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Dia da Memória do Holocausto

Estudantes do IFRN lançam livro com cartas para Anne Frank

78 anos da libertação de Auschwitz são comemorados nesta sexta-feira (27)

Publicada em 27/01/2023 Atualizada há 1 ano, 1 mês

Livro está disponível no Repositório do IFRN.

Por Luciano Vagno

 

No dia 27 de janeiro de 1945, tropas soviéticas invadiam o Campo de Concentração e Extermínio Nazista de Auschwitz, na Polônia. Lá, os soldados se depararam com corpos de vítimas, roupas e cabelos espalhados, construções depredadas e cerca de oito mil sobreviventes. Chegava ao fim um dos episódios mais sombrios da humanidade: o Holocausto. Estima-se que, ao todo, seis milhões de pessoas, a maioria judeus, foram exterminados pelo regime nazista, baseados em uma política supremacista e racista.

Após a libertação do maior campo de concentração e de extermínio da Segunda Guerra Mundial, a Assembleia Geral das Nações Unidas definiu o dia 27 de janeiro como Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. A data tem o objetivo de homenagear as milhões de vidas aniquiladas pelo regime nazista e lembrar o que aconteceu durante os anos de 1939 e 1945, a fim de que não seja esquecido.

Cartas para Anne Frank

Uma das milhões de vítimas do Holocausto foi Anne Frank, autora de um dos livros mais vendidos no mundo: O Diário de Anne Frank. A obra da menina judia ganhou o mundo, sendo um dos maiores registros da perseguição nazista. O livro tornou-se, também, objeto de estudo. Foi o que aconteceu no Campus Canguaretama do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), no Litoral Sul do estado.

Durante os meses de abril a julho de 2021, o professor Albéris Eron reservou parte das aulas de inglês para a leitura do Diário de Anne Frank. “Os estudantes tiveram a oportunidade de imergir em um dos momentos mais sombrios de nossa história, para que ninguém esqueça daqueles dias de terror e para que não se repitam”, disse o professor.

Após lerem os escritos da jovem judia, os estudantes, entre 15 e 18 anos, escreveram suas próprias cartas, refletindo sobre a história da escritora, vítima do Holocausto, e sobre suas próprias experiências de vida. Os textos foram reunidos em um livro, intitulado 77 anos desde “O diário de Anne Frank”: cartas de Canguaretama ao mundo, publicado pela Editora IFRN.

Como explica o professor Albéris Eron, coordenador da obra, a ideia de produzir um livro surgiu durante as leituras do Diário de Anne Frank: “Escrever um livro contendo cartas foi uma decisão que surgiu durante o processo de leitura, a partir do interesse dos alunos e do impacto oferecido pelo próprio depoimento de Anne Frank. Como sabemos, cartas sempre foram canais de comunicação que se completam com absoluta transparência e veiculam textos de reflexões inteiramente subjetivas”.

Um dos autores das 58 cartas que compõem a obra potiguar é o estudante Eliel Ewerton, de 18 anos, que classifica a experiência como “conflitante”. “Eu já conhecia a história só de ouvir, e por mais que se tratasse do período da Segunda Guerra, eu ainda tinha uma visão mais "fantasiosa" do que seria o Diário de Anne Frank. Mas, quando começamos a entrar de verdade nos textos para produzirmos cartas, caiu a ficha de que é, na verdade, um relato sobre uma garota que viveu o pior da humanidade, e que teve sua vida tirada aos 15 anos por nada. E foi real”.

“O genocídio da Segunda Guerra é uma verdade dolorosa, mas é uma verdade”. A frase é de Ayron Mateus, de 19 anos, também autor de uma das cartas. Ele conta que o isolamento dos judeus, do racionamento de recursos, as relações familiares e o modo a vida em meio à guerra, o levaram a refletir profundamente sobre as dificuldades da perseguição nazista. “Lancei o meu olhar para as minúcias, o cotidiano, dificuldades e sofrimentos vividos no período. Acredito que uma das belezas do livro é unir as mais diversas visões sobre algo em comum: a vivência de uma jovem, assim como nós, que por uma triste perseguição, teve de se isolar do mundo e de sua própria juventude”, declarou.

Anne Frank

Antes da guerra ter início, Anne Frank vivia com seus pais, Otto e Edith Frank, e sua irmã, Margot, em Frankfurt, na Alemanha. Com o aumento da onda antissemita, liderada por Adolf Hitler, a família Frank mudou-se para Amsterdã, capital da Holanda.

Lá, em seu aniversário de 13 anos, no dia 12 de junho de 1929, a jovem foi presenteada com um diário, que recebeu o nome de Kitty. Até então, os assuntos abordados nas páginas eram comuns à vida de uma pré-adolescente. Contudo, a partir de julho de 1942, Anne, sua família e outros quatro moradores passaram a viver escondidos do Estado Nazista, no lugar que ficou conhecido como o “Anexo Secreto”.

A partir daí, o diário passou a conter os registros de uma vida reclusa em razão da perseguição nazista – sob a perspectiva de uma jovem de 13 a 15 anos de idade. Até hoje não se sabe quem denunciou os moradores do esconderijo, porém, no dia 4 de agosto de 1944, soldados da organização paramilitar ligada ao partido nazista invadiram o prédio em que Anne Frank estava.

Anne e sua família foram encaminhados para o campo de concentração de Westerbork. Em setembro, foram enviados para Auschwitz-Birkenau. No mês de novembro, Anne e sua irmã, Margot, foram levadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, onde faleceram de febre tifóide.

O diário de Anne Frank foi resgatado por Miep Gies, uma funcionária do pai da jovem, Otto Frank, o único sobrevivente da família. Anos depois, ele foi convencido a publicar os registros da filha, que sonhava em ser escritora ou jornalista. Atualmente, a obra é um dos dez livros mais vendidos no mundo, sendo traduzido para mais de 70 idiomas.

O que foi o Holocausto

Como explica o professor de História do IFRN, Bruno Balbino, o Holocausto foi uma ação de extermínio sistêmica executada pelo Estado Nazista contra todos os grupos sociais que, segundo a ótica nazista, representavam uma afrontava à perfeição nacional/racial ariana, como judeus, homossexuais, ciganos, poloneses, testemunhas de Jeová, adventistas, deficientes, entre outros.

“A perseguição à comunidade judaica foi feita por etapas. Nos primeiros anos da ascensão nazista houve a criação de leis antissemitas, boicotes econômicos e ondas de violência contra os judeus, os chamados ‘pogroms’. Numa etapa posterior, muitos judeus foram deportados para outros países”, disse.

O professor destaca que o ponto mais dramático da ação nazista ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando as autoridades nazistas levaram, forçadamente, milhares de pessoas para os campos de concentração – usados para matá-los por meio do trabalho forçado. 

“É importante salientar que, para a comunidade judaica, o uso do termo ‘holocausto’ é inapropriado para definir a experiência genocida empreendida pelo Estado Nazista, uma vez que o referido conceito faz referência ao ato sacrificial que caracterizou, historicamente, a tradição religiosa do povo hebreu da antiguidade. Em vez de ‘holocausto’, o extermínio judeu nos campos de concentração é denominado de Shoah, palavra hebraica que significa destruição, ruína, catástrofe”.

Segundo o historiador, no dia 31 de julho de 1941, o líder nazista Hermann Goering autorizou ao General das SS, Reinhard Heydrich, o início das preparações necessárias para a implementação da intitulada "solução final para a questão judaica". A ação resultou na morte de milhares de judeus - Só em Auschwitz, a estimativa é de 1.1 milhão -, por asfixia, fuzilamento, fome, maus-tratos, espancamento, frio, doenças e experiências médicas.

Acesse o livro no Repositório do IFRN