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Covid-19

Psicólogas do campus orientam sobre os cuidados com a saúde mental durante o período de quarentena

Fabiana Marcelino e Odara Fernandes respondem a questionamentos surgidos na comunidade acadêmica

Publicada em 25/03/2020 Atualizada há 1 ano, 8 meses

Os cuidados com a saúde mental devem ser permanentes ao longo da vida. A sociedade contemporânea expõe o indivíduo a muitas situações de estresse e ansiedade, por isso, é necessário que o sujeito esteja sempre atento às emoções e sentimentos.

Com a pandemia do coronavírus (Covid-19) e com a necessidade de reclusão do convívio social, são adicionados novos componentes aos fatores causadores de desequilíbrios psicológicos. Para apresentar algumas orientações sobre a saúde mental no período de quarentena, as psicólogas do Campus Natal – Cidade Alta do IFRN, Fabiana Marcelino e Odara Fernandes, respondem a quatro indagações surgidas na comunidade acadêmica. 


1. Durante este momento de quarentena, há muitas informações na mídia ressaltando a necessidade de exercícios físicos para o bem estar do corpo, no entanto, às vezes os cuidados com a mente ficam em segundo plano. Também é necessário, durante o período de isolamento, ter uma atenção especial à saúde mental?

“Neste período de quarentena, é muito importante cuidarmos de nossa saúde mental. Para muitas pessoas a quarentena pode ser um período de muita ansiedade, pois fatores desconhecidos e incertos fazem com que todos se sintam inseguros, principalmente por se tratar de questões de saúde. Dessa forma, precisamos estar atentos para não adoecer emocionalmente. Nossa rotina diária nos foi tirada repentinamente. Trabalho e escola são dimensões da vida que recebem uma grande dedicação nossa, às vezes até sacrificamos o tempo de descanso e lazer para melhorar o desenvolvimento dessas dimensões. Por mais que trabalho e escola sejam cansativos, ambas atividades ocupam lugares de grande importância e dão sentido às nossas vidas; nos cobramos e somos cobrados a dar essa importância e, de repente, essas atividades foram interrompidas. Quantos de nós adorávamos os dias de folga para ficar em casa e agora nos sentimos perdidos por não saber quando iremos voltar para a rotina? 

Além disso, sabemos que não estamos de férias e nos sentimos obrigados a continuar com o nosso desempenho diário em casa; porém, ao mesmo tempo, estamos preocupados com o avanço do vírus no país e no mundo, com a saúde dos nossos familiares e amigos mais vulneráveis, e com a nossa própria saúde. Como estabelecer, com tudo isso acontecendo e com apenas uma semana de isolamento em casa, uma rotina 100% saudável e produtiva? A questão é que ninguém deve ser obrigado a dar 100% de si em uma situação tão adversa quanto a que estamos vivendo. Todo mundo precisa de um tempo para se acostumar com essa situação e para lidar com os sentimentos que vêm dela. Agora, temos também que (re)encontrar a vida no isolamento, e lutar por ela. 

Acreditemos na nossa capacidade de processar tudo o que estamos passando e na nossa capacidade de adaptação. Vai exigir muito esforço individual e coletivo, mas tenhamos em mente que a humanidade é capaz de superar adversidades e nós também. Podemos encontrar uma forma de construir uma nova rotina, começando com pequenas coisas: fazer a higiene diária, limpar o quarto, cuidar da casa, dividir tarefas com familiares. Depois, listar atividades que podem ser realizadas em casa: da escola, do trabalho, de lazer... E aí, aos poucos, ir experimentando dividir essas atividades ao longo do dia, de acordo com o que é possível cada um fazer – se, num dia, só deu pra focar em ver séries, tudo bem; amanhã você tenta fazer exercícios físicos. Aos poucos, vai inserindo na rotina atividades que exigem um pouco mais de concentração. E logo, logo, você poderá ter uma rotina mais equilibrada no isolamento”.


2. Há relatos de servidores e estudantes que, com o isolamento, se sentem ansiosos e estressados. Como controlar essas emoções?

“Algumas medidas podem ser tomadas para prevenir dificuldades emocionais nesse período de isolamento social como: manter uma rotina, pois ajuda a garantir a realização de atividades essenciais para sua vida e promove um equilíbrio na execução das tarefas; utilizar a tecnologia para manter contato com as pessoas próximas ajuda a diminuir o sentimento de solidão e contribui para aliviar a saudade daqueles que amamos; realizar atividades que gosta pode ser uma ótima maneira de diminuir a ansiedade, então, ler, assistir filmes, pintar, escrever, ouvir música estão dentro das atividades recomendadas; evitar informações excessivas contribui para não entramos em pânico diante das situação vivida.

Outro aspecto importante é verificar os sinais do próprio corpo, já que são pistas para entendermos se algo errado está acontecendo conosco. Depois de identificar os sentimentos e sensações, que tal tentar descobrir o que passou pela cabeça no momento em que você estava se sentido dessa forma? Foi após ver notícias sobre a pandemia ou ao conversar com alguém sobre a situação? Qual o pensamento que lhe ocorreu nesses momentos? Identificar os pensamentos que estão associados aos sentimentos é fundamental: muitas vezes acreditamos que os sentimentos surgem do nada, mas possivelmente eles estão associados a algum pensamento que passou, mesmo que rapidamente, pela sua cabeça. Esses pensamentos que podem ser os geradores de como você se sente, também podem estar incoerentes com a situação concreta em que você está, daí a importância de você identificar e refletir sobre seus pensamentos; se eles estiverem incoerentes com a situação, você pode refletir sobre essa incoerência e tentar ajustar esse pensamento. 

Questione seus pensamentos e examine-os profundamente: pensamentos distorcidos impedem que você faça uma avaliação exata das suas experiências, podem nos levar a tomar decisões não recomendadas, tirar conclusões precipitadas e supor o pior. Os pensamentos distorcidos podem nos induzir à distorção dos fatos. No entanto, temos a capacidade de parar, olhar para trás, reavaliar a maneira como temos pensado e acharmos nosso ponto de equilíbrio. Se já nos sentimos mal por causa de um pensamento distorcido, tenderemos a ter cada vez mais pensamentos distorcidos; a ideia então é quebrar este ciclo vicioso. Como? Construindo pensamentos alternativos com argumentos e evidências como apoio. 

A fim de avaliar seus pensamentos, faça a si mesmo as seguintes perguntas para examinar e enfraquecer seus pensamentos distorcidos:

Posso provar que meus pensamentos são 100% verdadeiros? 
Quais são os efeitos de pensar dessa forma? 
Meu pensamento é totalmente lógico ou concreto? 
As pessoas cujas opiniões eu respeito concordariam que meus pensamentos correspondem à realidade? 
Que evidência existe contra este pensamento? 
O meu pensamento é rígido ou flexível? 
Estou pensando de forma objetiva e realista ou meus pensamentos foram moldados de acordo com o que eu sinto? 
Para formular pensamentos alternativos, pergunte-se: 
Qual é a melhor forma de se analisar a situação? 
Eu encorajo meus amigos a pensarem desta forma? 
Quando estou me sentindo bem, penso de forma diferente? 
Há experiências passadas que me indicam que existe um resultado diferente? 
Qual é o jeito mais flexível ou menos extremista de pensar? 
Qual é o jeito mais realista ou equilibrado de pensar que conta como evidência e que não apoia o meu jeito de pensar? 
O que eu preciso pensar para sentir e agir de forma diferente? 

Reflita longa e analiticamente sobre essas perguntas, tente não as responder só com um “sim” ou “não”. Lembre-se que esse processo envolve esforço, porque significa repensar algumas coisas, para poder se sentir melhor”. 


3. Como diminuir a sensação de solidão durante o período de quarentena?

“O isolamento social pode levar a muitas pessoas a enfrentarem o sentimento de solidão. A internet pode ser uma ótima ferramenta para manter contato com os amigos da escola e familiares. Que tal experimentar uma ligação em vídeo com os parentes mais velhos? Talvez agora seja uma boa oportunidade para ensinar aos parentes mais velhos como funciona essa tecnologia. Devemos ocupar nossa mente com atividades que nos distraiam e que nos ajudem a relaxar a mente e corpo”.


4. É momento para os estudantes se preocuparem com as aulas e as atividades das disciplinas?

“Não. É o momento de se preocupar consigo mesmo, com os entes queridos, com a população. As aulas um dia irão retornar, quando for o momento mais seguro para todos. Na medida em que for possível para cada um organizar uma nova rotina de vida, atividades escolares pendentes podem ser retomadas unicamente com o objetivo de estabelecer uma reorganização da vida diária, e não com a intenção de se manter produzindo eficientemente. Ninguém precisa de mais pressões no momento. Professores podem sugerir cursos online, leituras e exercícios para quem quiser e estiver em condições para se manter cognitivamente ativo, mas sem cobranças de resultados, pois as atividades acadêmicas estão suspensas”.

Palavras-chave:
servidores

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