Dia do Géologo
Amor à terra em estado bruto: no CNAT, o Museu de Minérios é a pedra preciosa
No Dia do Geólogo, o CNAT celebra a geodiversidade potiguar
Publicada por Romana Xavier em 30/05/2025 ― Atualizada em 30 de Maio de 2025 às 17:17
É preciso amar a terra como quem cuida de uma herança silenciosa. É preciso escutar o que ela não diz, decifrar suas camadas, sentir no peso de uma rocha o tempo que não se mede em horas, mas em eras. Ser geólogo é isso: cultivar o chão, decifrar abismos, abraçar o mundo pela raiz. Neste 30 de maio, Dia do Geólogo, o IFRN — especialmente o Campus Natal-Central — rende homenagem a esses intérpretes do tempo que fazem da ciência um gesto de cuidado com o planeta e com a memória mineral do Rio Grande do Norte.
Entre os corredores e vitrines do Museu de Minérios do RN (MMRN), instalado no campus desde 2014, esse amor à terra se materializa em mais de 5 mil peças cuidadosamente reunidas, estudadas e expostas. Mas o que há ali vai além das rochas. O que se exibe não é apenas um acervo — é um compromisso com o que nos sustenta. Em 670 metros quadrados, divididos em dois pavimentos e oito ambientes, o museu transforma a ciência geológica em experiência sensível, pedagógica e, sobretudo, poética.
“A missão do museu não é mostrar a pedra mais bonita, mas provocar reflexão”, afirma a geóloga Narla Sathler Musse, coordenadora e curadora do espaço. Em parceria com a professora Anna Paula Lima, ela sustenta o museu com as próprias mãos. Com o apoio de funcionárias como Leonice Cortez e Vânia Tavares, além de bolsistas e estagiários, o museu resiste — movido por paixão, ciência e insistência.
Boa parte das peças vem de um passado que quase se perdeu. O acervo inicial foi construído a partir do resgate do antigo Museu Mineral Valdemar Meira Trindade, desativado com o fechamento da CDM (Companhia de Desenvolvimento Mineral). As amostras ficaram anos encaixotadas, até serem salvas por dois geólogos do IFRN, Ronaldo Fernandes Diniz e Otacílio Oziel de Carvalho. Depois, somaram-se coleções particulares, como a do paleontólogo Felippe Azevedo, de Narla e seu marido, também geólogo, além da chamada coleção viva do curso técnico de Geologia, formada em campo por professores e alunos, ao longo de mais de 50 anos.
“Hoje temos quatro acervos principais, mas só o do IFRN continua crescendo”, diz Narla, destacando o caráter dinâmico do museu, que respira o presente sem esquecer o passado. As exposições são organizadas em salas temáticas, que conectam minerais, fósseis, rochas e conchas às questões humanas e ambientais — da pré-história à mineração contemporânea. Entre as vitrines, há também poesias nas paredes, teatro de bonecos, oficinas e minicursos, que transformam o museu em campo fértil para a imaginação, o debate e a formação cidadã.
Entre as atividades educativas, destaca-se o "Canto e Contos dos Minerais", na qual canções e histórias são entrelaçadas para apresentar os minerais de forma lúdica — voltada à educação infantil e ao público geral, em sessões de até 20 minutos. Há ainda a Oficina de Pintura Rupestre, em que as crianças revivem o uso dos minerais na pré-história, deixando suas marcas como nossos ancestrais faziam. Já o Teatro de Bonecos dá voz a personagens como a scheelita, a halita e a turmalina, que encantam o público infantojuvenil com suas curiosidades. Para estudantes mais avançados, a Oficina de Rochas e Minerais introduz conceitos de classificação geológica, voltada ao ensino fundamental II, ensino médio e visitantes em geral.
As visitas ao museu ocorrem de terça a sexta-feira, das 9h às 12h, com sessões guiadas e agendamento disponível das 13h às 17h. Grupos escolares e instituições podem agendar atividades específicas, garantindo uma vivência imersiva e educativa.
Mesmo na pandemia, o amor à terra não foi suspenso: o museu migrou para o digital, promoveu visitas virtuais e manteve vivas suas ações educativas. Agora, projeta o futuro com um sistema de catalogação online, totens interativos, tablets com conteúdos acessíveis, além da ampliação da infraestrutura digital. A ideia é tornar o museu ainda mais inclusivo, conectando ciência, acessibilidade e autonomia na experiência do visitante.
Mas talvez o que mais impressione no MMRN não sejam as peças em si, mas as vidas que ele forma e transforma. Segundo a professora Anna Paula, há estudante que se formou técnico em Geologia porque conheceu o museu. Como também bolsista que hoje que é doutorando pelo mesmo motivo. Para muitos alunos de baixa renda, atuar como monitores nas visitas guiadas é mais do que extensão, é descoberta e futuro.
Com programação ativa ao longo do ano — em datas como a Semana do Meio Ambiente, o Dia do Geólogo, a Semana Nacional de Museus e a Primavera dos Museus —, o MMRN recebe desde escolas públicas até turistas, pessoas com deficiência e grupos da terceira idade.
Afinal, ser geólogo é cultivar vínculos com o tempo profundo da Terra. É reconhecer, em cada rocha, o vestígio de uma história muito maior do que nós. É transformar o chão em sala de aula e o mineral em pergunta viva. O Museu de Minérios cumpre esse papel com delicadeza e firmeza: valoriza a geodiversidade do Rio Grande do Norte, desperta o olhar científico e promove uma formação cidadã sensível ao território.
Na prática, o museu ensina que amar a terra é também uma forma de conhecê-la e protegê-la. A missão, como definem Narla Musse e Anna Paula, é clara: despertar o amor pela própria terra como um ato de identidade e pertencimento. "Você só ama o que conhece", repetem as geólogas. E é esse sentimento que o Museu cultiva, todos os dias — com afeto, ciência e compromisso.
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