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Superando barreiras: estudante do IFRN enfrenta condição neurológica e se forma em Comércio
Raylly Victoria deixa hospital e participa de formatura no Campus Natal-Zona Norte
Publicada por Jose Nascimento em 09/04/2024 ― Atualizada há 7 meses, 1 semana
A formatura premia o esforço dedicado ao longo de anos da jornada acadêmica de estudantes, repleta de estudos, aprendizados e vivências com a comunidade escolar. No entanto, em alguns casos, os desafios vão além das tarefas da sala de aula.
Desde os seis anos de idade, Raylly Victoria, nova técnica em Comércio formada pelo Campus Natal-Zona Norte do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), convive com a doença de Pompe, uma condição rara que afeta o sistema neurológico da jovem. Essa condição a levou a perder a fala e a depender de uma cadeira de rodas para se locomover.
Aos 18 anos, durante a cerimônia de formatura realizada no Campus -no dia 6 de abril -, Raylly recebeu seu diploma após seu percurso dentro da instituição. Para que ela pudesse participar desse momento, foi necessário organizar um suporte médico, uma vez que a estudantes está internada no Hospital Universitário Onofre Lopes há quatro meses. Foi crucial a mobilização da equipe do hospital e do IFRN para realizar o sonho da jovem de participar desse momento.
Trajetória e lembranças
Raylly iniciou sua jornada no IFRN em 2020 e relata que poder estudar no instituto era um sonho que se tornou realidade: "Ter a oportunidade de receber um ensino de qualidade em uma instituição tão importante e reconhecida como o IF." A jovem enfatiza o suporte dado pela instituição durante o curso, destacando a solidariedade como um dos principais valores praticados: "O IFRN me ajudou de várias formas, desde o apoio físico e emocional até a prática da empatia, a assistência como pessoa com necessidades especiais e o cuidado", disse.
Durante os quatro anos como aluna da instituição, diversos momentos ficarão na memória de Raylly: "Se eu fosse fazer uma lista desses momentos, incluiria a aprovação, a amizade com minha colega Maria Clara, a Semadec [Semana de Arte, Desporto e Cultura], que é o evento mais esperado no Campus, ter acompanhado de perto a gravidez da professora Wigna, de Espanhol e agora, no final, poder ter participado da formatura", destacou.
Apoio
Rayanny Silva, mãe de Raylly, reflete sobre a assistência prestada pelo Instituto durante a rotina acadêmica: "Desde os primeiros momentos dela na instituição, sempre foi bem assistida. Foi disponibilizada uma cuidadora para tornar mais leve a rotina e atender às principais necessidades dela", disse. Rayanny também compartilhou a emoção de poder testemunhar o sonho da filha: "O sentimento que tenho é de gratidão a Deus pela oportunidade de vivenciar isso ao lado dela. Conseguimos avançar mais um degrau, e não vamos parar por aqui, pois ela tem muitos sonhos e ainda irá muito longe".
"No hospital, ela já estava um pouco desanimada porque havia perdido as fotos da formatura e a prova do Enem. Já havia o desejo de participar da formatura, mas também o medo da negativa por questões de saúde. Durante uma das sessões de fisioterapia, ela mencionou o desejo de ir à cerimônia, mas parecia quase impossível. No entanto, tudo foi sendo providenciado pela equipe de profissionais, todos voluntários e maravilhosos, que a acompanham desde o início. Mesmo estando todos em seus dias de folga, se disponibilizaram para realizar esse desejo", enfatizou.
Ação inclusiva
De acordo com o reitor do IFRN, professor José Arnóbio, o IFRN tem mais de mil estudantes com deficiência e a instituição possui ações efetivas para fornecer suporte a esses estudantes. O gestor destacou que a estudante foi acompanhada por um ex-aluno do IFRN, que hoje é médico, enfatizando o apoio mútuo entre ex-alunos e alunos, além da admiração pela força da estudante, "que teve a determinação de superar desafios e concluir o seu ciclo formativo". Além disso, o reitor ressaltou a importância do fortalecimento do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) nos campi, mencionando que toda a ação inclusiva foi possível devido à atuação desse Núcleo e que a política de inclusão precisa ser expandida continuamente.
O coordenador do Curso de Comércio do Campus Natal-Zona Norte, Paulo de Tarso, acompanhou de perto a trajetória de Raylly e destacou o compromisso dela com os estudos. Ele relembra a jornada e expressa sua satisfação em contribuir para a realização do sonho dessa jovem determinada e vitoriosa: “Ela sempre cumpriu com suas atividades como aluna do IFRN. É uma grande satisfação poder contribuir para a realização de um sonho dessa jovem tão sonhadora e vitoriosa até no nome”, disse o servidor.
A psicóloga e coordenadora do Napne do Campus Natal-Zona Norte, Margareth Rose, enfatizou o papel crucial do Núcleo em situações como essa. De acordo com a profissional, uma equipe de profissionais terceirizados acompanha os alunos com deficiência na sala de aula, enquanto os professores do IFRN elaboram atividades adaptadas para promover a inclusão escolar desses alunos, permitindo que participem das aulas como os demais estudantes.
Parceria e cuidados
O diretor-geral do Campus Natal-Zona Norte do IFRN, Edmilson Campos, enfatizou a importância da inclusão escolar neste momento: "Este é um marco que representa a conclusão de um desafio, de um processo de inclusão escolar de todos esses estudantes que temos acompanhado, juntamente com o Napne, pois a cada ano estamos ampliando o número de estudantes em acompanhamento. Neste ano, foram oito estudantes que, sob atenção do Núcleo, participaram da formatura, sendo Railly o destaque em termos de superação física", disse.
Segundo Raphael Nepomuceno, chefe da Divisão de Gestão do Cuidado do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol), a equipe se sensibilizou e buscou meios para viabilizar o sonho da paciente, respeitando os aspectos de segurança clínica e jurídica: "Disponibilizamos uma equipe de suporte médico avançado para garantir o transporte seguro da paciente até o evento, mantendo-se prontos para agir diante de qualquer intercorrência", explicou. Raphael também mencionou a composição da equipe: "ela foi acompanhada por um médico neurologista, um enfermeiro assistencial e um fisioterapeuta, e o IFRN disponibilizou um espaço adequado para dar suporte aos equipamentos e conforto à paciente antes da cerimônia de colação de grau".
Sonhos e Futuro
"Desde o início, foi um pedido meu, mostrando minha vontade de participar desse momento. Chegaram a cogitar a ideia de entregar o diploma no hospital, mas eu sabia que não seria a mesma emoção. Então fiz questão de demonstrar para a equipe que eu estava bem e que seria capaz de comparecer. Desde então, todos me apoiaram e ajudaram em tudo. Ao receber a notícia, fiquei muito emocionada", contou Railly. Ela também delineia planos para o futuro, buscando novas perspectivas e sonhos: "Amo meu curso de comércio e não pretendo parar de estudar. Tenho planos de prestar alguns concursos de nível médio e me preparar para tentar ingressar no curso de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte", finalizou a estudante.
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