À primeira vista, o óleo de cozinha usado parece um resíduo sem valor, um líquido escuro destinado a escorrer pelas pias e desaparecer em encanamentos silenciosos. Mas, no Campus Natal-Central do IFRN, esse mesmo óleo ganha nova vida: vira combustível, sabão e aprendizado.

O projeto de Extensão “Obtenção de biodiesel de óleo residual e resíduos orgânicos gordurosos – estimulando jovens consumidores em escolas públicas”, coordenado pela professora Michelle Sinara Dantas, revela que até mesmo o que é descartado pode ser transformado em ciência, cidadania e poesia social.

A equipe, composta pelas bolsistas Sofia Moura e Lilyan Trindade, pelos colaboradores Rafael Penha (Engenharia de Energia e também de Petróleo & Gás), Thayse do Nascimento e Maria Clara Vidigal, leva essa mensagem a estudantes do ensino fundamental de escolas públicas, do 5º ao 9º ano. Ali, os jovens aprendem que cada gota de óleo descartada sem cuidado pode envenenar o solo e as águas, mas que, ao ser recolhida e transformada, pode se tornar biodiesel em laboratório e sabão ecológico nas mãos — um produto eficiente, seguro e regulado pelas normas da ANVISA. O ciclo não termina no laboratório: o material retorna às próprias escolas, como se o conhecimento tivesse dado uma volta completa, provando que ciência e vida prática podem caminhar juntas.

O projeto ensina além da química, educa para responsabilidade. Para os alunos envolvidos, significa o despertar para a pesquisa e para a possibilidade de novas descobertas em biocombustíveis. Para os estudantes das escolas públicas, é um convite a refletir sobre hábitos cotidianos e a perceber que a sustentabilidade começa em casa, no simples gesto de guardar o óleo depois de fritar um alimento. Para a sociedade, os frutos se multiplicam em benefícios: menos poluição nos lençóis freáticos, menor emissão de gases de efeito estufa, geração de renda com a produção de sabão e a diversificação da matriz energética do país.

A inspiração para essa iniciativa veio da percepção de que o óleo de fritura residual é abundante, barato e não disputa espaço com a produção de alimentos. Quando descartado sem cuidado, é ameaça; quando reaproveitado, é solução. No CNAT, ele se converte em símbolo de transformação: aquilo que antes contaminava agora educa, aquilo que antes era sobra agora é recurso, e aquilo que parecia invisível agora desperta consciências. No fundo, o projeto mostra que a verdadeira alquimia da educação é essa: transformar resíduos em saberes, esperança e um futuro melhor.