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Covid-19

"Quando era tudo pela internet, ficava com tarefas atrasadas"

Monaliza faz licenciatura e compartilha sua dificuldade em estudar por falta de acesso à internet

Publicada em 27/05/2020 Atualizada há 1 ano

Estudante mora no Sítio Lages, zona rural de Portalegre

Se o IFRN optasse hoje por retomar as aulas de forma online, você teria como acompanhar?, perguntamos. “Não, porque não tenho internet em casa. Só tenho acesso quando estou na cada da minha mãe”, responde Monaliza Marcelino de Oliveira.

A estudante mora no Sítio Lages, zona rural de Portalegre. Com 32 anos, iniciou em 2019 o Curso de Licenciatura em Química no Campus Pau dos Ferros. Antes da pandemia de Covid-19 provocar a suspensão das atividades presenciais no IFRN, sua rotina de estudos já era desafiante em razão da falta de acesso à internet e da situação econômica da família.

A estudante mora com o esposo e dois filhos. A renda familiar vem do programa governamental Bolsa Família. O complemento que recebe hoje é do Programa de Assistência Estudantil mantido pelo IFRN. Monaliza é bolsista da Biblioteca, onde conseguia a maior parte do material necessário para os seus estudos. A renda familiar mensal, portanto, é menor que um salário mínimo. “Para estudar em casa, eu pedia o material impresso ou pesquisava nos livros emprestados da biblioteca. Quando era tudo pela internet, ficava com tarefas atrasadas”, explicou. 

Sua rotina antes do IFRN era cuidar da casa e dos filhos. Monaliza destaca que fez o processo seletivo para o Instituto por ser uma instituição com “uma boa estrutura, com profissionais aplicados”. Ao iniciar os estudos na licenciatura, viu suas perspectivas se ampliarem: “pretendo me especializar na área”, comenta.

Não é possível ver a expressão de Monaliza ao afirmar isso. Em razão do distanciamento social e das suas dificuldades para acessar a internet, a conversa com ela foi através de mensagens de texto. A estudante só consegue responder as perguntas nos dias em que vai à casa da mãe, na zona urbana. Ainda assim, a qualidade do sinal é fraca, o que impede uma chamada de vídeo. Diante desse contexto, o diretor geral pro-tempore do Campus Natal-Zona Leste, professor José Roberto, questiona: como desenvolver o processo de ensino-aprendizagem sem tecnologias que permitam uma real interação entre estudante e professor? 

O Campus é especialista em Educação a Distância no IFRN. José Roberto, também pesquisador da área, reforça que é necessário pensar a realidade de Monaliza a fim de que se desenvolvam estratégias de planejamento e de execução de aulas a distância. Ele lembra ainda que são essenciais: qualificação profissional, políticas de acesso, além de metodologia e conteúdos próprios à modalidade.

O ACESSO A TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO (TICs)

Aproximadamente 64% dos estudantes do IFRN não possuem computador de mesa (desktop) em casa, enquanto 43% não possuem notebook. Além disso, 36% deles afirmam não ter acesso à internet diariamente. Os dados foram extraídos do Suap - sistema administrativo e acadêmico da Instituição.