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Críticas ao modelo dos cursos tecnológicos permearam as discussões do Colóquio

Publicada em 20/05/2011 Atualizada há 1 ano, 3 meses

Os desafios e as limitações dos cursos tecnológicos permearam o debate da tarde de ontem (19) no Colóquio de Produção do Conhecimento em Educação Profissional, que está acontecendo no Campus Avançado da Cidade Alta do IFRN.

A mesa temática foi partilhada pelas professoras Marisa Rocha Brandão, do CEFET/RJ, e Maria Ciavatta, da Universidade Federal Fluminense, sob a mediação do Pró-reitor de Pesquisa e Inovação do IFRN, prof. José Yvan Pereira Leite.

Para situar seu posicionamento, a professora Marisa Brandão relacionou a expansão do ensino profissional a um contexto de conflito e luta de classes entre trabalhadores e burguesia. A expansão, para ela, significa uma valorização da venda da força de trabalho ao mercado produtivo. Ao mesmo tempo em que há uma demanda dos empresários por profissionais qualificados, existe uma pressão dos trabalhadores por acesso a níveis mais elevados de escolaridade.

Nessa perspectiva, os cursos tecnológicos se situam, segundo ela, nessa zona de conflitos, inclusive na disputa protagonizada por uma “nova burguesia de serviços da educação”, que “vende a educação como mercadoria”, diante do apelo da formação rápida e da facilidade de inserção no mercado de trabalho. De acordo com dados apresentados por ela, entre 1994 e 2006, os cursos superiores de tecnologia (CST) tiveram um crescimento maior do que os cursos de graduação plena no Brasil. Sua oferta pelo setor privado passou de 64% em 94, para 88% em 2006, enquanto, no setor público, o índice baixou de 33% para 12%.

Para ela, a indefinição quanto à identidade dos cursos tecnológicos e seu caráter diferenciado dos demais cursos de graduação plena constituem uma das principais dificuldades, que acabam por influir no seu reconhecimento por parte de empresas, instituições públicas e conselhos de classe. Essa problemática em relação à identidade dos CST remete à própria origem dos cursos, inspirados no modelo norte-americano da Fundação Ford, em expansão no início da década de 60.

Marisa Brandão explica que sua introdução no Brasil visava qualificar trabalhadores para operar máquinas importadas para a indústria nacional, sendo nominados, inicialmente, de cursos técnicos de nível superior. O Plano de Trienal de Educação do governo João Goulart (1963-1965), que fora uma resposta, entre outras coisas, à crítica ao bacharelismo, reforçara a necessidade de o país formar profissionais de nível superior para atuar no âmbito operacional das indústrias. Os primeiros cursos tecnológicos foram criados no Brasil na década de 70, pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, de São Paulo.

Entretanto, diz ela, o modelo da Fundação Ford se intitulava superior por ser ofertado numa fase pós-educação secundária, ou seja, num nível intermediário, por isso, a duração de dois anos.

Na opinião da professora Maria Ciavatta, há uma grande confusão daqueles que entendem os cursos tecnológicos como sendo de especialização. Para Ciavatta, especialista é aquele que conhece a fundo determinada área, o que segundo ela, não é o caso dos CST.

Como contribuição ao programa de Mestrado em Educação Profissional, que está em construção pelo IFRN, analisar esses cursos tecnológicos numa perspectiva histórica é importante, como ressaltou a professora, para compreender as articulações sociais que tornaram possível sua oferta e que fizeram e fazem com que os atuais Institutos Federais também protagonizem essa disputa. “Os cursos superiores de tecnologia estão ao nível do senso comum de muitos jovens como sendo o ideal. Há muitos estudos sobre os CST, mas precisamos saber o que pensam os empresários e os trabalhadores tecnólogos”, destacou. “As necessidades urgentes do sistema produtivo não podem justificar o aligeiramento da formação humana a que todos os jovens têm direito na sua forma mais plena”, argumentou Ciavatta. 

Segundo ela, é preciso desmistificar a tese atualmente em voga no país de que estaria faltando profissionais qualificados. “Não deixa de ser verdade, mas não é toda a verdade. O desemprego se deve a um conjunto de fatores, entre os quais a desregulamentação das relações de trabalho”, colocou.