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VOLTA ÀS AULAS

“Eu quero que vocês acreditem”: a lição de vida de um aluno com necessidades especiais

Jonathan Rafael é portador de múltiplas deficiências e estudante do Campus Natal - Central

Publicada em 18/02/2019 Atualizada há 1 ano

Jonathan Rafael cursa o 2º ano do curso Técnico Integrado em Administração

“Era o meu sonho entrar. Tinha medo de não passar na prova, mas estou aqui, muito feliz e alegre, como meus pais". A frase é de Jonathan Rafael, estudante do Campus Natal-Central (Cnat) do IFRN. Jonathan tem baixa visão, audição e cognição. O aluno é um dos atendidos do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (Napne) e do setor pedagógico do campus. Cursando o segundo ano do curso Técnico Integrado em Administração, o estudante de 18 anos ainda conta com o acompanhamento diário de Glicia de Souza, bolsista da Assistência Social na Diretoria de Atividades Estudantis no Cnat.

A história de vida de Jonathan Rafael abre a série de reportagens sobre a Volta às Aulas 2019 no IFRN. Durante toda a semana, estudantes veteranos e calouros terão um pouco de sua trajetórias contadas aqui.

Glicia destaca o querer do estudante: “ele é um aluno especial, não pelo fator da deficiência, mas porque ele busca. É muito interessado, procura informações, é muito interativo e está sempre em comunicação”, comenta. A bolsista - que também é estudante no IFRN, onde cursa Licenciatura em Espanhol - conta que seu trabalho com alunos portadores de necessidades especiais não teve início no IFRN: ela tem experiência em sala de aula, logo, ao chegar no Napne e ficar sabendo da necessidade de apoio pedagógico a um discente com múltiplas deficiências, não exitou em aceitar o convite da professora Vanessa Gosson, que coordena o Núcleo.

Inclusão: uma das maiores prioridades para o IFRN

“A gente fez algumas adaptações em termos da quantidade de conteúdo que ele precisava pagar: ficou pagando três disciplinas e teve um auxílio maior da Glicia. Já no contraturno, como ele ficava mais tempo, no horário em que não estava em aula, ficava em um reforço com ela, que era referente às atividades em sala de aula”, comenta Vanessa. Jonathan considera o Napne como “seu lugar” no Instituto: “é meu lugar porque é onde estudo, faço meus trabalhos e me exercito”. A coordenadora destaca, também, a ação dos alunos das Licenciaturas, por meio das monitorias de Matemática: “houve um considerável avanço, na medida da sua possibilidade, que queremos continuar durante sua trajetória no IFRN”, completa.

Segundo Glicia, Jonathan vem desenvolvendo seus estudos de uma forma leve, porque, apesar de suas dificuldades, ele não tem limites: "Ele chega a um ponto e vai além”, diz. Em 2019, Jonathan está cheio de metas: primeiro, pretende praticar natação no Instituto e fazer aula de música na igreja que frequenta. O aluno quer, ainda, ser bolsista na Instituição: “ano passado, eu até queria trabalhar, mas, no Técnico Integrado, no primeiro ano, não pode. Mas no segundo ano, se Deus quiser, eu faço, para poder ajudar a minha mãe e a minha família, que estão passando por dificuldades financeiras”, diz. Com um coração grande e repleto de amor, ele vislumbra, também, trabalhar para ajudar a comunidade, as pessoas idosas e indivíduos em situação de rua.

“Espero que 2019 seja mais um ano de aprendizado e que, em 2020, a gente já consiga ter avançado em outros pontos”, comenta Vanessa. “Nos preocupamos em não ser uma Instituição que recebe, que inclui, por incluir. Buscamos fazer uma inclusão com qualidade. Este é um discurso que eu vejo e atitudes que percebo nos meus colegas, com os gestores, com os próprios alunos que estão envolvidos comigo no Napne, com o grupo do Núcleo. Está todo mundo preocupado em fazer o melhor”, finaliza.

Histórico e perspectivas

Em 2018, o Campus Natal-Central recebeu o quantitativo de 50 alunos com necessidades educacionais especiais. Vanessa descreve a situação como um desafio, porque, até então, a estrutura era suficiente para um número menos de estudantes cegos e surdos. A chegada da maior quantidade de alunos tornou necessária algumas adequações, como a cooperação técnica de intérpretes de Libras, vindos de outras instituições. Ainda nessa área, o NApne promoveu capacitações: "Oferecemos um curso de Libras, em parceria com UFRN, que nos forneceu os seus alunos Letras-Libras e que ministraram o básico para a comunidade interna e externa. Foi um curso extensão, em dois horários. Também fornecemos aulas de Língua Portuguesa para os alunos surdos, para que pudessem ter acesso ao idioma", afirma Vanessa. 

Glicia ainda falou sobre a satisfação com a experiência: "Ele não sabe, mas me dá a chance de aprender, porque é uma troca de aprendizados. É uma satisfação enorme estar com Jonathan e dentro de uma Instituição que nos dá tanto suporte como o IFRN”, conclui. A mensagem final de Jonathan é sobre sonhar, acreditar e seguir em frente, para passar e fazer o trabalho. “Eu quero falar para todos os alunos do IFRN, principalmente com necessidades especiais: como vocês estão chegando, eu quero que acreditem, procurem acompanhamento, e você vão conseguir, como eu consegui”.

Palavras-chave:
ensino
extensao

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