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Filme Mulheres da Lama - UFERSA - enfocando a diversidade e a invisibilidade social é apresentado na reunião pedagógica - 2015.2

A obra enfoca a temática Educação Popular, a qual promove discussões em torno da Diversidade e Invisibilidade Cultural, Gênero, Negritude e Trabalho. São assuntos atuais que devem ser tratados dentro das salas de aula com sabedoria, imparcialidade e respeito.

Publicada em 12/01/2016 Atualizada há 1 ano, 3 meses

Foto retirada do site da UFERSA/MO

O Campus Mossoró iniciou suas atividades acadêmicas referentes ao Semestre Letivo – 2015.2, na última segunda feira (11), com a apresentação do Filme/Documentário “Mulheres da Lama – saberes e sabores nas raízes do manguezal, um curta universitário produzido pelos estudantes Francisco Bezerra (Direção) e, Chagas Santos (Roteiro), sob a coordenação do Professor Luiz Gomes. Fruto de um projeto de extensão da UFERSA que enfoca, principalmente, a temática Educação Popular, promovendo, assim, discussões em torno da Diversidade e Invisibilidade Cultural, Gênero, Negritude e Trabalho. Assuntos bastante atuais do século XXI que devem ser tratados dentro das salas de aula com sabedoria, imparcialidade e respeito, visando estimular a inclusão social, um direito de todos, como forma de cidadania entre os jovens.

O documentário retrata a história de vida da senhora Terezinha de Jesus, 84 anos, natural de Porto do Mangue, marisqueira, negra, viúva e batalhadora. Ela ficou órfão aos 4 anos, por isso começou a trabalhar na lama do manguezal muito cedo, casou jovem e teve 19 filhos, destes apenas 7 chegaram a fase adulta. Ao longo da vida de Terezinha ela enfrentou a viuvez, fome, escassez, solidão, preconceito e o desespero de ter que ser pai e mãe ao mesmo tempo, pois ela criou todos os filhos sozinha trabalhando duro diariamente.

Há mais de sete décadas Terezinha de Jesus pisa na lama para garantir a sua existência, essa realidade é narrada na obra pela própria senhora, que, apesar das dificuldades, se mostra feliz e satisfeita com a profissão que desempenha; e por seus filhos, muito emocionados eles falam com orgulho da velha mãe que nunca teve coragem de abandoná-los, mesmo mediante a estrema pobreza que os assolava. Hoje, eles afirmam que venceram as lutas do passado. Olhando para essa afirmação, por meio do documentário, há quem diga que ainda falta muito para eles vencerem, pois ainda reina muita diferença social entre o meio em que eles vivem e a sociedade de consumo.

Dessa forma, fica evidente que a luta e a resistência de dona Teresinha para garantir a sua existência e a da sua família no meio social moderno, marcado pela divisão de classes, cujas pessoas dominantes são altamente excludentes, preconceituosas, machistas e mercantilistas, não foi fácil para ela, principalmente, porque de forma consciente ou inconsciente dona Terezinha e seus patrícios, e demais excluídos socialmente também, lutam, diariamente, contra os tradicionais conceitos estereotipados apregoados pelos poderosos capitalistas que estão à frente do poder, os quais, entre tantas outras metas, visam oprimir e manipular as classes mais baixas com o básico objetivo de favorecer os seus próprios interesses. Isto é, o rico continua cada vez mais rico e o pobre cada vez mais oprimido e privado de ter uma educação de qualidade, digna e que o liberte do cárcere da desigualdade social extrema.

No contexto capitalista, as pessoas são capacitas para valorizarem o “ter” ao contrário do “ser”, bem como para fazerem distinção entre raças, classes sociais, sexo, etnia, etc. Assim sendo, ser preto ou branco, homem ou mulher, rico ou pobre são fatores considerados primordiais para o cidadão do século XXI ser bem-sucedido e aceito no tradicional sistema social. Dessa forma, de acordo com esses ideais, quem não consegue se enquadrar nos parâmetros citados acima está destinado a ser excluído e marginalizado socialmente.  

Para o docente Luiz Gomes, esse filme trata a temática Educação Popular como uma forma de se perceber como as pessoas vivem sem a escola e como elas se organizam socialmente, ou seja, “estamos querendo dizer o seguinte: existem pessoas fora da escola ensinando e aprendendo também, então infere-se que não é só a escola que ensina, não é só na escola que aprendemos as lições da vida, por isso usamos Mulheres da Lama com o objetivo de retratar formas de Educação Popular em contextos escolares”, explica.

Foi motivado pelo contexto das temáticas diversidade e invisibilidade social que a direção do Campus Mossoró convidou a equipe do documentário para fazer a apresentação de Mulheres da Lama, com o intuito de abordar tais temáticas como forma de analogia com a sala de aula, cuja comunidade acadêmica é composta por jovens de várias classes sociais, raça, etnia, diversidade sexual, etc. Dessa forma, incentiva-se um trabalho pedagógico inclusivo para que todos os alunos que fazem parte desta escola se sintam livres e a vontade da forma que eles realmente são. “Perfeito, usamos a diversidade social como um fio condutor para começarmos a discussão, abordamos assuntos relacionados aos gays, negros, excluídos sociais, racismo, homofobia, enfim, tratamos das classes sociais vistas com certa invisibilidade pelo meio social dominante" enfoca Luiz Gomes.

O docente ainda destaca que essas pessoas lutam para serem aceitas. "Como professor eu tento mostrar como lidar na sala de aula com toda essa diversidade, não podemos mais continuar imaginando que todos os alunos são iguais, que eles têm o mesmo perfil, pois estamos diante de um século novo, de um público diferente, que pensa diferente, por isso de alguma forma nós, docentes, temos que pensar numa aula diferente também. Agradeço por este espaço que nos fora cedido pelo Campus Mossoró para mostrarmos o nosso trabalho que foi feito com muito carinho e amor. É uma oportunidade que suscita discussões que favorecem o debate pedagógico. Geralmente, após assistirem Mulheres da Lama as temáticas abordadas pelos presentes proporcionam debates muitos ricos e as pessoas saem bastante sensibilizadas e pensativas. Se apenas uma pessoa entender o recado que queremos passar por meio dessa obra eu fico feliz e realizado", frisa Luiz Gomes.

Segundo Francisco Bezerra, Mulheres da Lama ficou classificado em primeiro lugar entre 1600 trabalhos escritos do mundo inteiro, na categoria curtas universitários, por meio de uma oferta do Canal Futura. Como reconhecimento, a obra vai ser lançada, nacionalmente, em breve. “Eu acredito muito no olhar, na sensibilidade de podermos enxergar as pessoas como se elas fossem nós mesmas, de vivenciar suas histórias de vida e até sentir o cheiro delas”, diz o diretor, com consanguinidade. Ele também mora em Porto do Mangue, por isso conhece de perto o legado de vida de Terezinha de Jesus e seus familiares. Assim, nessa empatia, Francisco conclui: “Terezinha é aquela mulher que eu sempre a vi sair num barco para trabalhar e ganhar o sustento dos seus filhos e netos, tenho afinidade com essa história contada pelas mulheres da lama”, finaliza Francisco.