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Psicologia na educação

Psicologia do IFRN e o trabalho de resiliência na pandemia

Um período desafiador e ao mesmo tempo com possibilidades de alcance à comunidade acadêmica

Publicada em 09/07/2021 Atualizada há 1 ano

O trabalho da Psicologia do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) vem se consolidando nos últimos anos, proporcionando uma atuação cada vez mais coesa e integrada aos objetivos acadêmicos e institucionais. Com a pandemia da Covid-19 e a nova realidade do trabalho na forma remota emergencial, o grupo de psicólogos tem passado por um período desafiador e, ao mesmo tempo, gerador de novas possibilidades. 

De acordo com Emanuelle Souza, psicóloga do Campus Natal-Central e membro do Comitê Central Covid-19, no início da pandemia, os profissionais da Psicologia do IFRN, assim como os demais servidores da Instituição, vivenciaram sentimentos de angústia e de insegurança. A partir disso, passaram a se questionar sobre como poderiam desempenhar sua função, relacionada diretamente ao diálogo, ao acolhimento, ao trabalho em equipe, à proposição de reflexões e de provocações para a busca da saúde mental. Emergidos nessa realidade de trabalho remoto emergencial, foram construindo novas estratégias para realizar o trabalho da Psicologia no Instituto. “O grupo aumentou a frequência dos encontros, fizemos estudos sobre o trabalho remoto, fomos debatendo esses sentimentos coletivamente e continuamos integradas(os) com as equipes multidisciplinares nos campi. Assim, o trabalho da Psicologia na modalidade remota foi construindo uma identidade, que tem alcançado a comunidade acadêmica”, explicou Emanuelle.

Segundo Cynthia Mota, Psicóloga da Coordenação de Atenção à Saúde ao Servidor (Coas/IFRN), antes da Pandemia não eram realizados atendimentos virtuais pelo Instituto. "Na reitoria do IFRN eram realizados plantões psicológicos presenciais com os servidores todas as sexta-feiras por agendamento ou não, então a partir do distanciamento social o modo de atuação da psicologia foi totalmente modificado, adotando-se o atendimento remoto e ampliando a atuação psicológica para todos os integrantes do IFRN, servidores e alunos, durante todos os os dias da semana", relembrou a Psicóloga.

Experiências remotas

No que se refere aos atendimentos online em parceria com o Comitê Covid-19/IFRN, de acordo a psicóloga Emanuelle Souza. No ano de 2020, 317 pessoas procuraram atendimento psicológico e em 2021, até o momento da informação concedida (1° de julho), 276 pessoas procuraram atendimento psicológico online. Os atendimentos online em parceria com o Comitê são apenas uma porcentagem de atendimentos que todas as psicólogas e psicólogos do IFRN realizam. O acesso à psicologia para atendimento individual pode chegar via e-mail do comitê, através de agendamento no Sistema Unificado de Administração Pública (Suap), pelos e-mails da psicologia de cada campus, dentre outras formas de acesso. 

Além disso, práticas de atividades coletivas estão sendo realizadas também com servidores, a exemplo do Grupo de Escuta. Outra forma de intervenção da Psicologia são os atendimentos multidisciplinares. Estes têm acontecido com bastante frequência e se configuram em um trabalho em rede, onde cada profissional desenvolve sua ação, num viés coletivo.

Para Cynthia Mota, Psicóloga da Reitoria, foram muitas descobertas e aprendizados: “tem sido ainda uma grande construção, eu particularmente nunca havia feito nenhum atendimento de forma remota, não sabia como era um atendimento de psicologia através do computador, a primeira vez que eu fiz isso foi agora, a partir da pandemia Covid-19”. A psicóloga relatou que foram muitas as dúvidas neste período “teve um momento em que muitas pessoas entraram em contato, um número muito grande de pessoas solicitando atendimento, ficamos muito assustados, queríamos fazer os atendimentos, mas a lista de espera estava crescendo muito. Fomos seguindo no sentido de reaprender a funcionar, porque acontecem coisas que no atendimento presencial não acontecia, por exemplo, o estudante não querer abrir a câmera, às vezes por vergonha, ou o servidor preferir falar apenas pelo chat, por estar no mesmo ambiente da família, esposos ou filhos e não se sentir confortável para falar”, exemplificou Cynthia. 

Caroline Arruda, do Campus Macau e presidente do Grupo de Trabalho (GT) de Psicologia do IFRN, compactua do mesmo sentimento de Cynthia “Apesar dessa forma de atendimento já ser regulamentada pelo Conselho de Psicologia desde 2018, eu ainda não havia realizado nenhum atendimento nesta modalidade. Foi um desafio ultrapassar essa barreira pessoal de ainda ficar comparando as possibilidades de trabalho presencial e remotas. Presencialmente podemos controlar melhor o ambiente, buscando diminuir as intervenções externas, garantindo de forma mais precisa o sigilo da conversa, no entanto, no remoto temos que fazer algumas recomendações sobre o sigilo e a segurança das informações, além de não termos controle sobre o ambiente em que a outra pessoa está. Ainda soma-se o fato de estarmos sujeitos às oscilações da internet principalmente quando se trata de chamadas de vídeo. Apesar desses desafios, os atendimentos e acompanhamentos on-line têm se mostrado muito importantes e tenho tido diversos retornos positivos dessa atividade”, relatou a psicóloga. 

A Presidente do GT de Psicologia buscou uma saída em prol de atender um maior número de pessoas, tendo vista a alta demanda de busca pelo serviço oferecido “A demanda por atendimentos foi aumentando com o passar do tempo e eu também divulguei um reforço no meu campus que estaria disponível para atendimentos individuais on-line não somente no grupo do Plantão Psicológico, mas também diretamente para os estudantes do Campus”, acrescentou.

A psicóloga do Campus Natal-Central  recorda  que, muitas vezes, as escutas refletiam também dificuldades que eram suas, enquanto servidoras e servidores. “Nesse sentido, algo que também ajudou, além da união da equipe, foi não ficarmos parados, tendo o trabalho remoto como um fator bloqueador, mas sempre estarmos fazendo o exercício de enxergar possibilidades, de transpor as barreiras da tela do celular ou do computador para o diálogo com os estudantes, servidores e com as equipes multiprofissionais”, afirmou Emanuelle.

Izabelle, do Campus São Paulo do Potengi (SPP), acredita que é o perfil da Psicologia do IFRN trabalhar com muita parceria, tanto entre os profissionais da Psicologia quanto em relação a outras equipes. “Via de regra, somos um profissional por Campus, e o espaço de troca entre a gente é muito rico e necessário em virtude da grande demanda que recebemos onde estamos inseridos e, inclusive, em algumas situações, de campus onde não há psicólogos”, relata a experiência. 

Psicologia sistêmica e o Grupo de Trabalho do IFRN 

O GT de Psicologia foi criado com o objetivo de conduzir a sistematização de atividades propostas a todo o grupo de psicólogas e psicólogos do IFRN, atuando como um agente articulador e fortalecedor. Sua atuação busca construir coletivamente projetos com objetivos variados, desde a saúde do servidor à contribuição no processo de ensino-aprendizagem, orientando-se no combate à evasão e na realização de campanhas educativas, com ações voltadas ao Ensino, à Pesquisa, à Extensão, à Gestão de Pessoas e à Assistência Estudantil. Entre essas ações, estão atividades de acolhimento aos estudantes novatos, rodas de conversa com os servidores sobre temáticas do contexto atual, capacitações, trabalho em campanhas (Janeiro Branco, Setembro Amarelo), participações em comissões institucionais e produção de vídeos educativos e de acolhimento à comunidade acadêmica, postados nas redes sociais do IFRN. O Grupo tem um viés propositivo e político, voltado para as ações democráticas e participativas no Instituto.

A psicóloga do Campus São Paulo do Potengi aponta que uma das defesas do GT é a criação de uma equipe de Psicologia sistêmica no IFRN, ou seja, um profissional lotado na Reitoria que possa articular de forma mais integrada o trabalho da Psicologia no IFRN de forma sistêmica. “Até o momento não foi possível. Nesse sentido foi que surgiu o GT Psicologia,  como iniciativa própria no sentido de fortalecermos o fazer da Psicologia a partir de discussões, reflexões e ações que, obviamente, impactam a comunidade acadêmica do IFRN como um todo. A proposta é que a composição do GT Psicologia varie de tempos em tempos, entre nós, trazendo diferentes olhares e formas de trabalhar, tornando, assim, o fazer mais rico e inclusivo. Ademais, nos sentimos representados pelo GT Psicologia enquanto categoria junto à comunidade em geral, em especial, pela sua característica de construção coletiva”, destacou.

Cynthya, psicóloga da Reitoria, conta como o GT faz a comunicação entre o grupo de psicologia e a gestão do IFRN. “O GT unifica as informações, age como o conselho de Psicologia e faz a comunicação entre a secretaria de saúde e os colegas, recebe informações da gestão, passa para os colegas, pega dos colegas, passa para gestão. Tira dúvidas, propõe encaminhamentos, ou seja, faz parte de um papel fundamental para que o nosso trabalho flua melhor, pois como uma instituição capilarizada como a nossa, é necessário que alguém tenha essas informações e faça o gerenciamento adequado. Durante a pandemia, esse trabalho foi indispensável para o desenvolvimento das atividades em meio aos desafios, pois o GT propõe e media reuniões, que agora serão mensais, mas em meio à pandemia foram encontros semanais devido à alta demanda de atendimentos”, explica.

Resiliência 

Emanuelle acredita que é de extrema importância a Psicologia na educação, especialmente em tempos tão desafiadores quanto o que estamos vivendo. “É um trabalho que se faz em rede com outras profissões como serviço social e pedagogia para fazermos valer o direito à educação dos estudantes. Além disso, a Psicologia traz reflexões e promove diálogos para que as pessoas possam sempre buscar recursos de fortalecimento, sentirem-se protagonistas, capazes de fazer escolhas consistentes e traçar projetos de vida que façam sentido para si mesmas e para seu contexto”, explica.

A Psicóloga do Campus Natal-Central acredita que seu trabalho atua como um agente reflexivo que incentiva a busca por possibilidades e caminhos de superação, trabalhando a construção da autonomia dos sujeitos, além de mobilizar para a transformação de realidades. “Tais propostas se fazem desafiadoras no atual momento político de desinvestimento do Estado nas políticas públicas, especialmente no que tange à educação. A Psicologia compreende que a pessoa humana se constrói socialmente, sendo assim, o campo da educação é favorecedor, pois, mesmo de forma virtual, a Psicologia incentiva a busca pelo fortalecimento coletivo, pelos laços de afeto e solidariedade, para o enfrentamento dos desafios cotidianos que estamos vivenciando”, esclarece.

Caroline Campos percebe que a pandemia, o convívio com a doença e o próprio adoecimento, o luto, o distanciamento social, a hiper convivência familiar e a própria adaptação às aulas remotas emergenciais, com todos os seus desafios, têm aumentado a demanda relacionada à saúde mental. “Hoje em dia tenho sido convidada para discutir a temática da saúde emocional em reuniões pedagógicas, nos seminários de integração, encontros pedagógicos e eventos do campus. Apesar da comparação ainda existente entre a forma de contato anterior à pandemia e a nossa principal forma de contato atualmente, o virtual, posso afirmar que esses encontros têm acontecido de forma surpreendentemente positiva. São encontros virtuais carregados de uma potência afetiva, de acolhimento, de energia vital, de intensas trocas e muito aprendizado de todos os lados”, enaltece.

A Psicóloga do Campus Macau relembra: "paulatinamente as minhas atividades de trabalho foram aumentando desde o início do trabalho remoto. Hoje eu tenho participado das reuniões pedagógicas do meu campus; sou membro da Equipe de Planejamento Pedagógico, criada nesse período; realizo atendimentos individuais aos estudantes do campus e atendimentos em conjunto com a equipe multiprofissional; participo das reuniões de planejamento do meu setor; faço parte do Comitê Local Covid-19; atualmente presido o GT de Psicologia; faço parte da equipe de Coordenação de um projeto de Extensão; e, estou conduzindo juntamente com outras colegas o Grupo de Escuta dos Servidores”.

Cynthia, psicóloga da Reitoria,  também se adaptou a uma nova rotina de trabalho. “A maioria dos psicólogos do IFRN atuam na área de psicologia escolar. Excepcionalmente na Reitoria temos duas psicólogas do trabalho, o que faz toda diferença para nossa atuação específica. A maioria dos psicólogos trabalham em questões de ensino e aprendizagem, já nós somos lotadas na Coordenação de Atenção à Saúde do Servidor (Coass/IFRN), que é diferente dos outros colegas, é uma atendimento voltado aos servidores, então eu vim atender alunos agora com a pandemia, pois tiveram muitas mudanças para tentarmos atender a demanda atual”, explica. 

Cynthia entende que esses desdobramentos são a grande alegria da profissão. “Temos a compreensão que é a psicologia importante para a sociedade no momento atual. Todo nosso trabalho, apesar de muito cansativo, também é muito gratificante, então tenho muito orgulho da minha profissão, do trabalho que o Grupo de Psicologia do IFRN vem fazendo, a hashtag #Orgulhodepertecer cabe muito para nós. Tem sido um trabalho muito bonito, árduo, mas bonito. Acho que precisaríamos de mais força de trabalho, acredito que ainda sejamos um grupo muito pequeno para a quantidade de trabalho que nos é solicitada. A gente gostaria de fazer muito mais, mas infelizmente não temos pernas, a gente sabe que tem muito trabalho necessário, importantes e urgentes, mas temos também as nossas limitações”, afirmou a psicóloga da Reitoria.

Para Izabelle, do Campus São paulo do Potengi, é inquestionável que o trabalho remoto possibilitou aproximação e fortaleceu esse apoio, o qual, destaca, vem desde o presencial. “Quando vivenciamos alguma situação mais delicada ou mesmo desafiadora quanto ao nosso fazer, compondo ou não o GT Psicologia, temos a liberdade de procurar o Grupo para partilhar a situação e juntos pensarmos em estratégias e encaminhamentos. A Psicologia na Educação é extremamente relevante para o fazer institucional ao direcionar sua escuta qualificada para o processo de ensino-aprendizagem, compondo equipes de trabalho a exemplo de  Comissão Interna de Acompanhamento das Ações de Permanência e Êxito dos Estudantes do IFRN (Cipe/IFRN), O Núcleo de Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas(NAPNE/IFRN), o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI/IFRN), a Comissão Própria de Avaliação (CPA/IFRN), Comissão Interna de Saúde do Servidor Público (CISSP/IFRN), colegiados, órgãos de classe, grupos de gestão, comissões de promoção à saúde e qualidade de vida no trabalho locais, e outras equipes”, apresentou

O Grupo de Psicologia do IFRN acredita que, diante de toda essa complexidade, são muitas frentes de trabalho. Isso gera a necessidade de mais profissionais na Psicologia do IFRN. De acordo com o reitor José Arnóbio, a Instituição busca esse reforço da equipe nas interlocuções nacionais para a ampliação do quadro de servidores. "Essas buscas têm o objetivo de gerar um melhor atendimento aos nossos estudantes para a promoção de mais bem-estar e integridade humana a eles, tendo como consequência o desenvolvimento econômico e social do estado", destacou o reitor.

Palavras-chave:
ensino
servidores

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