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CRÔNICA

A cidade e o desejo molhado

Croniquinha de uma tarde de chuva

Publicada em 20/03/2013 Atualizada há 1 ano

André Alves


Ela surgiu de repente, tímida, e foi se insinuando de forma bem vagarosa até completar o jogo da sedução. Ao invés de resfriar os ânimos e acalmar os instintos, os acentuou, e cheia de volúpia envolveu completamente quem tanto a aguardava. O campo de futebol, sedento, recebeu-a ávido e os seis minguados atletas de ocasião improvisaram um tortuoso balé.

Era final de tarde, hora na qual religiosos preparam-se para o ângelus, amantes antecipam a imaginação para os segredos noturnos, trabalhadores aguardam impacientemente o passar dos minutos e a terra ressequida se revolve na angústia da saudade daquilo que a enverdece.

Então ela se deixou cair e, de tão mansa, encheu-se de ardor, o mesmo ardor de quem se encontra tomado pela ansiedade e não resiste ao chamamento da fusão de sentimentos. A cidade recebeu-a como quem se despede de uma condição nunca desejada e abriu-se, pronta, para a inseminação.

Era Dia de São José, o santo da esperança sertaneja, data de desejos de realidades molhadas. Ela, uma chuva tesuda, de tão feliz estourou um foguetão à guisa de raio e trouxe uma breve falta de energia elétrica.

Talvez para apimentar mais ainda a saudade que uma cidade chamada Caicó sentia dela.

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