Portal IFRN

Educação, Ciência, Cultura e Tecnologia em todo o Rio Grande do Norte

Divulgação científica

Professora defende a tese de que Turismo é atividade humana e de experiência

Paula Binfaré fez levantamento no Twitter para identificar os novos sentidos relacionados à atividade

Publicada em 28/09/2020 Atualizada há 1 ano

Paula Binfaré defendeu a sua tese em 2018, pela UFRN

O que é o Turismo? A pergunta mobilizou a professora Paula Wabner Binfaré, do Campus Canguaretama do IFRN, a desenvolver a tese de doutoramento "As transformações conceituais de turismo à luz da complexidade do lazer na hipermodernidade"

A complexidade no título faz referência aos estudos do sociólogo Edgar Morin, uma das referências da pesquisa, e não à dificuldade de entendimento. Muito pelo contrário. A professora se inquietou com os conceitos já existentes de Turismo que, em sua maioria, faziam relação apenas com a Economia (valores monetários deixados nos locais de destino) ou com a ideia de deslocamento. O resultado encontrado por Paula foi um novo sentido para a atividade: Turismo como experiência humana.

Com a pandemia de Covid-19 e o impedimento das pessoas viajarem, o tema passou a ser foco de discussões. Paula foi então convidada pelos produtores do Podcast Dazumana a falar sobre o tema. Durante a entrevista, a professora explicou: "eu queria saber mesmo enquanto pesquisadora, enquanto estudiosa, enquanto profissional da área o que é esse fenômeno que às vezes a gente trata como setor, às vezes a gente trata como atividade".

A pesquisa foi realizada de 2015 a 2018 e a tese aprovada em 2018 pela UFRN. A pesquisadora utilizou como norte a fenomenologia que, de acordo com Paula, busca os sentidos extraídos dos sujeitos a partir do próprio acontecimento. Para isso, ela utilizou como campo de pesquisa o Twitter, fazendo filtros em postagens com as palavras Turismo e Lazer. Isso porque a professora queria estudar também as relações entre a prática do Turismo e as concepções de lazer para o mundo hipermoderno. Para essa classificação do tempo, ela se baseou em autores como o próprio Morin e Bauman, que defende a modernidade como um tempo líquido, em que os modelos clássicos não se sustentam e tudo está em constante mudança. Ela queria saber o que era Turismo e quais os sentidos as pessoas davam a isso na era hipermoderna.

A professora percebeu mudanças nas concepções das duas palavras. O lazer, por exemplo, passou a ser entendido também como estado de espírito e não apenas como um prazer adquirido em um tempo livre. Alguém exercendo uma atividade remunerada que aprecie pode afirmar que está em lazer, ou numa celebração religiosa, por exemplo.

Com leituras também no campo das Ciências Sociais, a professora chegou à ideia de Turismo como experiência humana de enraizamentos e desenraizamentos. Para ela, o objetivo do turismo não é o lazer, mas o próprio turismo. Segundo a pesquisa, o desenraizamento começa no processo de planejamento da viagem. A ligação com o local de destino gera novos enraizamentos e, no retorno, um novo desenraizamento. "Quando você volta, você volta você, mas um pouco do outro", declarou durante o podcast.

Paula Binfaré destaca ainda que o conceito apresentado na sua tese não se confunde com a ideia mercadológica de "Turismo de experiência", uma vez que não é possível mensuração. Não é apenas uma viagem a uma tribo indígena, por exemplo, que gera uma experiência. A gente não mensura a experiência. De acordo com a professora do Campus Canguaretama do IFRN, esse tipo de categorização, como "Turismo de aventura" ou "Turismo de escapada", serve mais ao mercado.

Nesse sentido, a pesquisadora defende a vinculação do curso à área de conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas, como é na UFRN. Em algumas universidades, está vinculado às áreas que abarcam a Economia. “Tem ali um sujeito que é humano. Porque se as pessoas não saírem, se as pessoas não turistarem, você não vai ter estatística nenhuma para fazer. O Turismo parte do estudo do homem", declarou Paula aos entrevistadores do Dazumana. Perguntada se o Turismo seria uma prática antropológica, respondeu: "É uma experiência transformadora. Quase nunca será uma experiência antropológica, por questão de objetivo. Mas pode ser um mergulho por essa área".

As intenções de Paula, agora, são aplicar e amplificar a pesquisa em instituições que trabalhem a hospitalidade. De acordo com ela, são necessárias outras visões para conseguir levar o conceito também às práticas do turismo mais massificado, de agências, buscando transformações e mais humanização.

Acesse:

Podcast Dazumana - Turismo é sinônimo de lazer?

 

 

As transformações conceituais de turismo à luz da complexidade do lazer na hipermodernidade