilamento no mesmo bairro que residia, em 1962. Aos seus carrascos, lhes restou conviver com a assombração, passando a ver o fantasma de Baracho, indício confirmado por seus vizinhos, os quais passaram a conviver com o mesmo fantasma que corriqueiramente aparecia em um cajueiro próximo ao local do seu assassinato pela polícia. Ainda hoje, ano de 2023, seu túmulo é o mais visitado no cemitério do Bom Pastor durante o Dia de Finados, sendo visitado por fiéis católicos e curiosos. A construção de João Baracho em santo popular - um homem acusado de assassinar motoristas e roubar escolas infantis – chama atenção. Como ela foi construída? Em que contexto? Qual o papel da Igreja Católica nesse processo? Como os periódicos natalenses da década de 1960 se posicionaram? A partir destes questionamentos, este trabalho tem por objetivo analisar a trajetória criminosa, o assassinato de João Baracho e sua transformação em “santo popular”, a partir da cobertura jornalística da época – com base nos jornais A Ordem (periódico católico) e o Diário de Natal (periódico de maior circulação da capital). Ainda, se destaca no caso o envolvimento da “amasia” de João Baracho, vista pela polícia como conivente e, até certo ponto, cúmplice da fuga do seu “amasio” da delegacia de Furtos e Roubos de Natal em 1962, evento que levou à morte de Baracho. É com base nessas perguntas que as fontes (advindas da intensa cobertura jornalística do evento) foram analisadas e a relação entre poder público, imaginário religioso e uma “defesa” inesperada tornam a trajetória de Baracho um exemplo de como a periferia e seus graves problemas (sociais, infraestrutura etc.) sofriam com o descaso do poder público e a violência impetrada pela força policial.