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2023: Professor trabalha empatia através da literatura
Turma emocionou-se com em trabalhos sobre “O apanhador no campo de centeio”
Publicada por Rafael Pinheiro em 03/10/2024 ― Atualizada há 1 mês, 1 semana
No início do ano letivo 2023, o professor Wiliton Martins propôs à turma do terceiro ano do curso técnico integrado em Agroecologia a leitura do romance “O apanhador no campo de centeio” (1951), de J. D. Salinger, considerando a previsão de estudo desse gênero textual naquele ano escolar.
O apanhador no campo de centeio
A escolha do texto se deu tendo em vista o narrador-protagonista da obra, o Holden Caulfield, que poderia gerar uma identificação entre os alunos por se tratar de um ser juvenil.
Para instigá-los naquele momento, o livro físico foi levado à sala de aula e lido o primeiro capítulo, buscando despertar nos estudantes curiosidades em torno da voz narrativa. Seguindo o planejamento, no terceiro bimestre, a turma iria trabalhar mais diretamente com a obra, e, por isso, os alunos realizariam a leitura até lá.
Primeiras impressões
No decorrer dos dois primeiros bimestres, entre um assunto e outro, o professor monitorou o progresso da leitura, perguntando sua compreensão e opinião sobre o texto, em que parte da estória se encontravam, se havia alguma dificuldade, etc.
Nesse instante, alguns avaliaram Holden como um personagem chato, insuportável, louco e, por causa disso, diziam que não estavam gostando do livro e que era melhor ter escolhido outro. A reação o professor surpreso e preocupado com o seguimento da proposta, mas resolveu seguir com ela.
Terceiro bimestre
Enfim iniciando as atividades pensadas para o período letivo, o professor realizou uma exposição dialogada em torno do gênero textual romance e uma breve contextualização sobre Salinger, o livro “O apanhador no campo de centeio” e o contexto de sua publicação.
As atividades que a turma realizaria seriam: produção escrita de um comentário sobre a obra ou de uma cartinha pessoal endereçada a um personagem do romance; partilha oral na roda de leitura; e produção em grupo de um vídeo curto sobre um tópico do romance.
Produções
“Os trabalhos foram primorosos. O primeiro me encheu de orgulho da turma pelo esmero dedicado”, contou o professor Wiliton, parabenizando os estudantes.
Foram produzidas mais de 30 cartas literárias, todas com um embrulho ou acabamento que deixaria qualquer um curioso para abri-las e desvendar o seu conteúdo. Martins falou ainda de sua emoção ao receber os trabalhos: “abri-las foi a parte mais emocionante e impactante. Além de serem cartas bem escritas e coerentes ao livro e aos personagens, são cartas com algumas confissões, cartas que contemplam ilustrações, cartas com presentes aos destinatários”.
A aluna Marissa, por exemplo, escreveu uma carta sensível dirigida ao personagem Allie, criança morta do livro, e o relacionou ao seu avô falecido. No envelope, ela desenhou o avô a abraçando e abraçando Allie.
Já os alunos Ivo e Keven queimaram as bordas das cartas e mergulharam estas em café, trazendo um texto que aparenta ser antigo. A aluna Ingrid escreveu aos patos do Central Park com quem o protagonista se assemelha pela natureza migratória inerente, assim como pela alusão ao patinho feio dos contos clássicos.
Enquanto isso, a aluna Yasmin ilustrou seu texto com uma imagem de Holden e acrescentou duas canções que lembram o protagonista. A aluna Mayra escreveu duas cartas que se correspondem: uma de Jane para Holden e outra desse para aquela. Mayra ainda incluiu características da escrita dos personagens no acabamento dos envelopes.
Por sua vez, a aluna Ayslla simulou que era uma psicóloga ao produzir um laudo psicológico do personagem Caulfield, uma vez que a história do livro é resultado de um exercício terapêutico para o personagem, após ele entrar em colapso.
FOTOS DAS CARTAS
Roda de leitura
A atividade foi iniciada com uma pergunta do professor, concernente ao enredo, e ela foi o suficiente para ensejar uma discussão voluntária entre os alunos, desde a descrição dos elementos da narrativa, passando pela sequência dos fatos, até a reflexão sobre o elo entre literatura e sociedade.
A turma ainda buscou atribuir sentido aos acontecimentos narrados. Como por exemplo, a complexidade de Holden, a sua relação com as crianças, o museu e os patos do Central Park e a relação entre Jane e o seu padrasto.
“De todos os comentários, destaco o da aluna Júlia, que detestava o Holden e anunciou na sala que mudou a sua opinião sobre o personagem”, comentou Wiliton. Seu destaque não se deu somente porque a estudante enfim teria gostado do personagem, mas sim pelo sinal de empatia que o texto literário despertou nela.
“Inclusive, Compagnon e Calvino, em ‘Literatura para quê?’ e ‘Por que ler os clássicos’, respectivamente, apontam esse argumento na defesa da literatura: a sua capacidade de dar visibilidade ao outro e às suas motivações”, completou o professor Martins sobre a importância da atividade e do sucesso em realizá-la com a turma de Agroecologia, reforçando o papel da literatura na formação humana e cidadã.
Criatividade audiovisual
Quanto aos vídeos temáticos produzidos, o docente avaliou como ótimos os trabalhos desenvolvidos pelos grupos, atendendo aos critérios avaliativos propostos, sendo eles: qualidade do conteúdo, qualidade da apresentação e criatividade.
- Palavras-chave:
- Salinger O apanhador no campo de centeio Literatura Agroecologia Campus Ipanguaçu