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EXTENSÃO

Projeto Replantar inaugura viveiro de mudas e ressignifica o tempo na Penitenciária de Alcaçuz

Projeto de extensão do CNAT promove cultivo de mudas, trabalho e ressocialização no sistema prisional

Publicada por Davi Silva em 17/04/2025 Atualizada em 17 de Abril de 2025 às 20:23

Na terra dura onde tantas vezes brotam silêncios, nesta quarta-feira (16), o verde ganhou espaço. Entre as grades e os altos muros da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, nasceu oficialmente o viveiro de mudas do "Projeto Replantar: cultivando esperança, colhendo recomeço" — uma iniciativa de extensão do Campus Natal-Central do IFRN em parceria com a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP) e com o apoio da Rede Estadual de Gestão de Pessoas (REGESP/SEAD).

A proposta, que surgiu a partir de uma visita ao projeto "Arboriza IFRN CNAT"do IFRN, ganhou forma na essência de um desejo coletivo: oferecer aos internos de Alcaçuz não apenas uma ocupação, mas a possibilidade concreta de transformação. A partir da produção de mudas nativas, naturalizadas, frutíferas e ornamentais, o projeto promove educação ambiental, qualificação profissional e remição de pena — abrindo portas simbólicas e reais para um futuro diferente. Verdejante, como a esperança.

João Paulo, diretor de Alcaçuz, também compreende a iniciativa como cumprimento da Lei 7.210/84, que institui a Lei de Execução Penal
João Paulo, diretor de Alcaçuz, também compreende a iniciativa como cumprimento da Lei 7.210/84, que institui a Lei de Execução Penal

O viveiro foi construído pelos próprios apenados de Alcaçuz.
O viveiro foi construído pelos próprios apenados de Alcaçuz.

"O Replantar representa uma semente plantada que já produziu bons frutos e irá produzir resultados extraordinários", afirmou João Paulo Souza, diretor da penitenciária. Para ele, a parceria com o IFRN é essencial não apenas para cumprir o que determina a Lei de Execução Penal, mas para torná-la viva, trazendo ao sistema prisional um sentido de espaço de criação de soluções sociais, e não apenas de contenção.

Coordenado por Luciana Medeiros, servidora do IFRN, o projeto tem como marca a construção coletiva. Desde o início, a escuta aos internos, a troca de saberes e a valorização da experiência foram pilares do processo. “Reiniciamos ações de educação ambiental e levamos diversas propostas: sobre a importância das árvores, sobre como fazer mudas, sobre o cuidado com o solo e os vasos. E isso foi crescendo, ganhando vida, porque a transformação deles também nos transforma”, conta.

Luciana Medeiros, coordenadora do projeto, acredita no poder transformador do Replantar tanto para os participantes como para os apenados.
Luciana Medeiros, coordenadora do projeto, acredita no poder transformador do Replantar tanto para os participantes como para os apenados.

Luciana faz questão de mencionar o envolvimento de diversos colaboradores e bolsistas da Rede Federal: “Esse projeto só se concretiza porque é feito a muitas mãos. Teve gente de vários campi envolvidos, como o professor Arthur Leão, do Campus Macau, a professora Sheyla Lucena, os bolsistas Laísa e Gabriel, de Ilana Von Sohsten, da Secretaria de Estado da Administração (SEAD), e também o apoio essencial de João Paulo Ribeiro, que é o diretor da unidade. A gente planta, mas o que floresce é muito mais do que muda: é dignidade.”

Para os internos, a experiência é mais do que uma atividade no pátio. É contato com a terra, com a paciência do cultivo, com o reconhecimento da própria capacidade de criar, cuidar e fazer crescer. Todos foram selecionados pela Comissão Técnica de Classificação (CTC), têm excelente conduta carcerária e passaram a integrar a rotina do projeto com disciplina e envolvimento.

A cada três dias de trabalho, um dia a menos na pena. A cada muda cultivada, uma chance a mais de reescrever a própria história. O Projeto Replantar também integra as diretrizes do plano estadual Pena Justa, que visa alinhar o sistema penitenciário às normas constitucionais e à função social da pena, promovendo estratégias de ressocialização eficazes.

“Essa é a função mais bonita da extensão: transformar e se deixar transformar”, diz Luciana. Para ela, trata-se também de enxergar no outro uma possibilidade de reconstrução — mesmo quando tudo ao redor parecer uma ruína. “Não é só a sociedade que ganha com a reintegração de um interno. A própria escola se reinventa nesse processo. A cada contato, a gente também floresce”, conclui.

Palavras-chave:
Alcaçuz Replantar Extensão

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