PANDEMIA
"Quando era tudo pela internet, ficava com atividades atrasadas, por não ter internet em casa"
Conheça as dificuldades que a graduanda Monaliza enfrenta
Publicada em 27/05/2020 ― Atualizada em 30 de Março de 2023 às 07:02

Se o IFRN optasse hoje por retomar as aulas de forma online, você
teria como acompanhar?, perguntamos. “Não, porque não tenho internet em
casa. Só tenho acesso quando estou na cada da minha mãe”, responde
Monaliza Marcelino de Oliveira.
A estudante mora no Sítio Lages, zona rural de Portalegre. Com
32 anos, iniciou em 2019 o Curso de Licenciatura em Química no Campus Pau
dos Ferros. Antes da pandemia a Covid-19 provocar a suspensão das atividades
presenciais no IFRN, sua rotina de estudos já era desafiante em razão da falta
de acesso à internet, por não ter computador, e da situação econômica da família.
A estudante mora com o esposo e dois filhos. A renda
familiar vem do programa governamental Bolsa Família. O complemento que recebe
hoje é do Programa de Assistência Estudantil mantido pelo IFRN. Monaliza é bolsista
da Biblioteca, onde conseguia a maior parte do material necessário para os seus
estudos. A renda familiar mensal, portanto, é menor que um salário mínimo. “Para
estudar em casa, eu pedia o material impresso ou pesquisava nos livros
emprestados da biblioteca. Quando era tudo pela internet, ficava com tarefas
atrasadas”, explicou.
Sua rotina antes do IFRN era cuidar da casa e dos filhos.
Monaliza destaca que fez o processo seletivo para o Instituto por ser uma
instituição com “uma boa estrutura, com profissionais aplicados”. Ao iniciar os
estudos na licenciatura, viu suas perspectivas se ampliarem: “pretendo me
especializar na área”, comenta.
Não é possível ver a expressão de Monaliza ao afirmar isso.
Em razão do distanciamento social e das suas dificuldades para acessar a
internet, a conversa com ela foi através de mensagens de texto. A estudante só
consegue responder as perguntas nos dias em que vai à casa da mãe, na zona
urbana. Ainda assim, a qualidade do sinal é fraca, o que impede uma chamada de
vídeo. Diante desse contexto, o diretor geral pro tempore do
Campus Natal-Zona Leste, professor José Roberto, questiona: como desenvolver o
processo de ensino-aprendizagem sem tecnologias que permitam uma real interação
entre estudante e professor?
O Campus é especialista em Educação a Distância no IFRN. José
Roberto, também pesquisador da área, reforça que é necessário pensar a
realidade de Monaliza a fim de que se desenvolvam estratégias de planejamento e
de execução de aulas a distância. Ele lembra ainda que são essenciais:
qualificação profissional, políticas de acesso, além de metodologia e conteúdos
próprios à modalidade.
O ACESSO A TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO (TICs)
Aproximadamente 64% dos estudantes do IFRN não possuem computador de
mesa (desktop) em casa, enquanto 43% não possuem notebook. Além disso,
36% deles afirmam não ter acesso à internet diariamente. Os dados foram
extraídos do Suap - sistema administrativo e acadêmico da Instituição.
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26/05/2020: ''Temo todos os dias. Não sei como teria acesso''.