As múltiplas relações e implicações entre educação e trabalho na contemporaneidade foi o tema que perpassou a fala da Prof.ª Dr.ª Acácia Kuenzer, da Universidade Feevale/RS, ontem (15) à noite, na aula inaugural das turmas de mestrado e doutorado em Educação Profissional (PPGEP), do IFRN. 

Na abertura, discursaram, pela Reitoria do IFRN, o reitor, Wyllys Abel Farkatt Tabosa, e os pró-reitores de Pesquisa e Extensão, respectivamente, Márcio Adriano de Azevedo e Thiago Loureiro; pelo Campus Natal-Central, discursaram o diretor geral, José Arnóbio de Araújo Filho, a diretora de Ensino, Luzimar Barbalho e o coordenador de Educação Superior (COESUP), Moisés Nunes da Silva.

Na sua fala inicial, Acácia Kuenzer apresentou uma série de indicadores que mostram um crescente quadro de vulnerabilidade social da juventude brasileira. Jovens que não estudam nem trabalham, com impacto maior entre aqueles com idade de 14 a 29 anos, mulheres, pardos e negros. A pesquisadora também mostrou índices que revelam uma queda nas matrículas da educação básica, mais severa no ensino médio, embora, no último ano, tenha havido um aumento nas matrículas da educação profissional integrada, dado que ela atribuiu à interiorização dos Institutos Federais.

Segundo Acácia Kuenzer, o regime de acumulação do capital no qual vivemos é marcado pela lógica da flexibilização, que fragmenta a produção em cadeias produtivas, integra distintas formas de contratação e subcontratação, reduz salários, promove um desemprego estrutural e a desmobilização sindical. Para a escola, o resultado dessas novas relações de trabalho tem se traduzido numa educação do tipo “pragmático utilitarista”, que, no seu entender, substitui a totalidade do conhecimento pela fragmentação, não favorece a formulação do pensamento integrado, e por meio da qual o sujeito perde a capacidade de reflexão e crítica.

Diante desse quadro, a professora defende que “não há o que mexer no ensino médio integrado. Foi ele que integrou a formação humana com a ciência e a tecnologia. Um ganho construído historicamente com o suor de nossas lutas. Precisamos defender esse modelo e expandi-lo para toda a classe trabalhadora. Temos que brigar pela formação científico-tecnológica e humanística de qualidade”, argumentou. A defesa do ensino médio integrado à educação profissional coincide com o atual momento vivido pelo IFRN de revisão da oferta dos seus cursos técnicos integrados, cuja proposta de redução da carga horária - de quatro para três anos - constitui o ponto mais polêmico dos fóruns de avaliação realizados, este semestre, pela Pró-Reitoria de Ensino. 

A aula da professora Acácia Kuenzer marcou o início das atividades acadêmicas do primeiro curso de Doutorado do IFRN, que também é a única pós-graduação stricto sensu em Educação oferecida pela Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica do país. Submetido à CAPES em 2018, o Doutorado Acadêmico em Educação Profissional teve seu funcionamento autorizado em dezembro último. A aprovação do curso representa mais uma conquista para o Programa de Pós-graduação em Educação Profissional (PPGEP), cujo mestrado, iniciado em 2013, obteve o conceito 4 em sua primeira avaliação feita pela CAPES (quadriênio 2013-2016). 

De acordo com o coordenador do PPGEP, prof. Mateus Nascimento, o programa conta com 70 dissertações concluídas, 45 mestrandos em curso e 10 doutorandos, distribuídos em três linhas de pesquisa: Políticas e Práxis em Educação Profissional, Formação Docente e Práticas Pedagógicas e História, Historiografia e Memória da Educação Profissional. 

 Além do público presente no auditório, de cerca de 300 pessoas, outras 200 acompanharam a transmissão ao vivo da aula inaugural, numa parceria entre os campi Natal-Zona Leste e Natal-Central, pela página da Coordenação de Tecnologia de Informação e Comunicação (COTIC), no Youtube.

Sobre a palestrante

Acácia Kuenzer é docente do Programa de Pós-graduação em Diversidade e Inclusão Social da Universidade Feevale/RS, possui doutorado em Educação pela PUC/SP e é professora aposentada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tem experiência de pesquisa em diversos temas: educação e trabalho, educação profissional, educação tecnológica, formação de professores, ensino médio integrado e formação inicial e continuada de trabalhadores.