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Aprendendo pelo olhar e voz do outro

Ledoras/transcritoras transformam palavras em imagens para alunos cegos ou com baixa visão

Publicada por Claudia Collaco em 23/07/2024 Atualizada há 3 dias, 22 horas

O Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE) conta com a atuação das ledoras-transcritoras, profissionais que auxiliam os alunos com deficiências visuais no Campus Natal-Central do IFRN, mas que podem atuar, também, auxiliando os alunos com Múltiplas deficiências, TEA (Transtorno do Espectro Autista), dislexia, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), deficiência cognitiva/intelectual, Síndrome de Asperger, Transtorno Global do Desenvolvimento, dislalia, Transtorno Desintegrativo da Infância, dentre outros transtornos e necessidades apresentadas pela comunidade discente do IFRN. Segundo o Coordenador do Napne do Cnat, Adriel Kelvin Dias de Oliveira “Atualmente, são atendidos 270 estudantes com necessidades especiais específicas no campus”.

Em particular, o papel das ledoras-transcritoras é de essencial importância, em se tratando de que atuam como os olhos dos alunos com deficiência visual, bem como de alunos com outras necessidades, como guias e norteadoras. Dentre suas atribuições, inclui-se: transcrição de documentos, condução acompanhada pelo campus, áudio-descrição, dentre outras. Atualmente as ledoras-transcritoras do Campus Natal-Central do IFRN são Rose Gondim e Glícia de Souza, que acompanham os estudantes Maria Clara Diniz do Nascimento, do 8º período do curso superior de Licenciatura em Física; e José Gustavo Ribeiro de Oliveira, do 1º ano do curso técnico Integrado em Administração.

O aluno José Gustavo relata a importância desse trabalho das ledoras/transcritoras em sua vida acadêmica. “Comecei a minha vida acadêmica no IFRN este ano, e logo de imediato contei com a ajuda das ledoras, que desempenham um papel importantíssimo na minha trajetória como aluno, contribuindo em muitos aspectos para que eu possa cada dia mais ter uma evolução no meu aprendizado. Estão atentas a cada detalhe, trabalham para que a compreensão das aulas seja de forma clara, conversam com os professores, e junto com o profissional responsável pela adaptação e transcrições dos materiais em braille, possibilitam que o meu processo de aprendizagem seja mais justo e eficaz. Eu nem sei como seria a minha vida acadêmica sem essa excelente equipe”.

A profissional Rose Gondim trabalha no Cnat desde 2022, no entanto já vinha trabalhando como ledora/transcritora desde 2020 em concursos e processos seletivos. Rose foi aluna da Instituição (à época ETFRN) e comenta com emoção a honra de promover a acessibilidade de informações a pessoas com limitações na execução da leitura e/ou da escrita, além de ressaltar a importância do suporte familiar no processo ensino aprendizagem, que gera segurança e maturidade, tanto para alunos típicos e, principalmente, atípicos. “Ser, literalmente, os olhos ou a voz (através da escrita) de alguém dentro de um contexto tão vasto e diverso como o do nosso campus, é antes de tudo complexo, desafiador e gratificante. Contudo, o profissional deve ter empatia pelo seu próximo, e exercer suas atividades sempre pautadas dentro dos princípios éticos da atuação do ledor/transcritor: respeito, equidade e integridade. Estar como ledora do aluno José Gustavo é, antes de mais nada, um presente, pois a capacidade intelectual, a disciplina, e a dedicação dele aos estudos e aos treinos, por ser um atleta paralímpico brasileiro de natação, supera qualquer deficiência. Não posso deixar de citar a rede de apoio familiar que Guga (como é conhecido) possui, pois isso, faz toda a diferença. Na dedicação às atividades e tarefas, percebemos que ele não se deixa abater pelos obstáculos que vão aparecendo, e devido ao suporte que recebe ao seu redor, ele percebe o mundo de forma diferenciada de muitos outros com deficiência visual. O aluno é um exemplo de leveza, bom humor e resiliência para todos nós. No geral, é uma aprendizagem constante, pois aprendo com cada aluno, dia a dia, renovando e aperfeiçoando as minhas técnicas e as minhas práticas”, conclui Rose.

Para a aluna Clara Diniz “O Napne sempre foi de extrema importância no meu processo acadêmico. Quando entrei no campus não havia os profissionais que temos hoje, como os ledores, transcritores braille, psicopedagogos... Então, foi um processo bem difícil, porque só tínhamos monitores. Eles ajudavam muito, mas tinham alguns momentos que não tinha ninguém pra ler um texto. Então assim, o Napne é muito importante nessa acessibilidade, porque nós sabemos que dificuldades sempre vão existir, mas eles (profissionais do Napne) meio que amenizam essa dificuldade. E as ledoras trabalham conosco da seguinte forma: a gente tem um trabalho pra ser redigido e elas fazem a transcrição pra gente. Elas não escrevem por a gente. A escrita que está no papel é minha, porque é o que eu disse. Elas nos dão o suporte nesse sentido, nas leituras de materiais, pois a gente tem os aplicativos de celular que lê. Porém, é uma leitura muito robotizada. Então muitas vezes a gente não entende o que a leitura quis trazer e elas (ledoras) lendo, a gente consegue ter um melhor entendimento. Na minha opinião, os profissionais do Napne, de modo geral, são muito importantes para a inclusão dentro da instituição”.

Glícia de Souza atua no CNAT há 6 anos como ledora-transcritora e AEI (Assistente Educacional Inclusivo). A ledora fala com orgulho sobre sua atuação no Cnat “Sinto-me felicíssima em fazer parte dessa instituição que ‘sou cria dela’, pois desde 2016 estudo aqui. Faço parte dessa história de 100 anos. Fui aluna do curso de Licenciatura em Espanhol e hoje, aluna do Mestrado em Educação Profissional. Com muita gratidão e satisfação atuo como ledora/transcritora, transformando palavras em imagens para alunos cegos ou baixa visão. A minha maior satisfação é vê-los alavancar voos altos a novos ciclos. Pessoas que não têm o conhecimento desse profissional acha que o ledor/transcritor ‘só lê e transcreve’, não é bem isso, há uma complexidade gigantesca. Para o instituto é primordial dar/trabalhar autonomia do aluno com ou sem deficiência”, relata Glícia.

Sobre o Napne

O Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) é um grupo de trabalho e estudo permanente, vinculado à Pró-Reitoria de Ensino e, às Diretorias Acadêmicas de Ensino, no âmbito dos campi. O Napne é um órgão institucionalizado no IFRN pela Portaria n.º 1533, de 21/05/2012, por intermédio do Programa Tecnep - Educação, Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais.

Para alunos com deficiência visual total ou baixa visão se faz necessário o uso de algumas tecnologias, chamadas de Tecnologias Assistivas (TA), como, por exemplo, leitores de tela; Sistema Braille para comunicação escrita e gráfica; material concreto e manipulável; instrumentos para o ensino das disciplinas; reglete/punção; além de uma áudio-descrição de figuras, tabelas, planilhas e outros elementos gráficos. São utilizados materiais adaptados ou confeccionados (pela equipe do NAPNE), assim como os doados pelo Instituto Benjamin Constant. Com os alunos do TEA (Transtorno do Espectro Autista) são utilizados recursos visuais e as explicações têm que ser claras e trazidas para o campo do concreto, para atrair o interesse do aluno. Em todas as deficiências ou transtornos, os profissionais do Napne têm que se apropriar de didáticas e técnicas, aprendidas e apreendidas com as experiências anteriores e com as capacitações que fazem todos os anos.

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Necessidades Específicas
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Ledora/transcritora
IFRN - CNAT

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