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Docentes do Campus Canguaretama participam da Reinauguração do Museu do Índio Luíza Cantofa e da VII Assembleia Indígena do RN (AIRN)

As iniciativas buscam lutar por visibilidade e direitos dos povos indígenas

Publicada por Sara Gomes em 28/07/2023 Atualizada há 9 meses, 3 semanas

Os professores Nilton Xavier Bezerra (NEABI e Observatório da Diversidade) e Márcio Monteiro Maia (Saberes Indígenas na Escola e coordenador da Licenciatura em Educação do Campo) participaram no dia 26/07/2023 representando o Campus Canguaretama de um importante marco simbólico para a história dos povos indígenas do Rio Grande do Norte: a reinauguração do Museu do Indio Luíza Cantofa (primeiro museu indígena em terras potiguares) e VII AIRN.


O museu está situado no município de Apodi, às margens da Lagoa homônima. O concorrido evento contou com expressiva participação da sociedade apodiense, de grupos indígenas vindos de diferentes regiões do Estado, representantes da gestão estadual, municipal, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas - FUNAI, além professore(a)s/pesquisadore(a)s da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e dos Institutos Federais, Campus de Apodi e Canguaretama, notadamente vinculados ao Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI).

O referido museu e o Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi, não são iniciativas recentes, criados em 07 de fevereiro de 2013, são instituições materializadas pela resistência de Lúcia Paiacu Tabajara, liderança indígena comprometida em romper a narrativa dominante de apagamento sobre a presença dos povos originários, em especial, na região do Oeste Potiguar. Ao nomear o museu de Luíza Cantofa, Lúcia reacende a memória da mulher Tapuia Paiacu, nascida na terra correspondente ao atual município de Apodi e assassinada nas imediações de Portalegre em 03 de novembro de 1825 por desafiar uma sociedade alicerçada em valores colonialistas, patriarcais e conexos à uma perspectiva monocultural de mundo.

A reinauguração do museu ocorreu durante a programação da VII Assembleia Indígena do Rio Grande do Norte (AIRN) e da IV Assembleia de Mulheres Indígenas do RN (AMIRN) sediadas em 2023 no município de Apodi. Dentre os assuntos debatidos e encaminhados pelos eventos: Saúde Terra, Território, Meio Ambiente; Etnodesenvolvimento; Cultura, Juventude e Mulheres, Fortalecimento político e Educação. Numa mesa redonda destinada a tratar especificamente sobre a educação escolar indígena no RN, o IFRN reforçou sua parceria na capacitação dos professores indígenas do RN, através da ação Saberes Indigenas na Escola, coordenado pelo campus Canguaretama. Na oportunidade, ainda foi ressaltada a importância da formação continuada pelo IFRN de 60 professores indígenas, nas 4 etapas de formação, desde 2016, para a consolidação da categoria de professor indígena para atuar nas escolas indígenas estaduais e municipais.

Notícia

Para Lúcia, pensar o museu significou recuperar o histórico de lutas e os fragmentos da cultura material atribuída ao seu povo, vale salientar, num contexto no qual a historiografia oficial sustentou durante décadas o discurso de uma hipotética e total eliminação da existência indígena em solo potiguar. Após uma década de sua criação, marcada pela persistência em não ceder às discriminações e recorrentes tentativas de silenciamento, o admirável esforço pessoal de Lúcia, permite que o museu enfim migre do espaço público/privado inicialmente estruturado na sua casa para o belo edifício margeado pela Lagoa do Apodi, adaptado às normas de acessibilidade e dotado de recepção, espaços expositivos e miniauditório.

De agora em diante, efetivamente, como espaço privilegiado de educação para as relações étnico-raciais e gerador de conhecimentos que problematizam as fragilidades da narrativa hegemônica, estimamos que em sua nova sede, o museu encoraje e fortaleça as vozes e as histórias de superação de outras tantas Luízas e Lúcias, mulheres indígenas corajosas, insubmissas ao discurso monocultural imposto para silenciá-las.