Evento
Segundo dia do Encontro de Agentes Territoriais de Cultura do Nordeste é marcado por oficinas e apresentações
Evento intensifica permuta de experiências entre equipes da região, onde 175 fazedores de cultura atuam como bolsistas de projeto do MinC
Publicada por Giovanna Alves em 30/05/2025 ― Atualizada em 30 de Maio de 2025 às 16:18
A quarta-feira (28) desta semana marcou o segundo dia de programação do I Encontro Regional de Agentes Territoriais de Cultura – etapa Nordeste, que ocorre até esta quinta (29), em Natal (RN). As atividades do dia incluíram oficinas, apresentações culturais, rodas de conversa e rolezinho cultural para os participantes do evento, que reúne fazedores de cultura, gestores do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) que atuam no projeto, representantes do Ministério da Cultura (MinC) e outras lideranças com engajamento junto aos agentes territoriais. O encontro é resultado de uma parceria entre a pasta e o IFRN, instituição-sede do evento.

Oficinas e mesas-redondas
As atividades se iniciaram com as oficinas de Elaboração de Projetos Culturais; Moodle; Combate à Desinformação e Letramento Digital; Arte como ferramenta na Educação Popular; e Políticas Culturais e Estratégias de Mobilização Territorial.
O agente territorial do Rio Grande do Norte Manu Maia participou da oficina de arte e educação popular. Para ele, o momento proporcionou o contato com diferentes modos de fazer cultura: “Isso está sendo muito rico. E hoje a oficina está num lugar de muito amor, porque é de teatro e eu sou do teatro. A gente fez jogos teatrais e nós terminamos com a construção de algumas cenas falando sobre a temática que a gente vem debatendo aqui no encontro, então, não poderia estar sendo melhor”, disse o agente.
Uma das oficinas foi ministrada pela Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Patrimônio Cultural (CGESP) e pelo Departamento de Articulação, Fomento e Educação (Dafe) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo a coordenadora-geral substituta da CGESP, Laís Helena de Queiroz, que conduziu o momento, a oficina foi importante para conhecer os territórios com os quais o Iphan ainda não tem contato. “A gente percebe que os agentes têm um potencial gigantesco de levarem a questão para além dos instrumentos de tombamento, de reconhecimento de registro, para começarem a pensar o patrimônio cultural por uma perspectiva popular, por uma perspectiva do que eles podem fazer em termos de valorização desse patrimônio, dessas comunidades, desses territórios”, disse.
Também houve rodas de conversa divididas por estados, as quais debateram as ações culturais articuladas entre os agentes territoriais. A programação matutina do segundo dia de encontro englobou ainda as atividades culturais intituladas “Do sertão ao mar: a Bahia de todos os cantos” e “Subjetividade maranhense: identidades, memórias e resistências culturais”.
Para Jefferson Pinheiro, estudante do curso técnico de Eventos do Campus Natal Centro-Histórico do IFRN, a experiência de voluntariado no encontro está sendo importante para unir a teoria do curso com a prática da profissão. “Eu estou achando o evento muito importante, tanto para a cultura quanto para agregar [aprendizado] ao meu conhecimento”, exaltou.

Rolezinho cultural
Já na tarde de quarta (28), os participantes se dividiram para duas atividades de vivência, sendo uma na Gamboa do Jaguaribe e outra na comunidade de Santo Antônio. A primeira é um sítio ecológico e histórico localizado no bairro Redinha, na Zona Norte de Natal. De responsabilidade da ONG Instituto Gamboa, é um ponto cultural que tem o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de se preservar a natureza e disseminar a cultura indígena.
“Quando abrimos este espaço para visitação, em 2016, era uma área devastada. Em quatro anos, conseguimos reflorestar, com árvores nativas, e criar este espaço, onde famílias e escolas fazem visitação e passam por essa vivência”, conta Tangahara, nome social de Fábio de Oliveira, integrante da ONG.
Com uma oca onde são feitos encontros e projeção de vídeos, uma loja de artesanato, estações de rede e uma trilha que leva a um lago, a Gamboa é uma área de turismo pedagógico e cultural, que ajuda as pessoas a se reconectarem com a natureza e reforça a importância da preservação.
Bolsista do projeto do MinC, o agente Dido Canela veio do território de Barra do Corda, no Maranhão, onde residem integrantes de sua etnia, Canela, que inclui 3 mil pessoas. A comunidade está localizada em meio à floresta, que é muito mais densa e maior. Ele observa a importância de se lembrar das origens mesmo quando se está em regiões mais urbanas. “Cada localidade apresenta sua ancestralidade”, sublinha.
A estudante de Geografia Carla Moraes, que atua como agente territorial no Ceará, compartilhou de que forma sua vivência no Assentamento 25 de Maio, o primeiro conquistado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) no estado, motivou sua inscrição no programa. “A política cultural não tem conseguido chegar às áreas de assentamento, então, minha ideia ao participar foi justamente conseguir levar essas vivências e oportunidades para dentro do campo, para dentro do meu assentamento, a área onde nasci, cresci e resisti desde sempre”. Emocionada, Carla destacou ainda que se sentiu ligada à comunidade visitada. “Eu começo a me identificar com essa comunidade, com as resistências. Sinto a necessidade de me reconectar com os meus ancestrais. A gente é todo mundo, e isso aqui também é uma forma de aprender sobre a decolonialidade, sobre nossas raízes”, afirma.
Já na comunidade Santo Antônio, os agentes foram recebidos pelo grupo cultural Congos de Combate, que promoveu uma imersão na cultura popular do território. O mestre brincante Gláucio Teixeira, agente cultural e conselheiro municipal de cultura, destacou o impacto positivo da ação. “São Gonçalo é um dos territórios do Rio Grande do Norte com grande potencial cultural. As maiores expressões artísticas populares estão aqui. A vinda dos agentes territoriais potencializa ainda mais esse trabalho, porque nos reconhece como agentes transformadores e reconhece o nosso lugar como ponto de cultura social”. A visita incluiu apresentações culturais, momentos de troca e discussão sobre a valorização da memória coletiva local, fortalecendo os laços entre os agentes e os territórios que eles representam.
- Palavras-chave:
- Encontro dos agentes territoriais de cultura Comitê de Cultura