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Direitos Humanos

Protocolo Antirracista é apresentado à comunidade acadêmica do IFRN

Documento busca enfrentar o racismo institucional por meio de ações pedagógicas, escuta ativa e revisão de práticas institucionais

Publicada por Renan Gabriel em 30/06/2025 Atualizada em 30 de Junho de 2025 às 15:04

Na manhã do dia 26 de junho de 2025, o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) realizou a reunião de apresentação do Protocolo Antirracista da instituição, em formato híbrido, com transmissão e participação presencial no Campus Natal-Central. A atividade marcou o início de uma jornada institucional rumo ao fortalecimento das políticas de combate às diferentes expressões do racismo, mas, também, com foco em acolhimento, prevenção, formação e pertencimento.

Coordenado pela Assessoria de Educação Étnico-Racial (Aseabi) do IFRN, o momento contou com falas de gestores, servidores, estudantes, convidados externos e representantes de movimentos sociais, que destacaram o caráter histórico e coletivo da construção do documento. Segundo Gilson José Rodrigues Júnior, assessor responsável pela condução do protocolo, a proposta parte do reconhecimento de que o racismo estrutural atravessa as instituições — e, por isso, o enfrentamento deve ser institucionalizado e contínuo.

“Este protocolo nasce como uma bússola, não só como escudo. Não estamos apenas reagindo ao racismo, mas apontando caminhos de convivência, de justiça e de pertencimento”, destacou Gilson, emocionado ao relembrar sua própria trajetória de estudante negro que não se sentia representado nas instituições públicas.

Ferramenta de transformação institucional

O protocolo estabelece cinco eixos principais de atuação:

  • Prevenção e enfrentamento ao racismo e outras violências institucionais;
  • Criação de fluxos de acolhimento e pertencimento;
  • Revisão de processos de ingresso, permanência e êxito de estudantes negras/os, indígenas e quilombolas, além do necessário impacto e progressão funcional;
  • Formação continuada com foco em práticas antirracistas; e
  • Identificação dos dados acerca do pertencimento étnico-racial de discentes e servidoras/es;

A pró-reitora de Ensino, Anna Catharina Dantas, reafirmou a importância da iniciativa no contexto da missão institucional do IFRN:

“Implementar um protocolo antirracista significa assumir, de forma ética e concreta, que a educação pode e deve ser instrumento de transformação social. Este não é apenas um documento administrativo, mas um compromisso com o futuro e com a justiça”

Pró-reitora de Ensino, Anna Catharina Dantas

Escuta, memória e compromisso

Diversas falas durante o evento reforçaram a importância da escuta como ponto de partida. Casos de violência simbólica e estrutural, como o silenciamento de estudantes negros e indígenas, foram lembrados com emoção e urgência. A servidora Euza Raquel, do Núcleo de Estudos em Educação, Gênero e Diversidade (Negedi), emocionou-se ao compartilhar:

“Durante muito tempo, me perguntei se o IFRN era um lugar para mim. O Negedi foi onde me reconheci, onde pude ser acolhida enquanto mulher negra, com toda a complexidade do meu ser.”

Professora Euza Raquel

A professora Andressa Lima, também do Negedi, acrescentou:

“Por muito tempo, o combate ao racismo ficou restrito a vozes isoladas. Hoje, estamos construindo um caminho coletivo, com ações educativas e procedimentos claros. Este protocolo é mais do que norma: é instrumento de reparação.”

Professora Andressa Lima

O reitor do IFRN, professor José Arnóbio de Araújo Filho, que participou da abertura, reconheceu o atraso institucional na adoção de medidas mais robustas e reiterou o compromisso da atual gestão:

“Estamos diante de uma iniciativa que lança luz sobre realidades que por muito tempo foram invisibilizadas. É papel da instituição pública não apenas formar tecnicamente, mas formar cidadãos comprometidos com uma sociedade mais justa. A educação precisa cumprir sua função libertadora.”

Reitor do IFRN, professor José Arnóbio de Araújo Filho

Confluência de saberes e vozes

Além dos servidores, estudantes e gestores, o evento contou com a presença de representantes de coletivos negros, advogados da Ordem dos Advogados do Brasil do RN (OAB/RN), lideranças quilombolas e agentes de políticas públicas. Maria Araújo, do Coletivo Nagras de Periferia, reforçou a importância da comunicação acessível para que a juventude periférica compreenda e confie nas medidas propostas:

“Se não traduzirmos esse protocolo em linguagem acessível e ações concretas, ele não chega a quem mais precisa. Estamos falando de vidas transformadas pela educação pública.”

Maria Araújo, do Coletivo Negro Periferia

O cacique Dioclécio Mendonça, liderança do Amarelão, destacou a importância de uma instituição como o IFRN dialogar com diferentes povos, "tendo em vista que cada etnia indígena tem suas especificidades, de modo a não gerar uma invisibilização de outros povos.”

O documento, em construção coletiva, segue agora para consolidação e previsão de implementação em toda a rede IFRN. Como disse o professor Gilson ao final do encontro, citando Nego Bispo:

“O protocolo é essa encruzilhada em que diferentes caminhos se encontram. Como os rios que se unem sem perder sua identidade, queremos que essa confluência torne nossa instituição mais potente, justa e plural.”

Gilson, citando Nego Bispo

Palavras-chave:
IFRN Antirracismo Direitos Humanos Protocolo

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