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Gestores da rede federal lançam carta sobre cenário educacional brasileiro

Documento foi lançado durante a 40ª Reditec, quando o professor Belchior Rocha recebeu comenda alusiva a trabalho desenvolvido na Rede

Publicada em 27/09/2016 Atualizada há 1 ano

Parte da comitiva do IFRN na 40ª Reditec

Realizada no período de 23 a 27 de setembro, a 40ª Reunião dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Reditec) se encerrou com a leitura da Carta de Vitória, em que os dirigentes da Rede refletem e se posicionam a respeito do cenário educacional brasileiro. A Reditec deste ano aconteceu em paralelo ao Congresso Internacional WFCP. O congresso discutiu até este domingo (25) o tema "O papel da educação profissional no século 21".

A 40ª Reditec foi sediada em Vitória, organizada pelo IFES, com a participação de 30 gestores do IFRN, entre eles, o reitor Wyllys Farkatt Tabosa, pró-reitores e diretores-gerais. Além deles, participou também o professor Belchior de Oliveira Rocha, que recebeu a Comenda Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como reconhecimento pelo trabalho desenvolvido na Rede. 

Belchior foi reitor do IFRN no período de 2008 a 2016, quando aconteceu a maior expansão da Instituição pelo interior do Rio Grande do Norte. Até 2006, o Instituto possuía 2 unidades de ensino, hoje, são 21 campi, além da Reitoria e da Unidade das Rocas, vinculada ao Campus Natal-Cidade Alta. O professor também ocupou o cargo de presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de de Educação Profissional e Tecnológica (Conif) na gestão de 2015.

"Agradeço a oportunidade que tive de conduzir aquela casa de educação, aquela comunidade acadêmica, aos gestores do Conif, do qual eu tive a honra de ser seu presidente", comentou o professor. 

Outra importante participação dos gestores do IFRN na reunião da Reditec foi da diretora-geral do Campus São Gonçalo, Marilac de Castro. Ela realizou a leitura das proposições das Instituições do Nordeste para a Rede Federal. As proposições abordaram a necessidade de outros eventos para compartilhamento de experiências, a capacitação dos servidores e a necessidade de implantação do técnico-administrativo substituto, orçamento, internacionalização, projetos e programas e educação a distância. Quanto aos programas, a proposição é que o Mulheres Mil, de relevância social reconhecida, seja desatrelado do Pronatec. Já em relação à educação a distância, a sugestão é a de que todos os Institutos Federais passem a contar com um Campus EaD, assim como acontece no IFRN.

Durante a 40ª Reditec, o diretor-geral do Campus Canguaretama ainda apresentou o trabalho "Fatores que Afetam o Apoio dos Residentes ao Desenvolvimento do Turismo em Comunidades Indígenas e o Emponderamento da Comunidade Local: um estudo no Catu dos Eleotérios" como exemplo de experiência exitosa na área de pesquisa na Rede Federal. No total, foram apresentadas 40 experiências nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e gestão. Nesta quarta, pró-reitores participam ainda dos fóruns representativos da sua área, enquanto o reitor Wyllys Farkatt participa de reunião do Conif.

Leia a Carta de Vitória:

A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, integrada por instituições multicampi e pluricurriculares situadas em todas as regiões brasileiras, é composta por mais de 650 unidades, em 568 municípios, que executam amplo espectro de políticas públicas educacionais, focadas no mundo do trabalho e na perspectiva humanística, cuja concepção prioriza a inclusão social e a formação integrada de mais de um milhão de jovens e adultos, em toda diversidade, em especial, os menos favorecidos.

Nós, reitores, pró-reitores e diretores gerais, durante a 40ª Reunião dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica – REDITEC, realizada em Vitória-ES, no período de 23 a 27 de setembro de 2016, preocupados com a sua solidez, nos posicionamos ante os últimos fatos inerentes ao cenário educacional brasileiro, em especial a educação pública e gratuita, os quais, adiante assinalados, enfraquecem os fundamentos dessa rede.

1. Edição da MP 746. Reformula o ensino médio brasileiro.

Tal medida requer amplo debate envolvendo a sociedade. O uso de medida provisória fere o princípio de construção coletiva e o protagonismo da sociedade na formulação das políticas de interesse coletivo. 

Ademais, a MP marginaliza disciplinas de base humanística, retrocede a formação integral de nossos jovens e adultos e ainda precariza o ensino, ao permitir o reconhecimento do “notório saber” para o exercício da docência.

2. PEC 241. Fixa limites de investimentos.

Restringir investimentos na manutenção e expansão da rede, desvincular percentuais constitucionais obrigatórios e abolir a destinação do percentual de 10% do PIB são ações que ferem a garantia do direito à educação pública e gratuita. 

Há nítida contradição entre a MP 746 e a PEC 241, uma vez que a oferta de educação em tempo integral indicada na MP requer investimentos e não cortes. Além disso, entra na contramão, também, da formação humana integral ao romper a intrínseca relação entre a formação geral e a profissional, as quais estão na base da Educação Profissional, Técnica, Científica e Tecnológica da Rede Federal.

3. PL 257. Cortes de direitos trabalhistas.

Subtrair direitos dos trabalhadores representa um descompasso com a prioridade que requer a educação de qualidade aos brasileiros.

4. Quadro Orçamentário e Financeiro de 2016.

O funcionamento da rede está prejudicado, no ano em curso, em face dos cortes e da não liberação de limites orçamentários, impondo um quadro de insegurança institucional.

5. LOA 2017. A LOA não garante a fixação da matriz atual acrescida da incidência do IPCA, para assegurar o funcionamento da rede, como propõe o CONIF.

Ainda que tenhamos ciência da necessidade de melhorias no sistema educacional brasileiro, estas somente podem ser efetivadas com a ativa participação de toda a sociedade brasileira, em um diálogo contínuo e responsável com todas as instâncias de representação legítima do campo educacional. Além disso, reafirmamos os direitos trabalhistas e a necessidade de se garantir o financiamento da educação, na perspectiva da qualidade socialmente referenciada.

Nesse contexto, reafirmamos nosso posicionamento em defesa da educação como bem público e um direito de todo cidadão brasileiro, e entendemos também que a Rede precisa ser vista como política de Estado, transcendendo a quaisquer governos.

A sociedade brasileira precisa se colocar contra essas medidas que representam um retrocesso ao desenvolvimento humano sustentável no nosso país, pois, como falou Paulo Freire, “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”

Vitória, 26 de setembro de 2016.

40ª Reunião dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica – Reditec

Acesse aqui a Carta de Vitória em PDF.