EXTENSÃO
Projeto Replantar inaugura viveiro de mudas e ressignifica o tempo na Penitenciária de Alcaçuz
Projeto de extensão do CNAT promove cultivo de mudas, trabalho e ressocialização no sistema prisional
Publicada por Davi Silva em 17/04/2025 ― Atualizada em 17 de Abril de 2025 às 20:23
Na terra dura onde tantas vezes brotam silêncios, nesta quarta-feira (16), o verde ganhou espaço. Entre as grades e os altos muros da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, nasceu oficialmente o viveiro de mudas do "Projeto Replantar: cultivando esperança, colhendo recomeço" — uma iniciativa de extensão do Campus Natal-Central do IFRN em parceria com a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP) e com o apoio da Rede Estadual de Gestão de Pessoas (REGESP/SEAD).
A proposta, que surgiu a partir de uma visita ao projeto "Arboriza IFRN CNAT"do IFRN, ganhou forma na essência de um desejo coletivo: oferecer aos internos de Alcaçuz não apenas uma ocupação, mas a possibilidade concreta de transformação. A partir da produção de mudas nativas, naturalizadas, frutíferas e ornamentais, o projeto promove educação ambiental, qualificação profissional e remição de pena — abrindo portas simbólicas e reais para um futuro diferente. Verdejante, como a esperança.


"O Replantar representa uma semente plantada que já produziu bons frutos e irá produzir resultados extraordinários", afirmou João Paulo Souza, diretor da penitenciária. Para ele, a parceria com o IFRN é essencial não apenas para cumprir o que determina a Lei de Execução Penal, mas para torná-la viva, trazendo ao sistema prisional um sentido de espaço de criação de soluções sociais, e não apenas de contenção.
Coordenado por Luciana Medeiros, servidora do IFRN, o projeto tem como marca a construção coletiva. Desde o início, a escuta aos internos, a troca de saberes e a valorização da experiência foram pilares do processo. “Reiniciamos ações de educação ambiental e levamos diversas propostas: sobre a importância das árvores, sobre como fazer mudas, sobre o cuidado com o solo e os vasos. E isso foi crescendo, ganhando vida, porque a transformação deles também nos transforma”, conta.

Luciana faz questão de mencionar o envolvimento de diversos colaboradores e bolsistas da Rede Federal: “Esse projeto só se concretiza porque é feito a muitas mãos. Teve gente de vários campi envolvidos, como o professor Arthur Leão, do Campus Macau, a professora Sheyla Lucena, os bolsistas Laísa e Gabriel, de Ilana Von Sohsten, da Secretaria de Estado da Administração (SEAD), e também o apoio essencial de João Paulo Ribeiro, que é o diretor da unidade. A gente planta, mas o que floresce é muito mais do que muda: é dignidade.”
Para os internos, a experiência é mais do que uma atividade no pátio. É contato com a terra, com a paciência do cultivo, com o reconhecimento da própria capacidade de criar, cuidar e fazer crescer. Todos foram selecionados pela Comissão Técnica de Classificação (CTC), têm excelente conduta carcerária e passaram a integrar a rotina do projeto com disciplina e envolvimento.
A cada três dias de trabalho, um dia a menos na pena. A cada muda cultivada, uma chance a mais de reescrever a própria história. O Projeto Replantar também integra as diretrizes do plano estadual Pena Justa, que visa alinhar o sistema penitenciário às normas constitucionais e à função social da pena, promovendo estratégias de ressocialização eficazes.
“Essa é a função mais bonita da extensão: transformar e se deixar transformar”, diz Luciana. Para ela, trata-se também de enxergar no outro uma possibilidade de reconstrução — mesmo quando tudo ao redor parecer uma ruína. “Não é só a sociedade que ganha com a reintegração de um interno. A própria escola se reinventa nesse processo. A cada contato, a gente também floresce”, conclui.