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Conspirando a Favor

Criado para suprir a demanda por mão de obra especializada na industria de confecções na região, Câmpus do IFRN de Caicó deve ajudar a consolidar o programa Pró-Sertão; Curso Técnico Têxtil forma primeira turma no próximo ano

Publicada em 20/08/2013 Atualizada há 1 ano, 3 meses

A maior reclamação dos empresários da área têxtil que atuam no Seridó é a falta de mão de obra qualificada disponível para atuar em suas unidades. A falha se dá pelo histórico da região de não ter a cultura de formar seus trabalhadores através de estudos, mas na lida diária com a máquina de costura. Dividida em bonelarias, facções, oficinas, de bordado e fábricas de redes, a indústria de confecções na região atraiu o Instituto Federal de Educação. Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Hoje, o campus Caicó se encaixa como uma luva às pretensões de crescimento do setor com a chegada do Pró-Sertão.

A escassez de pessoal para as facções que vão se instalar na região foi mostrada na primeira matéria dessa série veiculada pelo NOVO JORNAL. São José do Seridó é o exemplo de uma cidade em que os empregos sobram nas pequenas fábricas, enquanto falta qualificação entre os moradores do município.

Com a vocação tradicional do Seridó para o trabalho de cofecção, o IFRN voltou seus olhos desde a abertura da unidade, em 2009, para a formação de profissionais na área têxtil. O curso de Técnico em Vestuário, na unidade Caicó, é o único do estado e o segundo da região Nordeste.

Já este ano o Instituto entregará a primeira turma, com 40 técnicos, e pretende abrir o curso superior em Tecnologia em Produção Têxtil até o início de 2015, quando estarão concluídas as obras de expansão e abertura de novos laboratórios. Apenas este ano foram investidos pouco mais de R$ 2 milhões, apenas em máquinas, para as aulas práticas do curso.

"O objetivo da interiorização do curso é formar mão de obra qualificada para trabalhar no que a região tem de mais forte no setor econômico. E aqui, com certeza, é a área têxtil", explica o diretor do campus Caicó do IFRN, Caubi Ferreira Júnior.

O diretor destaca que, além dos cursos na área de vestuário, o Instituto também oferece a formação em eletrotécnica. "A indústria seridoense, em especial na parte de confecção, precisa de profissionais que trabalhem nessa parte de manutenção de máquinas, cada vez mais modernas", reforça Caubi.

Muito além dos muros do ambiente acadêmico, o IFRN procura, desde sua chegada ao Seridó, reforçar o diálogo com o mercado de trabalho. "Estamos sempre estabelecendo parcerias com empreendedores de toda a região. A definição dos cursos foi feita através desse diálogo. E alguns de nossos alunos já estão estagiando nas empresas e sendo contratados. Os empresários não querem perdê-los por conta da qualificação. Trazemos um diferencial para o mercado local", analisa o professor e coordenador dos cursos da área têxtil, José Henrique Lima.

O processo de formação em nível técnico na área têxtil conduzido pelo IFRN desde 2009 será um forma de complementar o trabalho projetado pelos próximos quatro anos dentro do Pró-Sertão. O programa foi criado para dar suporte ao plano de expansão do Grupo Guararapes, que irá dobrar o número de lojas da rede Riachuelo até meados de 2017.

O Pró-Sertão entregará um investimento de R$ 40 milhões do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RN), da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern) e do Governo do Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec). Desse investimento, cerca de R$ 32 milhões serão voltados para a qualificação das 20 mil pessoas que irão atuar em 360 novas facções que devem ser abertas, principalmente, no Seridó potiguar.

FORMAÇÃO

A premissa seguida pelas empresas é a de que o funcionário terminará sendo preparado dentro de suas oficinas de costura, com alguns cursos pontuais oferecidos em parceria com algumas entidades públicas ou privadas. E aqueles que mais se destacarem e já possuírem uma longa estrada percorrida no serviço, terminam promovidos a cargos como o de gerência de produção, por exemplo.

A realidade vem sendo alterada com a entrada dos alunos do IFRN ainda em formação nas oficinas das empresas de confecções. E deverá seguir desta maneira com a conclusão de uma série de investimentos nos cursos de área têxtil, que culminará na abertura do curso de Tecnologia em Produção Têxtil, que será o único ofertado pelo "IF" em todo o Brasil, e ainda a instalação do Centro Tecnológico Têxtil na mesma unidade, no bairro Samanaú. "Esse será nosso grande investimento. Teremos uma estrutura completa, que irá desde a tecelagem, passando pela confecção, manutenção de máquinas e modelagem dos tecidos. Assim como os laboratórios têxteis. O aluno sairá pronto para atuar em qualquer nível", aponta o coordenador José Henrique.

DE SÃO PAULO PARA O SERIDÓ


A ideia dos gestores do IFRN em Caicó é integrar a instituição de ensino cada vez mais com as necessidades mercadológicas. "Temos cinco laboratórios a serem concluídos até o fim do ano. A nossa ideia é de certificar esses laboratórios para dar suporte ao empresariado", destaca o professor Edson Bottini.

O paulistano é uma referência dentro do curso e até fora dele por sua experiência na área têxtil. Após mais de dez anos trabalhando com consultorias por todo o Seridó, conhece os empresários pelo nome. "Mas agora que saí do mercado, vou me dedicar ao mestrado e emendar um doutorado", ressalta Bottini.

Integrado ao curso desde seu início, ele considera importante a integração do trabalho feito nas empresas com o que é ensinado nas salas de aula. "Teremos laboratórios que servirão diretamente para as empresas. Poderemos ver se o tecido com que elas trabalham é mesmo o correto, por exemplo.  Será um avanço", destaca ele.

Entusiasta do setor, onde trabalha desde 1977, o engenheiro têxtil chegou ao Rio Grande do Norte para colaborar na montagem da fábrica da Vicunha Têxtil, no Distrito Industrial de Extremoz. Ao fazer consultorias na região, Edson Bottini resolveu trocar a correria da capital paulista pelo Seridó, onde tinha trabalho e "qualidade de vida". Depois, virou professor do IFRN de Caicó, onde passa toda a semana, voltando para Natal apenas nos fins de semana. "A região tem condições de crescer demais junto a este projeto de expansão da Guararapes. Ainda mais pela tradição no setor", aponta.

ALUNAS JÁ DEMONSTRAM DESEJO DE EMPREENDER


Gercivânia e Rayane são duas das alunas mais destacadas do curso de vestuário do campus seridoense do IFRN. Ambas moradoras de Caicó e integrantes da primeira turma aberta pelo Instituto, elas conseguiram receber até bolsa como monitoras do curso pelo desempenho nas salas de aula e nas máquinas de costura onde aplicam o conhecimento, criando roupas que servem de modelo para a escola.

Costurando uma ao lado da outra, elas não perdem a concentração sequer durante a concentração sequer durante a conversa com a reportagem, na sala onde estão instaladas as máquinas do Instituto Federal. Os olhos focados na agulha que cose o tecido revelam a importância que dão ao trabalho.

Funcionária pública, Gercivânia Noronha de Oliveira nunca tinha trabalhado com confecções antes de ser aluna do IFRN. Ela afirma já ter plena noção do que vai fazer quando receber o diploma de técnica em vestuário, no primeiro semestre do ano que vem. Apesar das oportunidades que deverão surgir nos próximos quatro anos, com a abertura de 360 facções, Gercivânia não se interessa apenas por um emprego. "Sei que quero ganhar dinheiro com confecções. Temos plenas condições para isso aqui na região. Por isso quero empreender, abrir meu próprio negócio. Ou mesmo passar para algo ligado à área dentro do serviço público mesmo", pontua ela.

Apesar de satisfeita e ter se encontrado no curso, Rayane Fernandes também quer mais. Com apenas 20 anos, a jovem já recebeu convites de várias empresas de confecção, mas decidiu focar nos estudos. "De início não queria, não tinha interesse na área de confecções. Mas como estava parada, sem trabalhar, decidi cursar, já que não nunca tinha costurado antes. E encontrei meu futuro na área de confecções", revela Rayane.

E o curso técnico não é, para ela, o limite, já que pretende se especializar cada vez mais na área. "Quero começar em alguma confecção, uma facção mesmo. Depois vou tentar o curso superior e aproveitar o crescimento do mercado", planeja a jovem.

REFERÊNCIA
NASCIMENTO, Paulo. Conspirando a Favor (Especial O Futuro da Indústria Potiguar). Novo Jornal, Natal, p. 8, 14 ago. 2013.

Palavras-chave:
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