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Festival Cinema pela Verdade

1ª Edição do Cinema pela Verdade, em Mossoró, é realizado no Campus

Foi produzindo um artigo referente à temática Ditadura Militar e suas respectivas mazelas sociais, capaz de oprimir uma nação.

Publicada em 13/04/2015 Atualizada há 1 ano

Ao longo da última sexta-feira (11), foi realizado, no auditório do IFRN – Campus Mossoró, duas sessões do Projeto CINEMA pela VERDADE. Esta foi a primeira vez que o Projeto pôde executar sua missão em Mossoró, graças ao apoio do Professor de Filosofia, Mauro Rogério, responsável por organizar o evento fazendo parte da comissão, e dos alunos dos 1º anos dos Cursos de Eletrotécnica e Informática.

O CINEMA pela VERDADE é uma mostra de filmes sobre o período da Ditadura Civil Militar no Brasil e suas respectivas consequências. “É importante promovermos eventos desse tipo porque, por meio deles, a sociedade começa a responder sobre a situação política da conjuntura atual. Isso possibilita inserir as pessoas num efeito multiplicador de informação. Dessa forma, a sociedade fica mais consciente e pode ir às ruas para exigir as mudanças políticas necessárias para que o nosso país se desenvolva cada vez mais e a democracia seja fortalecida, explica Luiz Alves, ex-militar.

O palestrante Luiz Alves foi preso, torturado e teve sua companheira morta, no golpe de 64. Ele passou por diversos momentos terríveis enquanto esteve preso, por isso quando ver “jovens” indo às ruas pedir intervenção militar, ajuíza consigo mesmo: “isso é fruto das conjunturas políticas atuais, pois, no momento temos um Governo com seu partido em crise, as massas estão desmobilizadas pela influência dos partidos da direita, e a mídia ainda está acicatando cada vez mais as contradições existentes na sociedade”, ressalta.

Ainda de acordo com ex-militar, os partidos da direita são os “atuais poderosos, são os capitalistas, são os burgueses, que estão instrumentalizando esse movimento de massa que está aí pela direita, mobilizando um golpe contra a democracia, e pelo retorno dos militares. Na minha opinião, isso é o mais grave”, defende o Palestrante. Luiz Alves Neto, trabalhou na imprensa local, quando foi libertado do cárcere da Ditadura Militar. Prestei serviços no diário de Mossoró, em 64, ele foi fechado pelo Golpe Militar. Depois trabalhei no Jornal O Mossoroense, com Dorian Jorge freire, o respeitado mestre do jornalismo da nossa região. Em seguida, trabalhei no Jornal Gazeta do Oeste, com o jornalista Canindé Queiroz, logo após, retornei ao meu emprego no Banco do Brasil, onde trabalhava antes de ser um preso militar.

Durante a realização do CINEMA pela VERDADE, no Campus, duas sessões foram exibidas ao longo da programação, na última sexta-feira (11). A primeira exibição foi o documentário "500, os bebês sequestrados pela Ditadura Argentina", e a segunda foi  "Democracia em preto e branco". Para o professor de Filosofia do Campus, a importância de se desenvolver Projetos como esse “é que estamos constituindo um espaço que possa exigir não só que venha à tona a verdade sobre o período lastimável da nossa história, mas que também possa ser um espaço de constituição de exigência para se fazer justiça ao momento em que pessoas desapareceram sendo torturadas e mortas. Ainda hoje, tem pessoas que sofrem com os acontecimentos desses fatos, porque eram muito jovens e tiveram os seus pais desaparecidos ou sendo crianças sofreram as atrocidades desse período negro da história”, explica Mauro Rogério.

O referido professor, ainda, ressalta que a realização desse Projeto é uma oportunidade  para chamar a atenção da atual geração que não viveu no período militar, e podem de alguma forma estar alheios aos seus acontecimentos . “Diversas pessoas não têm total substância para se posicionarem diante de iniciativas tão desastrosas como as que estamos vendo na atualidade, fazendo exigências de retomadas dos movimentos e golpes militares que aconteceram em tempos passados”, frisa Mauro.

Assim sendo, a iniciativa do Projeto CINEMA pela VERDADE vem para sensibilizar a população e, principalmente, a juventude, visando que eles não caiam no conto de fadas que está sendo projetado nos meios de comunicação de massa e pelas forças revolucionárias, de um modo geral, no Brasil. Pois, esses idealizadores frisam que um novo golpe militar é o melhor futuro para o país, melhor do que o exercício do mandato da atual Presidenta, eleita democraticamente na última eleição.

“Em minha opinião, os jovens e as demais pessoas que vão às ruas lutar por um novo golpe (intervenção militar) não sabem ao certo o que estão fazendo. Pois, iniciativas como essa refletem que essas pessoas tem pouco conhecimento sobre o referido assunto ou tem más intenções, porque acreditam que irão se beneficiar com o novo golpe militar de alguma forma. Por isso, quanto mais nós desmistificarmos essa questão da Ditadura Militar no Brasil melhor será para quebrarmos o mito de um novo golpe”, relata o estudante do 1º ano de Eletrotécnica, Marcos Vinícius. Dessa forma, o CINEMA pela VERDADE atua como um papel chave diante desse quadro social específico, quebrando mitos, conceitos estereotipados e propondo novas discussões reflexivas.

A partir desse novo fato, isto é, pessoas indo às ruas para pedirem intervenção militar, o CINEMA pela VERDADE ganha mais um incremento que precisa ser analisado urgentemente, porque antigamente seu objetivo era mostrar a realidade de uma época (Ditadura Militar) que pouca gente conhece, e promover discussões referentes a ela. Hoje, com esse “novo fato,” as discussões precisam ser ampliadas e estendidas ao número máximo de cidades deste país, o mais rápido possível, pois desmistificar paradigmas errados referentes a um novo golpe militar é dever de todos os que entendem deste assunto.

No entanto, “devido as dificuldades financeiras e a falta de apoiadores, os responsáveis pela realização do Projeto CINEMA pela VERDADE se concentram, prioritariamente, em Natal. O motivo se deve ao fato de que esse é um trabalho voluntário, “por isso não arrecadamos fundos suficientes por meio desse projeto. O orçamento é limitado e a cada ano ele se reduz mais, então não temos verbas para promovermos transporte e alimentação, dessa forma não podemos nos mobilizar em todo o Rio Grande do Norte”, esclarece, lamentando, Renata Pirro, estudante de Jornalismo da UFRN.

Para o Projeto ser expandido, “só precisamos de convites, de alguém que nos dê apoio abrindo as portas dos seus estabelecimentos, pois não temos verba para investir. A falta de apoio é uma pena, porque as pessoas precisam ser esclarecidas no assunto: Ditadura Militar, para elas reagirem melhor socialmente”, enfoca Renata.

No ano passado, os organizadores do Projeto conseguiram ir à Touros, eles receberam o apoio de alguns professores que abriram as portas para a realização desse Projeto nessa cidade. “E neste ano, finalmente, estamos aqui, no Campus Mossoró, graças ao apoio do professor Mauro Rogério, que nos abriu as postas para a iniciativa desse Projeto, nesta cidade. Agradecemos à oportunidade que nos fora concedida”, acrescenta a estudante e produtora do Projeto, no Rio Grande do Norte, Renata.

O Projeto CINEMA pela VERDADE é mobilizado pelo ICEM - Instituto Cultura em Movimento. No ICEM, os projetos são acessíveis e muito simples. Contudo, tem uma força muito grande, porque “sabemos que revolução, hoje, não se faz ‘tomando a pastilha e quebrando tudo’, ao contrário, é um trabalho de formiguinha, falando para 40 ou 70 pessoas e, daí então, quando elas chegam em casa vão logo falando aos seus familiares”, diz, convicta, Renata. Cada indivíduo é um disseminador de informações, “é justamente esse tipo de trabalho que nós vêm promovendo por meio desse Projeto, durante os anos que ele existe no Brasil”, tornar-se visível Renata.

O CINEMA pela VERDADE está na sua 4º edição, é uma iniciativa cultural que acontece em todo país. Ele acontece da seguinte forma: as pessoas, necessariamente, assistem aos documentários. Daí então, no segundo momento, são promovidos debates abertos entre os palestrantes convidados e o público participante, na tentativa de fazerem uma assimilação entre os fatos históricos da Ditadura Militar e os enredos dos documentários. “Isso mesmo, primeiro acontece a exibição do filme, depois os palestrantes falam por 15 minutos e em seguida, o público participa trocando ideias ou enviando-lhes perguntas”, explica Ana Flávia Oliveira, aluna de Informática do Campus.

Fatos permanecem ocultos após 50 anos da Ditadura Militar

Muito do que aconteceu durante o período da ditadura ainda não foi revelado, mais de 50 anos já se passaram, e ao que tudo indica, o mistério anda longe de ser solucionado. “Fato, por isso torço para que os historiadores consigam encontrar, de alguma forma, novos documentos que servirão, basicamente, para desconstruir antigos mitos. Certamente, novos fatos ajudarão a mapear melhor, e de forma coerente, a história do triste período dos brasileiros que tiveram seus destinos e vidas traçados na Ditadura Militar”, enfoca Marcos Vinícius.

Mediante o exposto, acredita-se que os brasileiros torcem juntos com o estudante de Eletrotécnica acima, pois novas descobertas são essenciais para a recente história brasileira ser contada como ela realmente deve ser. “Precisamos saber o que aconteceu na Ditadura com tenacidade, dessa forma, qualquer inovação referente ao assunto é um novo conhecimento específico da nossa história recente que contribuirá para sabermos o que aconteceu com as pessoas que foram vítimas da Ditadura Militar brasileira.

“Presenciar pessoas pedindo intervenção militar dói para quem assiste aos depoimentos de memórias vivas, como os exibidos nos documentários deste projeto, dói para quem se aprofundou na história e tem um sentimento de repulsa contra tudo isso”, reflete, com sentimento de empatia, Ana Flávia Oliveira. Uma jovem de apenas 16 anos que estuda para se inteirar sobre o meio social em que ela vive, pois o conhecimento buscado com ousadia e imparcialidade, isto é, todo pesquisador deve ser neutro em suas pesquisas, aprimora o entendimento e a inteligência de quem o busca. Em outras palavras, saber perceber o meio social em que se vive com precisão é reflexo de sabedoria e ao mesmo tempo de empatia, pois todos estão sujeitos as mesmas trajetórias socialmente quando lhes são impostas.

Na sociedade brasileira ainda são imprecisos os dados sobre o golpe militar, a ditadura e as graves violações dos direitos humano. É necessário que se promova cada vez mais discussões sobre essas temáticas explanadas nesta matéria, tipo: o golpe que derrubou um presidente legítimo e uma ditadura que cessou a liberdade de expressão, torturando e sequestrando milhares de brasileiros, e o silêncio estarrecedor que persiste perpetuar até hoje, com o objetivo de ocultar os fatos que assolaram toda uma nação, há pouco mais de 50 anos, surrealmente, de forma fantasmagórica.

Dias difíceis de viver

 A Ditadura Militar, especificamente o AI-5, foi um período em que várias famílias foram destruídas brutalmente. O sonho de liberdade social era uma utopia impossível de se concretizar naqueles dias de luta movidos pelo ódio. “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Mas, como deixá-lo se muitos estavam presos e condenados à morte, vivendo como se já pertencessem ao mundo dos mortos, sem direito algum, nem para escolher a forma que queria morrer?

A dor e o desespero eram os sentimentos que mais prevaleciam dentro das vítimas que viviam amedrontadas, essa realidade era motivada pelos dias difíceis que elas enfrentavam. Acreditar que aqueles dias eram reais e não constantes pesadelos era difícil de se entender e de se aceitar, pois de repente a “vida” tinha se transformado numa masmorra sem limites, meio e fim, onde a única certeza era a morte. Do amanhecer ao anoitecer, muitos nem viam a luz nem a escuridão dos dias, porque vivam como se estivessem em sepulturas esquecidas de fechar. O único sinal de vida era apenas um coração que ainda insistia em bater, motivado pela força de um corpo que insistia em viver, mesmo em situações extremamente precárias e adversas. A vida tem seus mistérios, assim como a intuição dos homens mal.

 As vítimas da Ditadura Militar nunca sabiam, ao certo, quando seria o último dia de suas vidas. Os dias passavam lentamente para os prisioneiros que tinham suas vidas ceifadas pelo ódio dos militares que só queriam “governar a Pátria sob o raio da justiça”. Justiça essa que privilegiava uma minoria e exterminava uma nação. “E viviam como se nunca fossem morrer... e morriam como se nunca tivessem vivido”, Dalai Lama.

 Mediante as atrocidades relatadas durante o período da Ditadura, esquecidas ou ignoradas pelos cidadãos que vão às ruas pedir intervenção militar, motivados pelo egocentrismo ou pelo analfabetismo generalizado, informamos, ressaltando, que os sobreviventes da Ditadura e os descendentes das vítimas merecem respeito por parte dos que insistem em omitir as informações necessárias à história nacional deste país. “Por isso, precisamos debater sobre o senso comum autoritário que está presente em nossa sociedade e sobre as várias incertezas que ainda temos sobre esse período da nossa história”, reforça Ana Flávia Oliveira.

Direito de escrever a história recente do povo brasileiro

A omissão das informações referentes à Ditadura Militar, após pouco mais de 50 anos do golpe militar, é uma afronta a liberdade de expressão brasileira, pois o povo tem o direito de conhecer, entender e de analisar o recente passado histórico do seu país.

“Isso mesmo, eu me sinto como se minha própria história me tivesse sido negada, nasci em 1985, essa data me marcou demais, porque foi justamente o ano em que a ditadura militar terminou (teoricamente). Sabemos que há relatos de perseguições que persistiram até 1995, no entanto, se percebermos e analisarmos coerentemente o que acontece em nosso país, há perseguições até os dias de hoje, pois o Estado ainda tem licença para matar diariamente (...), muitos seres ainda são matáveis, infelizmente. Finaliza, consciente do meio social em que vive, a estudante Pernambucana de jornalismo, da UFRN, Renata Pirro.

A Ditadura Militar

A Ditadura Militar pode ser definida como sendo o período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política, repressão aos que eram contra o regime militar e mortes.

O evento contou com participação dos palestrantes Nelson Marques, presidente do Cine Club, em natal, e Coordenador da Amostra CINEMA pela VERDADE, no Rio Grande do Norte; do ex-militante político, preso e torturado na Ditadura Militar, Luiz Alves, natural de Areia Branca, mas residente em Mossoró; da equipe de produção do evento, como a estudante do 6º período de Jornalismo da UFRN, Renata Pirro, e a estudante de Informática do Campus, Ana Flávia Oliveira; do professor, Mauro Rogério, apoiador do evento; e da plateia, composta por jovens e adultos.