IFRN, UERN, Ufersa e UFRN
Instituições potiguares de educação encerram 1º Congresso Internacional de Direitos Humanos
Relatos de superação, ecologia e conexões internacionais marcaram o evento
Publicada por Jose Nascimento em 15/12/2025 ― Atualizada em 15 de Dezembro de 2025 às 13:19
Após uma intensa semana de debates, o 1º Congresso Internacional de Direitos Humanos (Cindih) concentrou suas atividades finais, nos dias 11 e 12 de dezembro, no Campus Natal-Central do IFRN. A programação de quinta e sexta-feira foi marcada por relatos emocionantes de reintegração social, discussões sobre ecologia integral, exposições artísticas e a conferência de encerramento, consolidando a parceria entre IFRN, UFRN, Ufersa e UERN.

A quinta-feira (11) deu destaque às ações do IV Simpósio de Educação Prisional (SIP), iniciando com a mesa-redonda "Caminhos e Desafios para uma Pena Justa". O debate reuniu autoridades e especialistas com vasta experiência na execução penal. Participaram o professor Francisco Augusto Cruz (IFRN), a juíza Sulamita Bezerra Pacheco e Fernanda Nascimento (Escritório Social de Natal). Enriquecendo a discussão técnica com a realidade vivenciada, a mesa integrou também José Kelber Kaisson da Silva, estudante universitário do IFRN atualmente privado de liberdade em Pau dos Ferros, cuja participação remota sublinhou o impacto prático da educação como ferramenta de cidadania.

Reintegração
Na sequência, a programação do SIP emocionou o público com a mesa sobre o Projeto Alvorada. Pâmella Dutra, egressa do Ciclo II, celebrou sua nova realidade: "Vivi um período de 365 dias que me ensinaram a não hesitar em buscar meus sonhos". Ela lembrou que, há exatamente um ano, estava em processo de reintegração e destacou o acolhimento do IFRN: "Ao sair, conheci o projeto e encontrei uma rede de apoio que não desistiu de mim".

Na mesma mesa, Allef Barbosa compartilhou como o acesso ao estudo dentro da unidade prisional transformou sua trajetória. Hoje graduando em Gestão Pública, ele relatou sua experiência profissional na Funcern, passando por setores como compras e RH. "Quando a gente recebe uma oportunidade lá dentro, ela faz toda a diferença. Tudo começou quando me permitiram estudar", destacou Allef.

Ainda sobre o contexto prisional, a professora Adélia Araújo, da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e do Lazer do Rio Grande do Norte, apresentou experiências do Complexo Penal João Chaves, explicando como utilizou o interesse das internas por educação financeira para ensinar Matemática de forma significativa. Já o professor Anderson Menezes, da Universidade Federal de Alagoas, discutiu os estigmas enfrentados por educadores em unidades socioeducativas e defendeu uma revisão do conceito de marginalidade.
Também na quinta-feira, o debate se ampliou para a sustentabilidade. A professora Cláudia Battestin (Unochapecó) abordou o tema da Ecologia Integral, questionando a distribuição desigual dos impactos ambientais e defendendo o resgate de saberes ancestrais.

No campo das artes, foi inaugurada a exposição “Tintas tra(ns)ve(r)(s)sas”. O mestrando João Sol (UFRN), em parceria com a professora Suély Souza (IFRN), apresentou aquarelas que retratam o processo de transição de gênero. "Pensamos em uma exposição que pudesse falar desse processo... dos referenciais de feminilidade e masculinidade que as pessoas trans acessam para compor seus corpos", explicou João.
Encerramento
O Congresso Internacional de Direitos Humanos foi encerrado na sexta-feira (12) com uma manhã dedicada a exposições, mesas temáticas e à conferência final. Desde as primeiras horas do dia, o público pôde visitar as exposições “A periferia é muito grande, mas o muro é muito alto”, instalada no corredor da Diretoria Acadêmica de Ciências, e a já citada “Tintas tra(ns)ve(r)(s)sas”, no Museu de Minérios, tudo no Campus Natal-Central

Ao longo da manhã, mesas-redondas abordaram temas como diversidade, inclusão na educação profissional, imigração e interseccionalidades, contando com participação de integrantes internacionais da Argentina e do Chile.

Para Maria Clara, estudante da Licenciatura em Letras, participar do Congresso foi marcante. “O evento foi muito bom. Apresentei um trabalho e pude acompanhar outras atividades ao longo dos dias. Apesar de algumas dificuldades iniciais de orientação, a experiência foi muito positiva”, avaliou. A estudante contou com o acompanhamento da audiodescritora Bárbara Freire, da Soma Comunicação e Acessibilidade. Para Bárbara, a iniciativa demonstrou um cuidado essencial: “O processo inclusivo do evento foi muito bacana. Desde o início houve uma preocupação em oferecer um acompanhamento humanizado, pensando nos diferentes recortes e necessidades”, destacou.

Victor Kawã, estudante de Edificações do Campus Mossoró, resumiu o sentimento de muitos participantes ao destacar o caráter formativo do encontro: “Foi muito legal participar do primeiro Congresso de Direitos Humanos. Pudemos acompanhar apresentações, palestras e mesas que dialogam diretamente com questões que estamos vivendo hoje”, afirmou.

Para o coordenador geral do evento e professor do IFRN, Avelino Neto, a programação foi um reflexo fiel da potência do encontro, marcado pela transversalidade. "Foi um espaço plural onde couberam debates sobre educação prisional, painéis sobre liderança feminina e diálogos internacionais sobre imigração", destacou. Segundo Avelino, a riqueza do evento residiu na convivência harmônica entre diferentes formatos: desde a densidade dos Grupos de Trabalho — que discutiram temas como neurodiversidade, sustentabilidade e relações étnico-raciais na UFRN — até a sensibilidade das exposições artísticas e intervenções culturais que ocuparam o Campus Natal-Central.

O conjunto de atividades foi finalizado com a conferência intitulada 'Direitos Humanos, Justiça Social e Sustentabilidade'. O debate foi conduzido no miniauditório do Bloco C pelo professor Enrique del Percio, atual reitor da Universidade de San Isidro (Argentina). Doutor em Filosofia Jurídica e especialista em sociologia das instituições, Del Percio é uma referência internacional em sociologia da dominação e autor de obras fundamentais como 'Ineludible Fraternidad'. Sua fala conectou a teoria social à prática dos direitos humanos, selando quatro dias de intensa troca de saberes entre a comunidade acadêmica local e pesquisadores internacionais.
Para conferir mais detalhes, acesse a página oficial do 1º Cindih.
*Esta notícia foi feita de forma colaborativa por Cleyton Fernandes, Enzo Soares, Max Praxedes e Renan Felipe, que integram a equipe de Jornalismo e Imprensa da Diretoria Sistêmica de Comunicação Institucional do IFRN.
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