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Campus promove roda de conversa sobre resistência indígena no RN

Um dos convidados é o cacique Luiz Katu, diretor da primeira escola para índios do estado

Publicada em 19/04/2018 Atualizada há 1 ano

Comunidade do Katu, da qual Luiz faz parte, está localizada entre os municípios potiguares de Canguaretama e Goianinha

O Campus promove, na próxima quinta-feira (26), a partir das 14h50min, no auditório, uma roda de conversa com o tema "Resistência Indígena no RN, lutas e conquistas". O bate-papo vai contar com a participação do cacique José Luiz Soares, o Luiz Katu, e a aluna do IFRN Meyriane Costa de Oliveira.

"Nesta ação vamos ter a chance de discutir a questão indígena no estado e estreitar laços entre os campi Natal - Zona Norte e Canguaretama, município em que está situada a comunidade do Katu. O local é sede da única escola indígena do Rio Grande do Norte", explicou o professor Evaldo Pulcinelli, coordenador da iniciativa. 

A roda de conversa está sendo organizada pelo Neabi – Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas do Campus, um espaço em formação, cujo propósito é discutir as relações étnico-raciais na sociedade brasileira, buscando fomentar estudos, pesquisas e extensão, a partir do desenvolvimento de programas e projetos em diversas áreas do conhecimento.

 

Luiz Catu, diretor da 1º escola indígena do RN

Conhecido por Luiz Katu, José Luiz Soares é cacique da comunidade indígena de Katu dos Eleotérios – entre Goianinha/RN e Canguaretama/RN – e foi o primeiro diretor da escola indígena do Rio Grande do Norte – Escola Municipal João Lino da Silva, localizada em Canguaretama, onde é professor de etno-história. Além disso, é membro titular do Conselho Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Nordeste

Com ensino integral, as crianças chegam às 7h da manhã e voltam para casa às 16h, após três refeições. A unidade conta com biblioteca e laboratório de informática. Com a etno-história, os alunos têm a oportunidade de aprender um pouco da história de mais de 200 tribos que existiram pelo Brasil. Para auxiliar o conhecimento dessa disciplina, a escola tem uma briquedoteca. O tupi tem iniciação com as palavras que já são usadas no dia a dia de qualquer brasileiro, como siri, jacaré e pixana (gato).

"Sabendo que estávamos dentro de uma aldeia, que éramos potiguara e que na educação estava vindo professores de fora, a gente não estava aceitando essa realidade. A gente queria que o nosso conhecimento chegasse a nossas crianças e fosse perpetuado", revelou o cacique.

 

Meyriane: desafios para através do estudo realizar sonhos 

A indígena de Katu Meyriane Costa de Oliveira, 38 anos, sabia que realizar o sonho de cursar uma graduação não seria fácil, mas resolveu enfrentar os desafios: de segunda à sexta-feira, à noite, atravessa um rio e pega dois ônibus para chegar ao Campus Canguaretama. Aprovada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2017, ela é estudante do curso de licenciatura em Educação no Campo.

Primeira indígena de Katu a cursar graduação, Meyriane despertou o desejo de estar dentro da sala de aula quando foi selecionada para ingressar no programa Mulheres Mil. “Em 2015, o IFRN procurou a nossa liderança e ofereceu o programa às mulheres que mais estavam precisando de ajuda na época. Eu e mais três fomos selecionadas para cursar Agricultura Familiar. E o curso superou minhas expectativas: mostrou que tínhamos que amar uns aos outros e também que era possível vencermos várias etapas na vida”.

Ao lado das outras três mulheres da comunidade selecionadas para o programa, Meyriane passou seis meses fazendo um percurso tão intenso quanto o de atualmente: três vezes por semana atravessava o Rio Catu, pegava ônibus e depois caminhava por 30 minutos sob o sol até chegar ao destino. Ela afirmou que dar conta do trajeto não é nada fácil, principalmente em época de chuva. No entanto, isso nunca foi um empecilho para realizar os sonhos e planejar o futuro.

“Estou me sentindo muito realizada. Pretendo cursar mestrado quando terminar a graduação. E eu tenho uma real preocupação com a educação no campo. Meus pais são meus exemplos. Os dois são pescadores e durante minha vida acompanhei as dificuldades deles até conseguirem a aposentadoria. Antes mesmo de ingressar no Mulheres Mil e na graduação, eu já estava confiante. Mas, há três anos, quando entrei no programa, me senti empoderada mesmo não acreditando que iria conseguir”, disse.

A estudante ainda lembrou que, para assegurar os direitos das índias, é preciso garantir a demarcação territorial. “Como vamos garantir alimentação e uma vida social para a nossa comunidade se não existir esse limite? Vale lembrar que a mulher tem papel importante nesse contexto, porque passa mais tempo com os filhos, então precisamos levar a educação para eles. Para isso, é necessário termos esse espaço”.