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O trabalho necessário para a permanência e o êxito de estudantes com necessidades especiais

A história de Everton Vinicius Lima da Silva, do Campus Canguaretama, mostra como o IFRN se reinventou no período de pandemia de COVID-19

Publicada em 09/11/2021 Atualizada há 1 ano, 3 meses

Da esquerda para a direita, Magda Diniz, Dorineide Matias, Elaine e Everton Lima e Pollyanna Brandão

Por Clara Bezerra, assessora de Comunicação Social e Eventos da Reitoria do IFRN

O ano de 2020 iniciou para Everton Vinicius Lima da Silva com uma grande expectativa: o início do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Eletromecânica, no Campus Canguaretama do IFRN. Everton possui múltiplas deficiências: auditiva, de visão e cognitiva. Mas elas não foram empecilho para o estudante acreditar nos incentivos recebidos na sua antiga escola e ser aprovado para o IFRN com uma das melhores notas do processo seletivo. Elaine Cristina dos Santos Lima, mãe de Everton, relata que chorou ao ver o filho vestir a camisa do Instituto: “eu nunca imaginei que ele ia entrar no Instituto Federal”.

Mas 2020 iniciou e após poucos dias de aula, um fato que ninguém esperava impactou a vida de todos: a pandemia de Covid-19. No dia 17 de março as aulas foram suspensas e só foram retomadas, de forma on-line, meses depois. o ensino remoto foi uma das saídas que os gestores do IFRN encontraram para resguardar a vida da sua comunidade acadêmica. Mas como manter a permanência e o êxito de estudantes, especialmente em casos como o de Everton? Além das necessidades educativas específicas, a família do rapaz não possuía computador, apenas um aparelho celular com um sistema operacional bem básico, que não permitia o acompanhamento das aulas. Elaine é dona de casa e obtém renda fazendo bolos e doces por encomenda, o que não permitia a aquisição de outro equipamento eletrônico, muito menos do pacote de internet necessário à conexão.

A exemplo do que aconteceu no Instituto como um todo, a equipe de servidores do Campus Canguaretama precisou se reinventar, unir esforços e encontrar novas formas de ofertar o ensino público e gratuito de qualidade, marca do IFRN. A direção-geral se uniu ainda mais à direção acadêmica e aos gestores de atividades estudantis, responsável pelas assistências aos estudantes, e aí se intensificou o trabalho. Por um lado, a Coordenação de Atividades Estudantis (Coaes/Cang/IFRN), ligada à Diretoria de Atividades Estudantis (Digae/IFRN), realocou os recursos das assistências que não seriam necessárias naquele momento, como auxílio transporte, buscou outros recursos financeiros e conseguiu lançar editais para auxílio digital. Um entre tantos discentes beneficiados, Everton, que conseguiu comprar o primeiro computador da família.

Suporte

“A gente conseguiu atender uma quantidade significativa porque fizemos um levantamento orçamentário juntamente com o suporte da Reitoria”, explica a coordenadora de Atividades Estudantis do Campus, Dorineide Matias. Por outro lado, a Diretoria Acadêmica, que tem a sua frente o processo Márcio Marreiro, promovia as ações necessárias ao processo de ensino-aprendizagem de Everton. Isso foi realizado através do Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiais (Napne) e toda equipe de servidores docentes e técnicos-administrativos do Campus.

A coordenadora do Napne/Cang/IFRN, Pollyanna Brandão, conta que a primeira ação foi acolher a família. “A gente entender que existia uma história de vida desse aluno, dessa pessoa e que a gente não ia começar esse trabalho do zero, que ele não era uma folha em branco”. Já o coordenador do curso de Eletromecânica, Gennisson Batista, comenta que foi necessário criar também uma programação de atendimento individualizado para Everton, na busca por um maior suporte. “Mas ele participa das aulas com todos os alunos”, acrescenta.

Para que isso acontecesse, todo o Campus se envolveu. “Nosso contexto de ensino remoto trouxe outros desafios para além das necessidades educativas específicas de Everton, que era justamente esse aparato tecnológico, que Everton e dona Elaine precisaram se apropriar”, explica Pollyanna. Elaine narra que Everton não sabia usar o computador nem navegar na internet. Mas esses espaços se tornaram a sala de aula. “O começo, ele perdia atividade porque eu não sabia como mexer no site da escola, eu aprendi, como dizem, na marra. Aí para colocar na sala de aula, que era por link, eu não sabia como era, o que eu mexia em internet era o básico, Whatsapp, Facebook, essas coisas. aí Poliana me ajudou bastante, os professores”, destaca Elaine. Até os estudantes do Grêmio Estudantil Homero Homem, do Campus Canguaretama, se envolveram. Respeitando os protocolos de segurança, eles iam à casa de Everton para lhe ensinar o acesso às aulas.

Desafios e trabalho coletivo

Hoje Everton se sente seguro no ambiente on-line de aula. Liga e desliga o computador, acessa o Suap, Google Class Room, sabe pesquisas e ainda utiliza os horários livres para jogar e descobrir novos conteúdos no Youtube e outros sites. A professora Magda Diniz, de Língua Portuguesa, conta ainda que ele é um dos autores de um livro de contos que será lançado em breve. “Everton desenvolveu suas habilidades de linguagem e produziu a narrativa, o que alguns estudantes sem as necessidades específicas dele não conseguiram”, enfatiza. 

Ao fazer uma leitura sobre a história de Everton, o diretor-geral do Campus Canguaretama, professor Flávio Ferreira, destaca a importância do trabalho coletivo: “Os desafios têm sido muito grandes, mas a gente tem trabalhado sempre, a partir do coletivo, para que esses alunos, especialmente aqueles que têm dificuldade de aprendizagem, tenham permanência e êxito na instituição.  A gente sabe das dificuldades, que elas não são só de ordem de aprendizado, são dificuldades sociais, de vulnerabilidade, então investimos massivamente. Foi uma decisão de gestão”.

E os resultados chegam. “Hoje ele está onde ele está, no curso mais difícil que tem, se saindo bem, tirando notas boas. Porque quem olha assim, Everton é especial como os outros”, emociona-se Elaine ao falar sobre o filho.

Após um ano e oito meses de distanciamento social causado pela pandemia de Covid-19, o IFRN reiniciou na segunda-feira, 8 de novembro, as aulas presenciais. O retorno está sendo realizado de forma gradativa, a fim de que Everton e todos os outros estudantes da Instituição tenham acesso ao ensino público e gratuito de qualidade de forma segura e com êxito.

Acesse

Filme institucional do Campus Canguaretama com a história de Everton, produzido pela equipe do Núcleo de Audiovisual da Reitoria do IFRN, disponível no Canal do IFRN Oficial no Youtube a partir das 12h de 11/11/2021.

Palavras-chave:
ensino
extensao

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