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Coração de Estudante

O essencial é invisível aos olhos: as lições que vêm do coração

Acolhimento criativo transforma o primeiro dia de aula em uma experiência inesquecível

Publicada por Romana Xavier em 22/05/2025 Atualizada em 22 de Maio de 2025 às 19:01

É manhã no Campus Natal-Central do IFRN. O pátio ganha vida com passos apressados, olhares curiosos e corações que batem no compasso da expectativa. É o primeiro dia de aula de muitos jovens — e, como toda estreia, carrega o misto de medo e esperança. Em meio à movimentação, passa um rapaz vestido com a farda da escola, tênis surrado e um bigode mal ajustado. Senta-se discretamente ao lado dos novatos. Ninguém desconfia: ali, diante deles, está o professor.

A cena poderia estar em um roteiro de cinema, mas é real — e acontece há dois anos, desde que o professor (que prefere manter o mistério para preservar a magia) decidiu surpreender seus novos alunos com uma recepção incomum. Inspirado por uma matéria sobre um docente que se disfarçava de zelador, ele adaptou a ideia para o universo estudantil. “É também uma forma de valorizar o fardamento escolar”, diz ele com um sorriso maroto.

A cada início de ano letivo, o ritual se repete. Peruca, bigode, chocolates e uma história fictícia sobre voltar a estudar após anos de trabalho na construção civil. O professor entra, senta-se, observa, ouve as conversas, vive — por dez minutos — o silêncio e a dúvida dos que esperam o professor chegar. Até que, num gesto revelador, caminha até a frente da sala, tira o disfarce e anuncia: “Eu trabalho com a construção… de sonhos.”

O espanto toma conta da sala. Risos nervosos, olhos arregalados, murmúrios cúmplices. A surpresa dá lugar ao encantamento. O truque — que tem mais de afeto do que de ilusão — torna-se ponte. O professor, naquele breve teatro, ensina sem lousa, sem slides: ensina presença, acolhimento, empatia.

“É uma forma de dizer: nós já estivemos no lugar de vocês, e agora estamos aqui para ajudar a construir o futuro de cada um”, afirma. Ele sabe que muitos daqueles jovens chegaram ao IFRN com histórias de superação, sonhos engavetados, olhares tímidos diante de um novo mundo. Por isso, faz questão de ser o primeiro a mostrar que, ali, serão vistos. E que são importantes.

Nem todos se deixam enganar, é verdade. “Sempre tem um ou outro que desconfia”, conta. Mas o impacto permanece. Porque a lição mais bonita que ele deixa não está no disfarce, mas no gesto. A cada nova turma, uma nova oportunidade de lembrar que educar é, antes de tudo, acolher.

E para acolher, é preciso ser, antes de tudo, viver: “Por alguns minutos, sentado naquela cadeira, vivi a magia de ser estudante outra vez. E isso me lembra porque escolhi ser professor: para reacender sonhos, todos os dias.”

Na sala de aula onde tudo começou, ainda ecoa a surpresa da primeira vez. E enquanto houver um coração jovem entrando no IFRN pela primeira vez, haverá também um mestre disposto a ensinar que, para construir o conhecimento, é preciso — antes de tudo — aprender a tocar o outro com humanidade.

Palavras-chave:
IFRN CNAT

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