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ENTRE OS 50 MELHORES

Prof. Gerardo Júnior concede entrevista resgatando suas conquistas na 5ª ONHB

A classificação, pela Unicamp, do plano de aula elaborado pelo professor entre os 50 melhores do Brasil foi uma dessas conquistas.

Publicada em 28/05/2014 Atualizada há 12 meses

Na 5ª edição da Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) foi ofertado aos professores-orientadores um Curso de Formação Continuada no Ensino de História da África. Ao final do referido curso, os professores tiveram que elaborar um plano de aula que contemplasse um dos tópicos estudados durante o curso.

Na ocasião, mais de 500 professores de História de todo o Brasil participaram dessa atividade. José Gerardo Bastos da Costa Júnior, representando o IFRN – Campus Mossoró, escolheu como tema: A “Reconfiguração da Identidade do(s) Povo(s) Sul-Africano(s) no Período Pós-Apartheid” e o plano de aula desenvolvido por ele foi classificado entre os 50 melhores do Brasil.

O resultado dos 50 melhores planos de aula do curso foi anunciado pela Unicamp, após uma banca formada por professores de História de várias universidades do Brasil – tais como Unicamp, UFF, UFRGS, UFSC, UFOP, UFE – haver feito a escolha dos melhores temas. Em breve, a Unicamp disponibilizará, no site da ONHB, os planos de aula classificados, em uma publicação coletiva que poderá ser vista no endereço <www.olimpiadadehistoria.com.br>.

A proposta do plano de aula de Gerardo Júnior consistia em analisar a reconfiguração da identidade dos povos sul-africanos no período pós-apartheid (a palavra apartheid significa “vida separada”).  Apesar da segregação racial na África do Sul ter iniciado ainda no período colonial, o apartheid foi introduzido como política oficial na África do Sul após as eleições gerais de 1948. A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais, isto é, "negros", "brancos", "de cor", e "indianos", segregando até as áreas residenciais, muitas vezes mediante remoções forçadas. A saúde, a educação e outros serviços públicos também foram segregados pelo governo, que ainda fornecia aos negros serviços inferiores aos dos brancos.

Em relação ao período pós-apartheid, “o governo de Nelson Mandela foi perspicaz na condução de ações que buscavam evitar esse rastro de desigualdade social”, explica Gerardo Júnior. Nelson Mandela destacou-se como liderança no Congresso Nacional Africano (ANC), defendendo a resistência não violenta ao apartheid. Acusado de traição em 1962, foi preso em 1964 e condenado à prisão perpétua. Na cadeia, tornou-se símbolo da luta dos negros contra a opressão. Libertado em 1990, após ficar preso por 27 anos, Mandela se elegeu, em julho de 1991, presidente da ANC, a qual representou durante as turbulentas negociações que estabeleceram os direitos dos negros. Em 1994, nas primeiras eleições multirraciais da África do Sul, foi eleito presidente, governando até 1999, quando Thabo Mbeki o sucedeu. “Ele poderia ser reeleito, mas não quis, preferiu sair da política, porque acreditava que a sua função já havia sido cumprida durante os cinco anos que passara no poder”, complementa o professor.

Mandela não pregava a vingança. Ao contrário, pregava a igualdade social, a democracia, valores construtivos. Ele não foi eleito para vingar os negros, mas para tentar conduzir a sociedade de forma igualitária e construir um marco democrático entre os sul-africanos.

O esporte foi a grande investida de Nelson Mandela, que o usou como estratégia para juntar os povos, para englobá-los. “Ele teve a perspicácia de perceber, mesmo que de forma simbólica, o quanto era importante a atitude de juntar, por meio do esporte, as pessoas de uma sociedade que estava dividida em praticamente tudo. Porque, “se não houvesse essa investida do governo, uma estratégia política, é claro, a identidade nacional de juntar brancos e negros, mesmo que voluntários, talvez nunca tivesse existido”, esclarece o professor. A minoria da sociedade geralmente é esquecida pelo governo, mas Nelson Mandela agiu diferentemente.

Assim sendo, o esporte contribui positivamente para o período pós-apartheid, pois, nesse contexto, ele mostra solidariedade. “Eu chamo isso de reconfiguração na identidade dos povos. Todavia, necessita-se observar até que ponto o esporte foi marcante para essa reconfiguração”, acrescenta Gerardo Júnior. O maior marco de Mandela em relação ao esporte foi o fato de ele haver conseguido levar a Copa do Mundo de 2010 para a África do Sul.

Após a morte de Nelson Mandela, a questão do racismo, a reconfiguração do povo após o apartheid, ganhou força. Essa é uma temática que tem sido constantemente trabalhada, justamente por causa da polêmica entre negros e brancos sul-africanos, o que acabou dando origem à sociedade dividida, marcada pela segregação, na qual negros queriam se vingar dos brancos e, ao mesmo tempo, estes não aceitavam essa condição. Um quadro de desigualdade social que marcou a identidade sul-africana.

A segregação africana e suas respectivas questões sociais serviram de base para a escolha do tema do professor Gerardo Júnior para o desenvolvimento do seu plano de aula da 5ª ONHB, porque “é muito importante para a sociedade discutir a questão de raça (etnia), de democracia e de poder”, comentou Gerardo Júnior.

O professor explica, ainda, a importância dos alunos poderem participar de olimpíadas de conhecimentos. Participar da ONHB, por exemplo, não é obrigatório, mas todos são convidados, tanto os que sabem quanto os que não sabem História, pois o objetivo é estimular os estudantes a estudarem mais e de forma espontânea, e essa meta tem sido alcançada, pois “já foi confirmado através de análises que os alunos que participam e chegam ao final da ONHB chegam a estudar aproximadamente 15 horas semanais”, explica o profº Gerardo Júnior.

Percebe-se que essa é uma metodologia de estudo que tem dado certo, pois, ao mesmo tempo, prepara o aluno para a Olimpíada, para o Enem ou qualquer outra prova a que ele venha ser submetido. Ainda de acordo com o referido professor, os alunos fazem todas as atividades sozinhos, cabendo a ele apenas orientá-los. A esse respeito, ele brinca: “Eu ensino a pescar, mas a forma como eles vão fisgar o peixe, aí é com eles!”

O diferencial da ONHB é que “a Olimpíada é um excelente instrumento de aprendizagem, ela não está querendo somente testar o conhecimento do aluno, ela está realmente fazendo com que os alunos se apaixonem por História, estimulando-os a não decorar, mas aprender de forma lúdica”, esclarece Gerardo Júnior. E todo esse esforço tem contribuído para vitórias consecutivas:  faz três anos que o Campus Mossoró é classificada como a instituição educacional com o maior número de medalhas na ONHB, em 2011, 2012 e 2013. E, “se depender do nosso esforço, empenho e dedicação, este ano não será diferente, temos tudo para sair de lá com um excelente desempenho outra vez”, fala entusiasmado o professor. As repetidas conquistas das equipes da ONHB têm sido exemplos para outros professores incentivarem e prepararem melhor seus alunos para outras olimpíadas.

Outra conquista de José Gerardo Bastos da Costa Júnior aconteceu no mês de abril, quando ele elaborou três dossiês (coletânea de textos) para antecipar a preparação dos alunos. Coincidentemente, um dos temas abordados nesse material foi definido, pela Comissão Organizadora da 6ª ONHB, como o Tema Gerador da Olimpíada de História deste ano. No momento, 43 equipes estão classificadas para a semifinal da 6ª ONHB.

Fonte: José Gerardo Bastos da Costa Júnior, professor de História do IFRNMO.