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dia do estudante

Poesia para dar, vender e florescer

Aluna Vitória Quaresma, do Campus Nova Cruz, se constrói com poemas

Publicada em 19/08/2021 Atualizada há 1 ano, 8 meses

Estudante fala sobre reencontro com a poesia no IFRN e revela os sonhos que deseja realizar

Por Diego Alves

O livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, é uma clássica obra literária brasileira que conta a história de uma família que deixa o Nordeste para fugir da escassez de água. Vitória Quaresma, de 17 anos, nasceu em São Paulo, mas, aos 5 anos de idade, fez o movimento inverso e se mudou com os pais para a origem familiar nordestina, no Sítio Pedra Tapada, na cidade Nova Cruz, a mais de 96 quilômetros da capital potiguar. Pouco tempo depois, ela passou a estudar na comunidade vizinha, Lagoa Seca. Apesar da similaridade dos nomes “Vidas Secas” e “Lagoa Seca”, o intuito de citar as duas histórias no início da matéria não tem nada a ver com o movimento retirante, mas, sim, com a poesia; o retorno de Vitória às suas raízes é sobre, metaforicamente, florir.

Já em terras potiguares, a menina teve o primeiro contato com os poemas ainda no ensino básico, e se apaixonou de imediato pela musicalidade das palavras. “Acredito que meu primeiro envolvimento tenha sido com a literatura de cordel, pois me recordo de, mesmo sendo criança, assimilar as mensagens devido à linguagem mais regional”, recordou. Dos ouvidos para o coração, a poesia ocupou um espaço que não a permitia mais ser apenas uma contempladora. Vitória, então, começou a construir os primeiros versos, que viriam a se tornar mini livros. “Eu pegava folhas de oficio, dobrava no meio e escrevia minhas rimas”.

Entre mudança de escola e metodologias de ensino, a paixão ficou adormecida por anos, durante o ensino fundamental, e a rima de palavras já não era mais um foco. Após concluir o 9º ano e ser aprovada no exame de seleção do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), o ingresso no curso técnico Integrado de Química, no Campus Nova Cruz, poderia parecer o esquecimento do espírito artístico, porém, foi nesse momento, mais especificamente em um projeto interdisciplinar, que a até então aspirante a poetisa teve o reencontro com a arte. “Eu não sei explicar o que aconteceu, mas, com a rotina e cobranças, eu acabei deixando a poesia de lado por um tempo, porém tudo mudou quando entrei no IF”, enfatizou.

O IFRN conta com vários eventos e espaços artísticos/culturais, como a Semana de Artes, Desporto e Cultura (Semadec), o Laboratório de Artes e os Festivais de Teatro. Dentre tantas iniciativas, a atividade interdisciplinar “Vidas Secas”, que contava com as disciplinas de Artes, Geografia e Língua Portuguesa, sob a orientação dos respectivos professores: Jacicleide Bezerra, Jordana Costa e Willame Sales, tinha como objetivo incentivar a leitura da obra de Graciliano Ramos e, a partir disso, gerar discussões e interpretações sobre o tema, por meio de diferentes expressões artísticas. O momento foi como chuva sobre a terra seca para a vida artística de Vitória. “Os alunos liam as obras e externavam compreensões sobre elas. Havia grupos com abordagens diferentes, dentre elas, o sarau poético, no qual Vitória se inscreveu. Ela brilha não só na arte, mas em tudo que se propõe a fazer. Uma aluna que se destaca. Ela tem aproveitado muito bem a oportunidade que é estar no IF”, afirmou Willame Sales, professor de português.

Poesia para Dar e Vender

Tanto na infância, quanto atualmente, Vitória conta com o apoio das pessoas de seu núcleo familiar, com destaque para sua mãe, Priscila Lima, que sempre a apoiou e opinou em seu processo criativo. “Eu acho que a trajetória artística de Vitória está em evolução. Ela está se descobrindo e mostrando cada vez mais potencial, e o método de ensino do IF tem ajudado nisso”, afirmou ela. O resultado da gratidão pelo apoio e incentivo é convertido em literatura pela filha, como pode-se perceber no trecho do poema “Vem de dentro de você”, feito por Vitória e inspirado na própria mãe:

“Vem a água pra terra seca

Que faz brotar um jardim,

Onde a semente do amor

Por você foi plantada.”

Com a pandemia do novo coronavírus e a necessidade de isolamento social e ensino remoto, os sentimentos se afloraram. Vitória intensificou o processo criativo e fez das poesias um desabafo. Inicialmente, a ideia era apenas expor as reflexões, porém, entre a necessidade de se expressar e o desejo de trabalhar com isso, floresceu na estudante a ideia de comercializar as rimas. A partir daí, ela passou a ser uma poetisa empreendedora. “Eu comecei a seguir perfis no Instagram voltados para o empreendedorismo e comecei a estudar sobre criação de produtos. Até que eu vi que era possível trabalhar com poesia”, disse. Atualmente, ela trabalha produzindo poesias personalizadas e fotos polaroides com poemas, fazendo toda a divulgação pelas redes sociais.

Poesia para Florescer

No livro “A arte poética de Diógenes da Cunha Lima”, do consagrado escritor nova-cruzense, cujo nome é mencionado no título da própria obra, existe um capítulo chamado “Flores que encantam o Brasil”. Entre as poesias, uma se refere à “Xanana”, flor símbolo natalense/potiguar que não se adapta a lugares frios e chuvosos e está presente em vários canteiros, inclusive ao redor dos muros do Campus Nova Cruz do IFRN.

“Esta flor sempre se irmana

No imã de Natal manhã

Louvada seja Xanana!”

Outra poesia, intitulada “Há no mundo quem garanta”, diz:

“Há no mundo quem garanta:

A flor é ato de amor

do coração de uma planta.”

Assim como Diógenes, que também viveu em Nova Cruz e trilhou os caminhos da escrita até alcançar a notoriedade e relevância atual, aos poucos, o amor que Vitória coloca em cada palavra tem floreado sua vida e aberto inúmeras portas. Com público e clientes crescentes, ela tem conquistado a atenção de diversas empresas que enxergam a importância de humanizar a comunicação com as pessoas. Recentemente, produziu poemas para campanhas de cafeterias, supermercados e produtos regionais, escrevendo e também se colocando à frente das câmeras para declamar os versos. Ao que tudo indica, isso é apenas o começo das muitas futuras primaveras poéticas. “Tenho muitos sonhos. Desejo abrir minha empresa, criar novos produtos, fazer um site, publicar um livro e me envolver em projetos culturais coletivos”, afirmou a escritora.

“O que exatamente sou não sei,

Sei somente o que eu era,

Mas, o que sou, amanhã já não serei.

Talvez me torne outono

Ou finalmente primavera”.

- Vitória Quaresma

Palavras-chave:
ensino

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