Portal IFRN

Educação, Ciência, Cultura e Tecnologia em todo o Rio Grande do Norte

Reconhecimento

Campus Canguaretama é elogiado por professor europeu

Flávio Nunes destacou os esforços do campus para promover o desenvolvimento da região

Publicada em 28/01/2014 Atualizada há 1 ano

O professor Flávio Nunes, da Universidade do Minho, de Portugal, realizou uma visita técnica ao Campus Canguaretama do IFRN em dezembro de 2013. No retorno da sua viagem, escreveu um email ao diretor geral do Campus, Valdelúcio Pereira, destacando suas principais impressões acerca da estrutura e das ações desenvolvidas na unidade do Instituto. O professor esteve em Natal para participar das Jornada Doutoral em Ciências Sociais, promovida pela Pró-Reitoria de Pesquisa do IFRN. Confira abaixo a íntegra da mensagem enviada por Flávio:

"Caro Valdelucio, 

Depois de regressar de Natal fui tomado pelas responsabilidades familiares da época natalícia e de final de ano e apenas agora estou a conseguir retomar a rotina habitual.

Antes de entrar nessa rotina e fazendo um balanço sobre a minha estadia no IFRN não posso deixar de salientar que a maior surpresa da semana que passei convosco em Dezembro foi, sem dúvida, a oportunidade que tive de conhecer o novo campus do IFRN em Canguaretama. Fiquei verdadeiramente impressionado e por variadíssimas razões: 

- percebi tratar-se de um projecto que tem na sua matriz fundadora os ideais e princípios do desenvolvimento sustentável, quer na sua vertente económica, ambiental e social; 

- na vertente económica, é de enaltecer o esforço meritório com que procuram dinamizar a economia local incentivando, por exemplo, formações de agricultura familiar, abertas à participação da comunidade envolvente, o que revela uma consciencialização profunda do potencial inerente a este IFRN enquanto verdadeiro instrumento de desenvolvimento local e comunitário; 

- na vertente social, a preocupação de envolver membros das comunidades vizinhas e mais carenciadas na construção e manutenção deste equipamento, demonstra uma consciência profunda de que o desafio da sustentabilidade é algo que deve estar sempre presente na tomada das nossas decisões, das mais estratégicas e de longo alcance às mais imediatas e quotidianas; 

- na vertente ambiental, fiquei maravilhado não apenas com a preocupação de reutilização das águas pluviais mas também com as preocupações que revelam no sentido de preservar espécies como os coqueiros ou cajueiros, o que não só é um sinal de perpetuação da memória do lugar, mas também da tentativa de reforçar a ideia de que o campus não está desligado da comunidade envolvente, nem em termos sociais e económicos nem tão pouco em termos do sistema bio-geo-físico. 

Para além disso queria destacar um aspecto que pode parecer superficial mas que para mim demonstra todo o carinho e cuidado com o modo como este IFRN está a ser concretizado. Denotei na minha visita uma atenção especial com aspectos de detalhe e de pormenor associados a questões estéticas e de embelezamento dos espaços exteriores e interiores, relacionados por exemplo com o ajardinamento, limpeza, arrumação e organização. Esta atitude face à organização julgo que acabará por perpassar para quem frequenta este espaço, com vantagens que certamente se irão tornando evidentes. 

Por fim, não quero deixar de expressar as potencialidades únicas que me parece que este IFRN pode ter no que respeita à qualificação em turismo. A meu ver, a proximidade a comunidades indígenas e de afro-descendentes, com as quais este IFRN já tem relações e projectos em curso muito significativos, é algo que deve ser visto como um trunfo para este equipamento, que tem todas as condições para se poder afirmar, no contexto nacional e até internacional, enquanto escola de referência na qualificação de profissionais de turismo… mas profissionais preparados para uma ‘novo produto turístico’ que começa agora a dar os seus primeiros passos, em termos de organização e de profissionalização. 

Refiro-me ao turismo de voluntariado, que representa um novo tipo de turismo em crescimento e que é valorizado por um número cada vez mais significativo de indivíduos que, contrariamente aos turistas convencionais, não pretendem apenas conhecer novos destinos a partir das experiências de alojamento em hóteis ou resorts, ou pela mão de guias turísticos que os levam a sair desses hotéis e a conhecer os locais que visitam a partir simplesmente da objectiva de uma câmara fotográfica ou do consumo de souvenirs.

Na verdade começa a haver um número cada vez mais significativo de turistas que querem conhecer as comunidades que visitam de um modo mais profundo e genuíno, estando para isso dispostos a pagar para usar os seus dias de férias em acções de voluntariado por todo o mundo. Acções de voluntariado essas que lhes permitem não apenas contribuir activamente para o desenvolvimento dessas comunidades (por exemplo, ensinando inglês a crianças, transmitindo conhecimentos de informática, auxiliando no restauro de edifícios, ajudando a despoluir margens de cursos de água, organizando workshops artísticos, etc. etc.), como também lhes permitem beneficiar de um conhecimento profundo dos hábitos de vida, comportamentos e práticas de quem ai reside (algo que conseguem pois essas acções de voluntariado muitas vezes permitirem pernoitar e fazer as refeições com as pessoas que residem nas comunidades que estão a visitar). 

Os princípios de desenvolvimento sustentável e comunitário que estão na fundação deste IFRN, assim como a particularidade inerente à proximidade à comunidade indígena nos Catu, que tive a oportunidade de conhecer e onde fui muito bem recebido, bem como de outras comunidades indígenas e de afro-descendes, assim como a proximidade a Pipa que permite que esses turistas de voluntariado possam pontuar a sua estadia com as comodidades de um destino turístico mais convencional, criam condições únicas para que o IFRN de Canguaretama possa vir a tornar-se num verdadeiro Laboratório Vivo de referência, especializado na aprendizagem das competências que devem ser detidas pelos profissionais que irão auxiliar o desenvolvimento deste novo produto turístico: o turismo de voluntariado. 

A tese de doutoramento que a Goretti Alves, minha orientanda, está a elaborar pretende constituir um primeiro momento de reflexão acerca deste potencial.

Para além disso, eu terei a oportunidade de ter uma estadia de trabalho na Indonésia, num período que se prolongará por este mês de Janeiro e Fevereiro, onde o turismo de voluntariado está já muito desenvolvido, e onde irei fazer uma pesquisa acerca desta temática, cujos resultados poderei numa futura oportunidade partilhar convosco, caso considerem pertinente. 

Mas sobretudo gostaria de dar ao Valdelucio e ao Márcio [Márcio Azevedo, diretor acadêmico do Campus], e através de vós a toda a vossa equipa, os meus sinceros parabéns pelo modo como está a ser conduzida a criação deste IFRN. 

Com os melhores cumprimentos,

 

Flávio Nunes".

Conheça o Campus Canguaretama do IFRN