Portal IFRN

Educação, Ciência, Cultura e Tecnologia em todo o Rio Grande do Norte

especial

Mulheres que crescem com a ciência no Campus Natal-Zona Norte

Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência: conheça a trajetória de três pesquisadoras

Publicada em 11/02/2022 Atualizada há 1 ano, 3 meses

Lucimar, Hanna e Elis: mulheres de destaque na iniciação científica do Campus

O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência é celebrado no dia 11 de fevereiro e foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), visando estimular o acesso e a participação feminina plena e igualitária na ciência. Segundo a ONU, nos últimos 15 anos, a comunidade global fez um grande esforço para inspirar e envolver mulheres e meninas na ciência. No entanto, elas continuam sendo excluídas de participar plenamente da ciência. Até 2020, menos de 30% dos pesquisadores no mundo eram mulheres.

Para inspirar meninas a fazerem ciência e divulgar nomes de jovens pesquisadoras, apresentaremos, em alusão à data comemorativa, a trajetória de três mulheres que estão crescendo com a ciência. Elas estão em diferentes momentos e níveis acadêmicos e estão no Campus Natal-Zona Norte do IFRN ou passaram por ele e deixaram a sua marca.

 

Nível médio-técnico

Hanna Vitória Silva, de 18 anos, enxergou a oportunidade de ser tornar uma pesquisadora logo que ingressou no Instituto Federal do Rio Grande do Norte, em 2019. Curiosa e movida pela paixão às descobertas, passou a frequentar regularmente o Laboratório de Pesquisa em Recursos Naturais do Campus Natal-Zona Norte. “Sempre gostei de descobrir coisas novas, e isso foi evoluindo até se transformar no desejo de um dia ser uma cientista. Três anos atrás, parecia tudo muito distante. No entanto, tudo começou a mudar a partir do momento que minha irmã Raíssa Vanessa, que é estudante de Química, começou a compartilhar comigo as suas experiências com pesquisa e inovação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Como consequência, a cada novidade contada, fui percebendo que o meu sonho poderia se tornar realidade, e que a ciência não estava restrita a estrangeiros de barba”, conta Hanna.

Apesar da empolgação com aquilo que ouvia da irmã, o interesse pela ciência tomou conta da adolescente quando chegou ao IFRN. “O ponto de partida para mim, no Campus, foi o seminário de iniciação à pesquisa (realizado anualmente pela Coordenação de Pesquisa e Inovação). Fiquei feliz ao descobrir que a iniciação científica estava ao meu alcance no próprio Instituto e, a partir daquele momento, busquei me dedicar ao máximo a participar de estudos, pesquisas e a desenvolver projetos”, explica.

Junto com Kaline Carvalho e Geovani Porto, seus colegas de pesquisa, ela desenvolveu o SmartLab, projeto que usa o smartphone, popular principalmente entre os jovens, para realizar análises físico-químicas de maneira acessível a estudantes de escolas que não dispõem de laboratórios e equipamentos de química. Nesse sentido, os autores aplicam conhecimentos em matemática e programação para obter dados químicos a partir de imagens. Em outras palavras, a ideia é que ele seja incorporado como método de ensino por professores do Instituto, inclusive durante o ensino remoto, permitindo realizar atividades práticas nas casas dos estudantes com materiais de baixo custo, facilitando o o aprendizado e estimulando o interesse pelas disciplinas.

E desde então, a jovem passou a acumular prêmios e participações em eventos de ciência e tecnologia, incluindo credenciamentos para mostras internacionais. Hoje, ela sabe que fazer ciência não é algo inacessível e que meninas questionadoras e curiosas como ela podem ir longe solucionando pequenos problemas. "Como historicamente é mais difícil para a mulher se tornar pesquisadora, é necessário ter muita determinação e coragem para lidar com problemas históricos e sociais. Porém, felizmente, o Campus oferece diversas oportunidades de iniciação científica, que independem do gênero, e podem auxiliar meninas interessadas. Além disso, a escola conta com uma equipe de professoras incríveis, inspiradoras. Como tutoras, elas são verdadeiras incentivadoras para as meninas que desejam se desenvolver no mundo da ciência", revela a estudante.


Nível superior

A ex-aluna Lucimar Lima, de 45 anos, é um exemplo de como o estímulo à iniciação científica pode transformar a vida das pessoas. Em 2010, após 15 anos sem estudar, ela retomou os estudos, ingressando no curso de Comércio, na forma EJA. Cinco anos depois, técnica na área, ela virou empreendedora, e, graças ao apoio institucional, pôde desenvolver uma pesquisa que resultou em um produto, que recebeu o registro de patente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

O Capit-X, produto desenvolvido pela estudante, buscava uma solução para o tratamento da pediculose (infestação por piolhos), que ainda hoje aflige várias pessoas, principalmente crianças. "Observamos que muita gente costuma tratar a doença com ingredientes caseiros, que não eliminam as lêndeas, mas somente os parasitas. Inclusive, que alguns produtos no mercado podem, em caso de má utilização, prolongar o problema ou até causar danos à saúde do paciente", afirma a estudante. 

Ele continha ingredientes bioativos e biocompatíveis, cuja eficácia foi medida e provada por meio de vários estudos. "O produto foi confeccionado com um biopolímero atóxico e biodegradável abundante na região nordeste, obtido principalmente a partir da carapaça de crustáceos", conta o professor Roberto Lima, orientador do trabalho. Ainda de acordo com o pesquisador, o polímero era disperso em uma solução levemente acidificada e se transformava em um gel a partir da evaporação do solvente, aprisionando o parasita em todas as suas fases (de lêndea a indivíduo adulto), facilitando a sua remoção. 

Além disso, Lucimar, nos últimos anos, participou de mostras no Brasil e na Itália, concluiu um curso de graduação e o Mestrado Profissional em Ciência, Tecnologia e Inovação da UFRN. Desde 2019, ela é aluna do Doutorado em Biotecnologia, vinculado à Universidade. "O conhecimento adquirido nesta escola me levou a novos rumos com infinitas possibilidades. Sem o empenho dos professores, que contribuem para o Campus cumprir o seu papel na sociedade, o meu sucesso e dos demais alunos não seria possível", enfatiza.

 

Docência

Natural de Cruzeta/RN, Elis Betânia Guedes da Costa cursou o ensino técnico em Controle Ambiental na Unidade Sede do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (Cefet-RN), entre 2001 e 2003, hoje Campus Natal-Central do IFRN. Em 2010, retornou ao Instituto como professora substituta do Campus Currais Novos e, no ano seguinte, assumiu o cargo de docente de ensino básico, técnico e tecnológico no Campus Nova Cruz do IFRN, Instituição na qual pôde reencontrar antigos professores na condição de colega. Atualmente, Elis está lotada no Campus Natal-Zona Norte.

Filha de uma professora e um agricultor, ela ingressou no Cefet aos 17 anos e lá teve o primeiro contato com o método científico. “Estudar nesta Instituição ampliou minha visão de mundo de forma geral. Além da formação técnica e educacional, também temos uma formação humana muito forte e visualizamos muitas oportunidades que geralmente não imaginamos.”, relata.

Nesse contexto, ao concluir o ensino médio, ela conseguiu aprovação em uma universidade pública, tendo a compreensão de que poderia ocupar aquele espaço, mesmo sendo uma estudante de baixa renda. Ela conta que não foi um caminho fácil. Para manter os custos em outra cidade, ela precisou trabalhar e começou a bordar e confeccionar bolsas para vender no próprio local de estudos.

Assim, a jovem pesquisadora conseguiu concluir sua graduação, em seguida, ingressar no mestrado e, por fim, no doutorado em Estudos da Linguagem na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Como docente, ela já passou pela rede de ensino estadual, na escola na qual estudou na adolescência, e no ensino municipal, até chegar ao Instituto, onde desenvolve pesquisas na área de Linguística Aplicada, no Grupo de Estudos Linguísticos, Textuais e Enunciativos do Texto e do Discurso (Gelted/IFRN). Além de publicações de artigos em eventos e periódicos, a docente publicou, em 2014, junto a outras três autoras, o livro "Leitura e Produção de Textos", pela Editora da UFRN.

Com tantos desafios superados até se tornar a profissional que é hoje, ela avalia positivamente o espaço oferecido pelo Campus às mulheres no que tange ao incentivo à pesquisa. "Percebo no Campus Natal-Zona Norte o reconhecimento pela produção científica feminina, não só em relação às professoras, mas também às estudantes, que têm tido a oportunidade de atuar em estudos no Instituto Federal. Também vejo com otimismo a preocupação de dialogar e pensar em estratégias para garantir a igualdade de gênero na pesquisa, considerando os diversos obstáculos que já vivenciamos socialmente", destaca.

Nesse contexto, a educadora reafirma o papel da mulher, que cada vez mais ocupa espaços na produção de conhecimento no IFRN, quanto ao estímulo à inovação, e entende que há pontos a avançar nesse sentido. "Pesquisamos, produzimos conhecimento e fazemos ciência também como um ato de resistência feminina. Ainda temos várias barreiras a superar em nossa nação e que se refletem na instituição. Por isso, é essencial criar metodologias para evitar a queda da produção científica de pesquisadoras após a maternidade e elaborar editais específicos para mulheres. Contudo existe um esforço da Instituição, que nos dá liberdade e busca potencializar a visibilidade do nosso trabalho", conclui.