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Despedida

Ariano Suassuna, Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves são homenageados pelos Professores de Língua Portuguesa

Todos os anos, a encenação de O Auto da Compadecida e outras obras de Suassuna constitui atividade da disciplina. Professores e alunos do Campus Mossoró lametam essa inestimável perda.

Publicada em 24/07/2014 Atualizada há 1 ano

Em cartazes espalhados pelos Campus, professores e alunos do Campus Mossoró expressaram seu pesar pelo falecimento de Ariano Suassuna:

"O Brasil perdeu uma grande referência da cultura brasileira. Escritor, dramaturgo e poeta, Ariano Suassuna foi capaz de traduzir o jeito brasileiro de viver em livros como O Santo e a Porca, Casamento Suspeitoso, Auto da Compadecida e outras obras tão apreciadas. Vamos guardar em nossas lembranças os momentos em que apresentamos, com muito orgulho e entusiasmo, as peças que ele escreveu. Suas obras fazem parte de nossa história, visto que são apresentadas pelos nossos queridos alunos todos os anos."

Em texto completo, os professores lamentaram a perda recente de três grandes nomes da Literatura Brasileira: Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves.  Segue o texto na íntegra:

Palavras breves pela perda dos mestres João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna

              Desde sexta-feira, sentimos o mundo ficar mais pobre e o céu ficar mais rico. Emocionamo-nos em saber que grandes homens, como João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e, agora, Ariano Suassuna, não mais pensarão a humanidade, com suas sensibilidades. Tão suas. Tão próprias. Tão nossas. Certamente, uma ou outra lágrima descem, furtivas, intensas, salgadas: vivas, ao perdermos pessoas que, como eles, realmente tinham e sabiam o quê e o como dizer.

              Não há como não nos sentirmos meio que órfãos, quando perdemos autores que nos fazem, cada qual com a sua a arte, com seu estilo ímpar (por vezes, sutil, por vezes agressivo), refletir sobre o que somos, sobre o que queremos e sobre o que fazemos para mudar o nosso modo de ver e viver a vida, transformando-a para além do que nos é imposto como verdades.

              Nós, membros da comunidade escolar do IFRN/Campus Mossoró, tornamos pública a tristeza pela ausência desses homens que, há anos, nos educam, nos mostram o quanto temos de “Joões Grilos” e “Chicós”. E é isso que chamamos de brasilidade, brasilidade esta que exploramos, ao longo dos anos, e que continuaremos a explorar, aqui no nosso Campus, em nossas salas de aula, em nossas exposições, em nossas peças teatrais, em nossas vidas, enfim.

              Em O que é literatura?, Jean Paul Sartre fala da imagem do prosador, daquele que, movido por uma consciência crítico-social, dá voz àqueles que não a têm, silenciados pela pobreza, pela miséria, pela falta de educação, como tantos que, aos milhares, constituem a geografia brasileira. Como prosadores do “Brasil, como ele é” (em referência ao também saudoso Nelson Rodrigues), Ubaldo, Alves e Suassuna fizeram de suas artes um modo de formação e de transformação de consciência, e de seus ofícios, nos aproveitamos, como princípio-motor, para o nosso fazer pedagógico.  

              Obrigado, mestres. Recebam, finalmente, as nossas palavras, poucas, é verdade! Mas sinceras e gratas, por nos proporcionarem material tão rico e fecundo no processo formativo de muitas e muitas gerações, que, com certeza, rirão e se emocionarão muito com tipos como o Chicó, a lamentar a morte do Grilo (e de nossos mestres na arte e na vida):

João! João! Morreu! Ai, meu Deus, morreu pobre de João Grilo! Tão amarelo, tão safado e morrer assim! Que é que eu faço no mundo sem João? João! João! Não tem mais jeito, João Grilo morreu. Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Que posso fazer agora? Somente seu enterro e rezar por sua alma. (SUASSUNA, Ariano.)

              Que a Compadecida os guarde! Amém.