Reflexão
Folclore na sala de aula
No mês em que é comemorado o Dia do Folclore, docentes refletem sobre o termo e sua presença no RN
Publicada por Ana Ramos em 31/08/2025 ― Atualizada em 31 de Agosto de 2025 às 09:17
No mês de agosto, no dia 22, é celebrado o Dia do Folclore. A data foi decretada em 1965, com o intuito de relembrar e valorizar aspectos da cultura brasileira. O termo foi criado por William John Thoms, que uniu as palavras “folk”, que significa “povo” ou “popular”, e “lore”, traduzida como “saber”, “tradição” ou “cultura” para denominar o estudo das tradições culturais de um povo.
No Rio Grande do Norte, o termo folclore ainda é bastante utilizado como uma forma de se referir à identidade cultural presente nas manifestações artísticas que atravessam gerações. Há inclusive, no RN, pesquisadores da cultura popular que se apresentam como “folcloristas”, muito disso em decorrência da presença do estudioso Câmara Cascudo.
Para refletir sobre a temática do folclore no Rio Grande do Norte, entrevistamos dois professores do IFRN – Campus Natal-Centro Histórico. As entrevistas abordam o conceito de folclore, as manifestações folclóricas no Rio Grande do Norte e sua importância para o estado.
A professora Nara da Cunha Pessoa, doutora em Cultura e Sociedade pela UFBA, mestre em Ciências Sociais pela UFRN e graduada em Produção Cultural pela UFF, atua no IFRN desde 2010, no Curso de Produção Cultural, com experiência em políticas e gestão cultural.
Já o professor João Francisco de Oliveira Simões é doutor e mestre em Sociologia pela Unicamp e graduado em Ciências Sociais pela Unicamp. Possui experiência de pesquisa nas áreas de pensamento social, sociologia da cultura e patrimônio cultural. Atualmente leciona no IFRN CH.
Na entrevista com Nara Pessoa, a docente reitera que o folclore se associa à cultura popular, perpetuada por gerações. Entretanto, ressalta que essa cultura é constantemente desvalorizada e considerada como inferior.
“O folclore é amplamente associado à cultura popular, envolvendo elementos característicos como oralidade, perpetuação da tradição por gerações, lendas e narrativas antigas. Contudo, as expressões culturais denominadas folclóricas, foram quase sempre vistas como expressões de uma cultura menor, seja por não virem de ambientes de conhecimento formal, seja por estarem ligadas a práticas rudimentares ou ingênuas”, afirma Nara.

Já o pesquisador João Simões alerta que o termo precisa ser tratado com cautela, visto que algumas vezes é utilizado de maneira depreciativa. Assim, os folcloristas retratam a sociedade a partir de uma espécie de oposição cultural, de um lado o "saber popular" e do outro o conhecimento racional da civilização.
Conforme essa reflexão, Simões destaca que a data comemorativa do folclore, 22 de agosto, carrega uma ambiguidade, visto que a data foi instituída durante a ditadura militar. Segundo ele, “Coincidência ou não, a criação de uma data comemorativa em um governo fundamentado em valores autoritários, conservadores e nacionalistas demonstra a intenção de criação de uma identidade nacional por meio de elementos culturais que seriam perpassados por uma classificação hierárquica, pois o povo necessitaria de ser guiado por liderança de elite. Nesse sentido, o folclore encaixou como uma luva”.

Essa análise, embora refira-se ao contexto nacional, também é aplicável à consolidação do folclore no Rio Grande do Norte. Simões ressalta que, no Rio Grande do Norte, o folclore se mantém presente, pois a identidade cultural norteriograndense foi criada a partir das expressões culturais ligadas aos folclore.
Nara acrescenta que, embora a noção clássica de folclore ainda esteja presente no RN e em outros estados brasileiros, essa perspectiva é capaz de ser reavaliada em algumas instituições de ensino. Segundo a docente, “já abordamos esses conteúdos sob uma outra perspectiva, reconhecendo as expressões das culturas populares como fundamentais para a interpretação do mundo a partir de elementos do cotidiano ou de histórias antigas das populações que foram obrigadas a vir ao Brasil na condição de escravizados”.
Desse modo, as instituições possuem a obrigação de abordar conteúdos que valorizem manifestações culturais populares, preservem a memória e reafirmem o espaço dessas culturas na sociedade brasileira, visto que ao da história sofreram com a com a marginalização e o apagamento diante dos saberes considerados formais ou eruditos.
Portanto, refletir sobre o folclore é reconhecer a riqueza da diversidade cultural e compreender como ela atravessa o tempo e o espaço, moldando a sociedade. Assim, repassar práticas culturais é uma forma de manter viva as memórias dessas expressões, promovendo o respeito, a memória e a continuidade das culturas populares no Rio Grande do Norte e em todo o Brasil.
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