Mulheres Mil
Bordando Carreiras
Alunas e futuras bordadeiras do Mulheres Mil encontram no programa o caminho para a inclusão e qualificação profissional
Publicada por Maria Macedo em 27/09/2023 ― Atualizada há 1 ano, 2 meses
Levando consigo uma ficha de matrícula, duas fotos 3x4 e documento de identidade, de uma em uma, se formou uma turma de trinta mulheres movidas pelo desejo de aprender o bordado. Elas se inscreviam no curso Bordado a Mão do Campus Natal-Centro Histórico do IFRN, que faz parte do Programa Mulheres Mil. A iniciativa busca promover a inclusão social e econômica dessas mulheres, proporcionando melhores oportunidades de qualificação e acesso ao mundo do trabalho.
Nos corredores do IFRN, dominado por jovens e adolescentes, essas mulheres trazem um toque de singularidade ao ambiente. Andando em grandes grupos, elas não passam despercebidas. Sempre fardadas, as senhoras carregam consigo suas bolsas customizadas com os dizeres “Mulheres Mil”, geralmente repletas de materiais essenciais para o curso de bordado. Em meio aos cadernos e livros, encontramos linha, agulha, tecido de algodão cru, bastidor e tesourinha de costura.
Entre as futuras bordadeiras, conhecemos Maria de Lurdes 'Rosa' do Nascimento, uma aluna dedicada. Ela é uma senhora, vó e bisavó, com quatro filhos casados. Sua rotina é uma trança entre sua pequena conveniência, o cuidado com a família e seu amor pelo crochê. Rosa é uma empreendedora nata, e sua experiência com o artesanato levou a busca por novos horizontes no bordado à mão.
“A primeira aula não foi tão boa, porque eu não tinha noção alguma e me senti perdida à princípio. Mas então nos apresentaram à linha e à agulha. A partir daí começamos a dar os primeiros passos no bordado”. O processo educativo começou em julho e acontece três vezes por semana, sempre nas segundas, terças e quintas-feiras e segue até dezembro de 2023.
Conversando com Rosa, é simples entender o perfil da maioria das mulheres participantes do Bordado à Mão. Moradoras das Rocas e Mãe Luíza, elas se sentiram atraídas pela premissa divulgada pelo curso que priorizava as que tivessem baixa escolaridade. Enxergaram no curso uma ótima oportunidade de qualificação para melhorar as condições de acesso ao mundo do trabalho.
“Já tenho uma vocação para o empreendedorismo. Fui motivada a entrar no curso porque já trabalhei com artesanato durante quinze anos. Comecei numa loja na feirinha da Praia do Meio e depois para o centro de turismo. Meu carro-chefe sempre foi o crochê, mas sentia falta de dominar o bordado também”, reflete.
Espaço seguro
Dentro das salas de aula do IFRN, as trinta alunas descobrem que o conhecimento oferecido pelo curso vai além das agulhas e dos fios. No projeto, que tem a coordenação da professora Rosane Felix e que conta com uma equipe multiprofissional, as mulheres passam a experimentar um novo mundo de possibilidades e autoexpressão. “O curso não se limita apenas ao bordado à mão, embora essa seja a pedra angular do programa. As alunas também mergulham em disciplinas como informática básica, língua portuguesa, matemática, segurança no trabalho, saúde da mulher e muito mais. É uma educação abrangente que visa equipar as participantes com habilidades práticas e conhecimentos que podem ser aplicados em suas vidas cotidianas e futuras carreiras”, destaca.
A professora menciona sobre a importância do afeto no aprendizado, criando um ambiente acolhedor para todas as participantes. “Para enfrentar os desafios do mundo moderno, é essencial não apenas dominar uma técnica, mas também ser capaz de lidar com informações, tomar decisões informadas e se comunicar eficazmente. O curso aborda tópicos como direitos das mulheres, autoestima e relacionamentos interpessoais. Ele cria um espaço seguro onde as participantes podem compartilhar suas experiências, fortalecer suas vozes e estimular os laços comunitários”.
A exemplo disso, Rosane relembra um episódio que marcou bastante no decorrer de sua experiência como professora do programa Mulheres Mil. “Nós temos uma aluna que já era artesã, ela nos contou que estava passando por dificuldades financeiras e veio me perguntar o que poderia fazer. Todo o grupo se mobilizou e organizou uma rifa, aos poucos, outras pessoas começaram a apoiar a ideia. Isso mostra que, mesmo em situações difíceis, podemos contar com a solidariedade do grupo. Além disso, tivemos casos em que as alunas se uniram para organizar lanches, uma vez que não temos direito a merenda. Essa cooperação e engajamento são aspectos que têm me impressionado muito até agora”.
Enquanto o curso avança e o bordado à mão se torna cada vez mais familiar para as alunas, elas se preparam um showroom onde apresentarão suas criações em uma feira de artesanato de bordado marcado para dezembro. De volta à Rosa (foto à direita), a estudante acredita que esse momento fechará com chave de ouro toda a experiência do curso.
Com pouco mais de três meses de curso, a aluna fala que já consegue realizar todos os tipos de pontos de preenchimento, até os que mais tinha dificuldade. “Eu planejo incorporar o bordado em minhas criações de crochê para geração de renda, como muitas das minhas colegas. Esse momento está sendo bastante terapêutico, um refúgio para uma vida agitada. Estou aproveitando cada momento, quando realizo minhas tarefas em casa, já penso o que vou aprender por aqui, é tudo muito gratificante”.
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