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Análise

Professor do Campus Natal-Central do IFRN analisa acidente no Líbano

Docente é doutor na área Engenharia de Minas e Segurança do Trabalho

Publicada em 07/08/2020 Atualizada há 1 ano

Fonte: reprodução da internet

Na última terça-feira (4), o mundo foi surpreendido com o trágico acidente, em Beirute, no Líbano. Não é de hoje que tragédias dessa natureza acontecem: foi assim em países como Reino Unido, Alemanha, EUA, França, assim como na Austrália. No decorrer dos anos, segundo o professor do Campus Natal-Central (Cnat) Júlio Cesar de Pontes, "considerando essa última tragédia no Líbano, ocorreram 16 acidentes deste tipo, gerando uma perda de 444 vidas humanas". Os acidentes aconteceram com uma substância rotineiramente utilizada na agricultura: o fertilizante nitrato de amônio.

O professor, que é doutor em Engenharia de Minas e Segurança do Trabalho, esclareceu que a substância na condição de fertilizante não preocupa, mas ressaltou os eventuais riscos: "O nitrato de amônio, enquanto fertilizante, não é inflamável. Seu processo de oxirredução ocorre quando submetido a temperaturas entre 140 e 200 graus Celsius. Quando essa substância está confinada, os riscos de detonar aumentam, mesmo que não tenha contato com combustíveis ou iniciadores, por atuar como fonte de oxigênio (oxidante)". De acordo com Júlio Pontes, os fatores-chave para entender o ocorrido em Beirute são as condições de armazenamento e o processo de decomposição da substância: "O nitrato de amônio armazenado se decompõe, gerando vários subprodutos e/ou gases. A decomposição térmica do nitrato de amônio pode resultar em gases tóxicos, tais como óxidos de nitrogênio e amônia" explicou.

Quando acontecem eventos dessa natureza, as autoridades responsáveis precisam ter cuidado, inclusive, durante o combate ao incêndio causado pelas explosões, para que a tragédia não se torne ainda maior: "Não se deve combater incêndio envolvendo o nitrato de amônio com produtos químicos secos. O agente mais recomendado em combate a incêndio com fertilizantes é água natural. Como medidas de segurança, é recomendado evitar fontes elétricas, combustíveis ao seu entorno e controle da umidade relativa do ar, como procedimentos para mitigar os riscos de explosões. Enquanto manobras, em eventuais incêndios com fertilizantes, não se deve abafar o fogo, porque o confinamento da fonte de calor aumenta o risco de explosão" disse o professor de segurança do trabalho. 

Durante um acidente dessas proporções, até mesmo as áreas ao redor precisam ser protegidas, pois as explosões podem atingir largo alcance. Pontes destacou que, em eventos como o ocorrido no Líbano, é preciso evacuar e isolar o entorno em perímetro de, no mínimo, 1,5 km. Em uma análise inicial sobre o acidente, o professor acredita que "as possíveis causas desse terrível acidente no depósito de fertilizantes no Líbano podem ter sido fatores ambientais como altas temperaturas localizadas, falta de controle da umidade e o tempo de confinamento do fertilizante (nitrato de amônio)". Confira a nota técnica na íntegra.