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Dia Internacional da Mulher

Mulher Federal: trajetórias e vivências na área do ensino de matemática

Conhecemos hoje a história de Kaline Nascimento, professora do Campus Ceará Mirim

Publicada por Cecilia Melo em 19/03/2025 Atualizada em 19 de Março de 2025 às 09:36

A Coordenação Geral de Jornalismo e Imprensa da Diretoria Sistêmica de Comunicação Institucional (CGJI/Dici) elaborou uma série de reportagens em homenagem ao dia internacional da mulher. Ao longo das publicações serão apresentados desafios superados, memórias ternas, conquistas marcantes e conselhos para outras pessoas, mulheres ou não, sobre o futuro.

No centro dessa construção estão mulheres que, com dedicação e resiliência, moldam a trajetória do Instituto. Dando continuidade à série "Mulher Federal", que celebra o dia internacional das mulheres, conhecemos hoje a história de Kaline Nascimento, professora de Matemática no Campus Ceará Mirim.

Kaline Nascimento - Foto: Renan Felipe
Kaline Nascimento - Foto: Renan Felipe

Kaline é federal

Kaline é servidora do IFRN há oito anos, e passou pelo Campus São Paulo do Potengi antes de chegar no Campus Ceará Mirim, onde coordena o Curso de Matemática. Além de professora, Kaline tem orgulho de reafirmar suas raízes e dizer - sempre que se apresenta - que é mãe de Celina, esposa de Marcelo e filha de Dona Célia e Seu Carlos. Ser uma mulher na área das exatas pode ser difícil, e essa dificuldade é por vezes acentuada quando a mulher em questão é negra. A convivência com os desafios e a celebração de conquistas e memórias foram alguns dos assuntos conversados com Kaline para a execução desta entrevista, que pode ser lida abaixo.

Quais foram os maiores desafios enfrentados por você, enquanto mulher, nesse período trabalhando no IFRN?

"O fato de ser mulher, professora matemática, e (saber que) o letramento racial é muito complicado, porque eu descobri há poucos anos isso de ser uma mulher negra. Mas, de modo geral, ser mulher na matemática é extremamente complicado, porque é como se o nosso diploma estivesse em xeque quase que diariamente, tanto por parte de alunos que chegam na sala e perguntam se a gente já deu essa disciplina, quanto pessoas na rua que olham falam ‘nossa, você não tem cara de professora de matemática’. No IFRN o grupo de mulheres professoras de matemática é crescente, mas ainda é muito pequeno. Hoje eu sou a primeira mulher coordenadora do curso de matemática. O curso já tem alguns anos, já tem turmas formadas e mesmo assim eu estou sendo a primeira mulher. Então é muito desafiador, porque o mundo duvida da nossa capacidade, ele duvida que a gente é capaz, porque na cabeça dele o professor de matemática é um homem de camisa polo, óculos e calça jeans".

Ao olhar para os anos trabalhados na Instituição, quais conquistas você destacaria?

"A minha primeira grande conquista no IFRN foi uma conquista de raça. Quando eu cheguei no Campus São Paulo Potengi, a gente via muitas alunas alisadas e aí elas começaram a me ter como referência, a entrar em transição (capilar) e isso foi muito lindo. Várias alunas saindo e se aceitando porque viram na professora algo que era parecido com elas e que a sociedade achava feio, e que por isso elas também achavam feio. Então eu gosto muito de ter sido essa referência positiva. Mas, para além disso, as conquistas são inúmeras porque cada estudante que consegue sair daqui, para realizar também seu sonho, é muito bonito de se ver, pois muitas vezes o IFRN é o grande sonho deles; mas daqui eles que têm um outro sonho, que é ir para a universidade, ou ter seu próprio negócio, os sonhos mais diversos. Então, sempre que eu entro na sala eu digo o quanto que os alunos do IFRN são preciosos e o quanto que eles têm capacidade, o quanto eles não têm noção da força que tem. Mesmo vindo de origem extremamente humilde os nossos alunos saem daqui alçando voos lindos".

Durante esses oito anos, qual memória mais te marcou na Instituição?

"Então, eu vou acabar por dizer uma outra história que é muito próxima a resposta que eu dei anteriormente. Acho que tem uns dois anos que a gente fez aqui no Campus um Code, que era do Grêmio e significa Conversa de Emergência. Nisso, veio o professor Gilson do Neabi Sistêmico, e eu também fiz uma fala, mostrei minha transição capilar, mostrei como eu era antes e como sou agora, e toda minha descoberta enquanto mulher negra. E aí, recentemente, os alunos estavam fazendo entrevistas e entre os grupos que estavam me entrevistando, tinha uma menina, que eu não tinha nem sido professora dela, não a conhecia; quando acabou a entrevista ela disse ‘Professora, eu tenho uma coisa pra lhe falar. Você lembra daquele Code que a gente teve alguns anos atrás? Professora, depois da sua fala eu nunca mais alisei meu cabelo’. Então, esse tipo de coisa toca muito, com certeza, vou levar pra vida, porque é muito bom você saber que, de algum modo, mesmo que a gente não tenha o contato direto, mesmo que não tenhamos estado em sala de aula juntas, eu sei que de algum modo marquei ela".

Pensando no futuro, que conselho você daria para as meninas e mulheres que vão ingressar no IFRN?

"Meninas, em especial meninas negras, vai ser muito difícil. As pessoas vão duvidar muito de você. É muito complicado cursar matemática, é muito complicado, para além de ter um cérebro bom de matemática, lidar com machismo. É muito difícil lidar com gente que desacredita de você, porque dependendo de onde você venha você também já não acredita em você. Então, sempre que as pessoas chegarem para você e disserem que você não vai conseguir, não ouça. Por mais que seja difícil, por mais que doa, não ouça. Deixe entrar por um ouvido e sair pelo outro. Continue estudando, faça o seu. O curso já é difícil por si só e estudar é muito emancipador. Estudar é algo que vai fazer com que sua vida mude. Então, o conselho que eu deixo aqui é: continue estudando. Continue, só continue. Qual é o seu objetivo? Olhe para ele e siga. Que assim, vocês, meninas, vocês vão conseguir. Meninas negras, vão simbora, porque o mundo é de vocês, o mundo é nosso. Ocupem espaços que ninguém nunca, com suas características, tinha ocupado. Façam esse mundo melhor para vocês, para as filhas de vocês, para os irmãos e para as irmãs de vocês, e também, por favor, para a minha filha".

*Texto de Cecília Melo e Ester Costa, estagiárias atuantes na Coordenação Geral de Jornalismo e Imprensa (CGJI) na Diretoria Sistêmica de Comunicação Institucional da Reitoria do IFRN. Ainda participam da série Renan Felipe, também da CGJI, e Luciano Vagno, da Coordenação Geral de Promoção Institucional.

Palavras-chave:
Dia Internacional da Mulher Mulher Federal

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