TEATRO
Grupo se reúne virtualmente para fazer leitura de peças teatrais
Os encontros acontecem todas as sextas-feiras
Publicada em 31/07/2020 ― Atualizada há 1 ano, 8 meses
Encontrar meios para tentar burlar as adversidades trazidas pelo isolamento social em decorrência da pandemia de covid-19 tem sido o desafio de todos. Muitos têm descoberto nas artes mecanismos para superar os momentos difíceis. Música, dança, pintura, teatro... muitas são as expressões artísticas que têm ajudado as pessoas, apesar do momento crítico por que passa o setor artístico-cultural.
Pensando em aliviar um pouco a saudade dos palcos, utilizando ferramentas de bate-papo online, um grupo de artistas vem se “encontrando” virtualmente para fazer leitura e encenação de textos teatrais. Coordenado pela professora de teatro, Keila Fonseca, a “Pandemia Teatral consiste em encontros semanais, para a leitura dramática de peças de teatro que nos permitam olhar para as estéticas e políticas do nosso tempo com um olhar crítico e reflexivo”, explica a professora sobre o projeto.
Entrando no seu quinto mês de encontros, a “Pandemia Teatral” inicia uma nova fase de leituras. Neste ciclo, o projeto vai se debruçar sobre o repertório de peças do dramaturgo brasileiro Plínio Marcos (1935-1999), cuja obra denuncia o abandono e as condições de vida de personagens à margem da sociedade. Violência, homossexualidade, prostituição, mendicância e toda forma de opressão são abordados pelo autor. Pela natureza de suas obras, Plínio Marcos foi vítima de uma forte perseguição pela ditadura civil militar do Brasil e suas peças foram censuradas por anos.
Serão 5 encontros, sempre às sextas-feiras, das 15h às 17h, a partir de 31 de julho. A atividade oferece certificação de 15h pelo IFRN e as vagas são limitadas. Os interessados poderão se inscrever até hoje (31) pelo link INSCRIÇÕES PANDEMIA TEATRAL.
A leitura das peças obedecerá ao seguinte cronograma:
31/07/2020: Navalha na Carne (1967)
07/08/2020: Jornada de um imbecil até o entendimento (1968)
14/08/2020: O Abajur Lilás (1969)
21/08/2020: Barrela (1958)
28/08/2020: Dois Perdidos Numa Noite Suja (1966)
PANDEMIA TEATRAL
Os encontros começaram, ainda em março, da ideia de se comemorar o aniversário de nascimento e morte de William Shakespeare. O evento, pensado para ocorrer presencialmente em 23 de abril passado, acabou não sendo realizado por causa da suspensão das atividades acadêmicas.
No início, relata a professora, que havia dificuldades, pois “nem todos estudantes matriculados na disciplina tinham condições de se reunir devido falta de recursos materiais, Internet, espaço físico, conforto mínimo...”. No entanto, o grupo que, a princípio, participavam 4 a 5 estudantes, continuou se reunindo e crescendo. O que antes era voltado a estudantes do Campus como atividade da disciplina optativa “Oficina Básica de Teatro”, atualmente conta também com uma participação diversa de ex-alunos, professores do Campus e de outras instituições e atores profissionais de várias partes do país.
Os encontros mudaram a rotina dos participantes. Obrigados a ficar em casa por um longo período, cada um encara a atividade de forma particular. Aos risos, Keila diz que “o dia de encontrar este grupo é meu momento de ‘sair’ [...] É um dia que eu mudo minha rotina: visto uma roupinha mais arrumada, ponho meu colar, faço uma maquiagem, me despeço da minha filha, do meu marido e fecho a porta. Saí! [...] É um encontro profundamente prazeroso para mim porque estou encontrando meus pares, mesmo sem sair de casa.”
Para os estudantes, os encontros têm sido momentos de descontração e prática de aula sem cobranças e sem ansiedade. Mikaline Marques, estudante do curso técnico em Eventos, conta da importância do debate fazendo um paralelo entre os textos teatrais e contextos atuais em nosso país. “O debate é muito importante, pois a gente não fica preso só à televisão, ao jornal, porque cansa, porque assusta. Então, compartilhamos opiniões sobre textos de peças antigas, mas que remetem a situações atuais e a gente acaba conversando de forma dinâmica”.
Já para aluno do curso superior em Produção Cultural, Arthur Jacques, as reuniões semanais são oportunidade de praticar uma atividade que tem prazer aliando às aprendizagens acadêmicas. “Poder estar numa atividade que nos faz sentir bem, envolvidos naquilo que a gente gosta, produzindo sem aquela injeção de ansiedade do curso é algo que nos traz um pouco de alívio”, diz ele sobre sua rotina durante a pandemia.
Outros olhares externos ao Campus também participam das leituras. O cientista social, ator e professor do IF Sertão Pernambucano, Juliano Varela, traz uma reflexão sobre como dar vazão às inquietações criativas num contexto de clausura. Para ele, “é muito bom compartilhar nossa escrita e leituras, porque a gente tem acesso ao que o outro pensa e, assim, a gente vai construindo um pensamento de maneira coletiva”. Neste sentido, “este grupo tem dado a opção dessas leituras coletivas fazendo conexão com nossa realidade atual”, completa.
Fruto do desenvolvimento desse projeto, o grupo está trabalhando na produção de um curta. A ideia do filme surgiu de provocações sobre o texto “A Resistível Ascensão de Arturo Ui” (Bertolt Brecht), que fala sobre os caminhos de ascensão de um fascista ao poder e convoca a refletir sobre os paralelos entre o percurso descrito na obra e o nosso próprio tempo. A produção será realizada “a partir de um trabalho de criação coletiva, partindo da percepção individual que os participantes tiveram da leitura sobre o tema”, encerra a professora.
A Pandemia Teatral é uma atividade promovida gratuitamente, por meio da plataforma digital Google Meet, e o grupo continua aberto a novos integrantes que desejarem compartilhar momentos de leitura e discussão. A professora ressalta que os encontros acontecerão enquanto durar a pandemia de covid-19 e houver gente interessada em participar.